
Tensão nervosa: por que Jack Draper segue passando mal em jogos do US Open
Número 5 do mundo, Draper luta contra ansiedade e tem mal-estar recorrente no torneio

Na última segunda-feira (25), durante o terceiro set da partida de estreia no US Open contra Federico Agustín Gómez, o britânico Jack Draper protagonizou uma cena recorrente em sua carreira: precisou vomitar em quadra antes de sacar.
O episódio reviveu lembranças indesejadas de sua campanha no torneio do ano passado, quando o jogador de 23 anos alcançou a primeira semifinal da carreira. Na ocasião, Draper também enfrentou problemas de saúde diante do futuro campeão Jannik Sinner, chegando a vomitar três vezes no jogo mais importante de sua trajetória até então.
A cena não é isolada. Draper vem sofrendo com crises de náusea em momentos decisivos, algo que ele mesmo reconhece como um desafio a ser compreendido. Após a vitória desta segunda, o britânico explicou que a combinação entre fatores físicos e emocionais contribuiu para o mal-estar.
“Fisicamente eu me senti bem. Sempre tive alguns problemas no estômago, então pode ser um pouco disso, somado à tensão nervosa de voltar a jogar. Mas em nenhum momento me afetou fisicamente. É algo que já acontece comigo há um tempo”, disse Draper em entrevista coletiva.
Preparação física e ansiedade
Nos últimos anos, Draper consolidou-se como um dos principais nomes da nova geração, tentando reduzir a distância para Carlos Alcaraz e Jannik Sinner, considerados os líderes do circuito. Para isso, passou por uma transformação física significativa nesta temporada, ganhando força muscular e resistência.
Havia quem acreditasse que os episódios de enjoo estivessem relacionados à dificuldade de seu corpo em acompanhar a exigência do circuito, principalmente em condições extremas de calor nos Grand Slams. Hoje, com um físico mais imponente, essa hipótese perde força.
Ainda assim, os sintomas persistem. E a explicação pode estar na ansiedade. O próprio Draper admitiu após a semifinal do ano passado que é uma pessoa naturalmente ansiosa.
“Acho que, quando somo tudo isso, às vezes fico um pouco enjoado em quadra, especialmente quando a situação fica difícil”, disse na ocasião.
Sintomas de ansiedade no esporte
A relação entre ansiedade e sintomas físicos é reconhecida pela medicina esportiva. O psiquiatra Dr. Phil Hopley, especialista em atletas de alto rendimento, explicou à CNN que não se surpreende com o caso de Draper.
“Muitas vezes as pessoas falam em ‘cérebro intestinal’. Quando ficam nervosas, sentem no estômago. É uma conexão comprovada. Sob pressão, o cérebro libera cortisol e adrenalina, preparando o corpo para competir. No caso dele, isso afeta diretamente o estômago”, analisou.
Hopley elogiou a postura de Draper por falar abertamente sobre o problema e destacou a importância de acompanhamento psicológico para lidar com partidas de grande exposição de maneira mais saudável.
“Tudo o que ele puder fazer para reduzir a percepção de pressão e tornar a situação mais rotineira vai ajudá-lo. Mas, como ele mesmo reconheceu, esses sintomas só aparecem nas competições de maior peso”.
Força e vulnerabilidade
O britânico afirma lidar com essa condição desde cedo. “Sou um atleta e, como todos, tenho coisas para superar. O tênis é extremamente físico e mental. Tento sempre evoluir e aprender. Tenho uma mentalidade forte, mas isso também pode ser uma fraqueza, porque a ansiedade cresce em jogos longos de cinco sets. Preciso continuar trabalhando nisso”, disse Draper no ano passado.
Apesar do desafio, o atual número 5 do mundo mantém a determinação. Ele também enfrenta uma lesão no braço, que limita a potência do saque, mas garante que está comprometido em dar tudo em quadra. Na quinta-feira (28), será favorito contra o belga Zizou Bergs, em busca de vaga na terceira rodada do US Open.


