Do clássico ao funk, entenda a escolha das trilhas de Rebeca Andrade e ginastas
O DJ que faz a mixagem das trilhas e o diretor artístico da ginástica brasileira conversaram com a CNN sobre o impacto da música no desempenho das atletas
As trilhas sonoras que embalam as ginastas nas provas de solo das Olimpíadas tornam as competições femininas muito mais envolventes que as masculinas, feitas sem música.
O solo das atletas do Brasil é sempre um dos mais aguardados não só pela desenvoltura das nossas ginastas, mas pelo ritmo contagiante, que é marca da música brasileira.
Foi o caso nesta segunda-feira (5), quando Rebeca Andrade conquistou o ouro no solo na ginástica artística feminina.
Quando tem brasileira no solo, a atmosfera muda e a plateia se levanta, bate palmas e dança junto. O mesmo não acontece nas provas de solo de outros países, que costumam agitar a plateia muito mais pelo desempenho das atletas, como no caso de Simone Biles, do que pela música.
A trilha de Rebeca é um pout-pourri de “End of Time”, de Beyoncé, “Movimento da Sanfoninha”, funk de Anitta, e “Baile de Favela”, do MC João, que embalou Andrade na prata no individual geral em Tóquio e conquistou a torcida.
“A escolha da trilha sonora é feita de acordo com a indicação da ginasta, do gosto dela, do que ela gostaria de fazer, e também uma harmonia com a comissão técnica”, diz Henrique Motta, diretor esportivo da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).
Andy Bianchini, o DJ que fez mixagem das trilhas de Rebeca, Jade Barbosa e Flávia Saraiva também conversou com a CNN e disse que o fato de as ginastas escolherem a música torna a mixagem mais fácil.
“Mas por outro lado também é difícil, porque é preciso adequar tudo isso. No caso da trilha da Rebeca, por exemplo, foram três músicas em uma. E eu tive que encaixar tudo em um minuto e 30 segundos”, afirmou.
A escolha de músicas mais modernas é recente. Antes, as músicas que acompanham o solo eram clássicas e as ginastas chegavam a se apresentar com músicas tocadas em piano ao vivo.
“Eram músicas que não traziam necessariamente a cultura dos países, seguiam modelos mais clássicos de músicas para a ginástica. Esse é um ponto que nos ajuda muito e que nos orgulha muito, de poder trazer a cultura do Brasil para dentro da ginástica”, diz Motta.
O DJ Bianchini lembra que a música brasileira é um gênero reconhecido no mundo todo, muito por influência da MPB e da Bossa Nova.
Mas ele ressalta que hoje o funk reforça a imagem do Brasil como uma potência do universo musical.
“As pessoas gostam principalmente da batida do funk. É um ritmo que é animado, pra cima, então quando começa a batida de funk, todo mundo já automaticamente reconhece que é do Brasil, que é uma música brasileira. Então quando tem brasileira se apresentando, tem aquele calor, sabe?”, afirma o DJ.
Em Paris 2024, além do funk, outro ritmo brasileiro levantou a plateia: o pagode. A ginasta Julia Soares escolheu como trilha “Cheio de Manias”, do Raça Negra, e “Milord”, da cantora francesa Édith Piaf.
Jade Barbosa escolheu “Baby One More Time”, de Britney Spears. E Flávia Saraiva se apresentou com “Infernal Galop”, de Jacques Offenbach, clássico do cancã.
Desempenho
A inspiração é um dos principais critérios das músicas escolhidas pelas atletas.
“A Rebeca, por exemplo, escolheu uma versão específica da música que Beyoncé apresentou no Super Bowl. É uma trilha que já a inspirava. Ela ouviu e já começou a se imaginar se apresentando com aquela música e criando todos os movimentos da apresentação para essa música”, conta Bianchini.
Para o DJ, a influência da música sobre o desempenho das atletas é significativo: “Com certeza é uma influência absurda, principalmente quando é uma música que elas gostam muito e que elas se inspiram. Acredito que é realmente crucial”.
Henrique Motta concorda que o impacto da música sobre a performance da atleta é direto. “Existe uma nota artística na ginástica e isso influencia diretamente naquelas escolhas.”
O diretor artístico da CBG acrescenta que a coreografia também é essencial.
“A partir dessas músicas, é feita a criação, junto com as atletas, das coreografias. No caso da Rebeca, por exemplo, no caso da Flávia, no caso da Jade, a gente fez essas escolhas musicais, eu participei junto com elas nessas montagens musicais, mas o processo coreográfico ali é todo desenvolvido pelo Ronaldo Ferreira”, diz.