
Nova exposição celebra futebol sul-americano e paixão pelo esporte
Com a curadoria de Luiza Romão, Matias Pinto e Gisele de Paula, a mostra '¡Cancha Brava!' mergulha no fascínio e nas disputas que fazem do futebol um espetáculo único na América do Sul
A partir desta sexta-feira (17), o Museu do Futebol ultrapassa as fronteiras do Brasil e mergulha no universo do futebol sul-americano com a exposição temporária ¡Cancha Brava! Futebol sudamericano en disputa.
A mostra propõe uma imersão nas histórias, conquistas e contradições dos países que integram a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), revelando como o esporte se tornou uma das expressões culturais mais potentes do continente.
A curadoria, assinada por Luiza Romão, Matias Pinto e Gisele de Paula, conduz o público por um percurso histórico, político e poético sobre o subcontinente, com instalações audiovisuais, paisagens sonoras, experiências interativas, fotografias e obras criadas especialmente para a exposição.
Um título que carrega ancestralidade e paixão
Como o nome indica, a exposição é bilíngue, explorando o encontro entre o português e o castelhano. ¡Cancha Brava! é um retrato do futebol sul-americano feito de paixão e identidade.
“A palavra ‘cancha’ já traz consigo uma ancestralidade, uma memória indígena que antecede o próprio futebol. E quando unimos a ela a ‘brava’, ganhamos a força do modo sul-americano de viver o jogo: intenso, vibrante, coletivo e, muitas vezes, conflituoso”, explica a curadora Gisele de Paula.
“Esse título expressa não uma essência fixa, mas um jeito particular de transformar o futebol em parte da nossa cultura”.
A curadora Luiza Romão destaca o papel do futebol como espelho social e político do continente. Segundo ela, o esporte “revela tanto o que nos aproxima quanto o que nos singulariza”, e também foi apropriado por regimes autoritários, que transformaram estádios em espaços de propaganda e repressão.
“A história do futebol sul-americano é feita de tensões, mas também de festa, paixão, música, poesia e arte”, resume.

Futebol como resistência e memória coletiva
¡Cancha Brava! celebra o futebol como invenção coletiva e espaço de resistência. A exposição propõe uma reflexão sobre como o jogo é atravessado por temas estruturantes da América do Sul — colonialismo, racismo, desigualdade, autoritarismo e violência — convidando o público a entrar em campo com a memória, o afeto e a luta dos povos que resistem jogando.
A mostra se organiza em seis eixos temáticos: “Roubar la Pelota”, “Um século de fiesta y rivalidade”, “Interlúdio”, “Jogo Sucio”, “Aqui estamos pa’ que te recuerde” e “Carnaval Toda la Vida”.
Logo na entrada, uma instalação sonora interativa convida o visitante a girar um dial de rádio gigante e escolher um dos dez países da região. Ao selecionar uma “estação”, o mapa correspondente se ilumina e uma voz — em português, mas com sotaque castelhano — narra informações sobre demografia, geografia e futebol local, acompanhadas por músicas típicas.
São vozes de locutores e pessoas comuns nascidas em diversos países, hoje residentes no Brasil, e que colaboraram na produção da mostra.
No espaço central, uma arquibancada recria o clima das torcidas sul-americanas. O público poderá sentir a vibração dos cantos de 25 torcidas diferentes, sincronizados a um mecanismo que faz o chão tremer ao ritmo da festa.
Obras inéditas e experiências sensoriais
Entre as obras inéditas, destaca-se o mural “Un siglo de fiesta y rivalidad”, assinado por Marina Ceglie e Cleber TTC, com mais de 180 personagens ligados à história do futebol sul-americano.
Já Sabrina Savani apresenta a instalação “Escadaria de Memória”, intervenção no antigo acesso dos vestiários ao campo do Pacaembu. O público caminha sobre um piso de vidro, numa experiência poética que evoca a memória das vítimas das ditaduras militares.
Outras criações incluem “Nunca Foi Sorte”, de Jaime Lauriano, que combina pintura, fotografia e miniaturas; e a colagem de Shirley Espejo, que homenageia jogadores negros pouco reconhecidos. A mostra também reúne obras de Mulambo, Roberta Estrela D’Alva e Frente 3 de Fevereiro.
Literatura, língua e identidade
A exposição ainda explora o diálogo entre literatura e futebol, com trechos de Eduardo Galeano, Gabriel García Márquez e Mário de Andrade, exibidos em técnicas artesanais como os bordados arpilleras do Chile e os abridores de letras do Pará.
O convívio entre português e castelhano se reflete em um glossário interativo, onde o visitante pode comparar palavras e expressões futebolísticas entre os países. O recurso também conta com mesa em braille e comandos de voz para acessibilidade.
“Nós tentamos criar um percurso que tanto traga informações quanto provoque experiências imersivas”, explica Luiza Romão. “Há documentos, fotos, livros, instalações sonoras, jogos e materialidades torcedoras”.
Já Matias Pinto completa: “Buscamos as histórias e personagens mais interessantes do nosso continente, das celebridades aos quase anônimos. O mural de Marina e Cleber e a instalação de Sabrina Savani são obras únicas, criadas especialmente para esta mostra.”
Abertura ao público
A programação de abertura acontece no sábado, 18 de outubro, com atividades gratuitas. Das 11h às 12h30, o muralista Cleber TTC e a artista Marina Ceglie conduzem uma oficina de criação de bandeiras e estêncil, com participação de Rapha Be.e.PH, também presente na mostra.
Às 13h, uma apresentação musical acústica toma conta da Grande Área, celebrando os ritmos e sonoridades da América do Sul em sintonia com o espírito da exposição.
¡Cancha Brava! Futebol sudamericano en disputa
- Até 5 de abril de 2026
- Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 18h (entrada permitida até 17h).
- Ingressos: R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia)
- Grátis para crianças até 7 anos
- Grátis para todos às terças-feiras
- Saiba mais em: www.museudofutebol.org.br
Museu do Futebol
- Praça Charles Miller, s/n - Pacaembu - São Paulo
- De terça a domingo, das 9h às 18h (entrada permitida até as 17h)
- Toda primeira terça-feira do mês, até as 21h (entrada até 20h)
- R$ 24,00 (inteira) e R$ 12,00 (meia)
- Crianças até 7 anos não pagam
- Grátis às terças-feiras