Pelé considera que seu dom para o futebol é um ‘presente divino’, diz biógrafo
Maurício Oliveira é autor de “1283”, a biografia do Pelé
O futebol brasileiro tem vários personagens, mas nenhum deles tem o protagonismo de Edson Arantes do Nascimento, que completa nesta sexta-feira (23) 80 anos. A importância do Pelé é tamanha que é possível falar que, a partir dele, o mundo mudou a forma de ver os jogadores e a seleção do Brasil.
Em entrevista à CNN, Maurício Oliveira, jornalista, escritor e autor de “1283”, a biografia do Pelé contou detalhes da biografia do Rei do Futebol. Segundo ele, há uma distinção, para o jogador, entre quem é Edson e Pelé. E que o dom para o futebol é considerado algo “concedido por Deus”
“O que mais me chamou ao terminar a biografia sobre ele, é justamente é esta divisão que ele faz entre o Edson e o Pelé. É uma característica que durante muito tempo as pessoas confundiam. O que eu entendi é que isso foi a forma que ele encontrou para lidar com a grandeza do que tava acontecendo na vida dele, ainda muito cedo.”
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E continuou: “Ele passou a considerar que o dom dele de jogar futebol era um presente, algo divino, que tinha sido concedido por Deus. Então, ele começou a lidar com este ‘boom’ como algo que não fazia parte do ‘homem’, Edson. A forma que ele encontrou com a grandeza do que estava acontecendo é se dividir entre Edson e Pelé”.
O biógrafo relembrou do episódio em que o jogador ficou incomodado com fato de que as pessoas apenas mandavam recados para o Pelé, e não para o Edson Arantes, evidenciando a distinção entre os ‘dois lados’.
“O nome Pelé surgiu de uma brincadeira com jogos entre os amigos. (…) Quando ele se tornou famoso, ele começou a falar do Pelé em terceira pessoa para lidar com a grandeza do que estava acontecendo. (…) Há uma relação que o Edson, o lado humano, tem uma certa inveja do Pelé, que é um mito e o ‘divino’.
‘Vou ganhar uma Copa’
Ainda na infância, um fato pareceu definir a relação de Pelé com o futebol. Ao ver o pai, o ex-jogador José Ramos do Nascimento, o Dondinho, chorar após a derrota da Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, o pequeno Edson prometeu que conquistaria o primeiro Mundial do país.
“O Pelé tem uma história épica. Apenas sete anos depois ele cumpriu a promessa e repetiu mais duas vezes a vitórias, em 1962 e 1970. Esta relação com o pai, o fato de que ele não era um super homem, não é alguém que todo mundo conhece”, finaliza.
Em entrevista à CNN, em março deste ano, Pelé afirmou que nunca pensou que seria reconhecido. Na conversa, o ex-jogador enfatizou a diferença entre Edson e o atleta.
” Prazer, sou eu [Pelé]. Todo mundo esqueceu do Edson Arantes do Nascimento, mas sou eu, o Pelé (risos). Ninguém se lembra do Edson, mas quem paga as contas é o Edson, quem sofre é o Edson e quem chora é o Edson. E o Pelé que tem todas essas regalias. Pelé é o filho de Deus que Ele pôs para a gente tomar conta”, disse.
(Edição de texto: Luiz Raatz)