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    Alemanha vai pagar US$ 1,3 bi à Namíbia em reconhecimento de genocídio colonial

    País reconhece formalmente responsabilidade pela morte de 80 mil membros dos povos Herero e Nama; grupos de vítimas consideram posicionamento insuficiente

    Nadine Schmidt, George Engels, Stephanie Busari e David McKenzie, da CNN

    Mais de 100 anos depois dos crimes cometidos pela Alemanha em poder colonial do que hoje é a Namíbia, o país europeu reconheceu formalmente as atrocidades cometidas contra os grupos étnicos Herero e Nama como genocídio. 

    A Alemanha vai apoiar a Namíbia e os descendentes das vítimas com 1,1 bilhões de euros (cerca de R$ 6,9 bilhões) para reconstrução e desenvolvimento, e pedir perdão pelos “crimes da gestão colonial alemã”, disse o ministro de relações exteriores alemão Heiko Maas em nota nesta sexta-feira (28).

    “Nosso objetivo era e é encontrar um caminho comum para a reconciliação genuína em memória das vítimas. Isso inclui nomear os eventos do período colonial alemão no que hoje é a Namíbia, e em particular as atrocidades do período entre 1904 e 1908, sem poupar ou atenuar a situação. Nós também chamaremos esses eventos pelo o que ele é em uma perspectiva atual: um genocídio”, disse Maas.

    O governo da Namíbia enxerga a aceitação formal dos crimes como genocídio como um passo chave no processo de reconciliação e reparação, disse o secretário de imprensa da presidência namíbia Alfredo Hengari à CNN.

    “Esses são desenvolvimentos muito positivos à luz de um processo muito longo que se acelerou nos últimos cinco anos. As pessoas nunca esquecerão esse genocídio; viverão com ele. E isso é um passo importante no sentido de curar essas feridas”, ele disse.

    Presidente da Namíbia, Hage Geingob
    Presidente da Namíbia, Hage Geingob
    Foto: John Moore/Getty Images

    Grupos de vítimas rejeitam o acordo

    Apesar disso, grupos de vítimas rejeitaram o acordo. Vekuii Rukoro, o chefe soberano do povo Herero, ex procurador geral e membro do parlamento, disse à CNN que eles não fizeram parte das discussões com o governo alemão.

    “É esse o tipo de reparação sobre o qual deveríamos estar animados com? Esse é apenas um movimento de relações públicas. Isso é um trabalho de venda pelo governo namíbio. O governo traiu a causa do meu povo”, disse ele.

    Rukoro disse que os grupos de vítimas Herero e Nama esperam reparações monetárias. Ele explica que as reparações não precisam ser enviadas a pessoas individualmente, mas deveriam vir em forma de um pagamento coletivo aos descendentes daqueles que foram assassinados e expulsos de suas terras durante o genocídio.

    Ele acrescentou que o presidente alemão não é bem-vindo no país do sul da África.

    “O presidente da Alemanha não é bem-vindo aqui pela vontade das comunidades de vítimas. Ele é persona non grata”, afirmou.

    Rebeldes do povo Herero reféns de soldados alemães
    Rebeldes do povo Herero reféns de soldados alemães em 1904, na Namíbia
    Foto: Ulstein Bild/Getty Images

    Um conflito sangrento

    Soldados alemães mataram até 80.000 membros dos povos Herero e Nama no país sul-africano entre 1904 e 1908 em resposta a revoltas anticoloniais em ascensão, de acordo com o Museu da Memória do Holocausto dos Estados Unidos.

    De acordo com historiadores, o conflito sangrento aconteceu quando povos indígenas Herero se revoltaram contra soldados coloniais devido à grilagem de terras. A Alemanha, que hoje oferece ajuda no desenvolvimento da Namíbia, ofereceu sua primeira contrição pelo conflito em 2004.

    Os países estão em diálogo desde 2015 para negociar a compensação pelo massacre feitos pelas forças coloniais alemãs. Maas disse em seu posicionamento que representantes das comunidades Herero e Nama estavam “proximamente envolvidos” nas negociações do lado namíbio.

    “Os crimes da era da colônia da Alemanha sobrecarregaram as relações com a Namíbia. Não há como virar o capítulo do passado. Entretanto, o reconhecimento da culpa e o uma contrição da nossa parte são passos importantes em esclarecer os crimes e moldar o futuro unidos”, declarou Maas.

    A mídia alemã está noticiando que um pedido oficial de perdão será feito pelo presidente alemão Frank-Walter Steinmeier em uma cerimônia no parlamento da Namíbia.

    “A decisão de uma possível viagem do presidente será feita após os governos atingirem um acordo formal em consulta próxima com o lado namíbio”, disse um porta-voz do presidente federal à CNN.

    Presidente da França, Emmanuel Macron
    Presidente da França, Emmanuel Macron
    Foto: Chesnot/Getty Images

    O anúncio vem dias depois de o presidente francês Emmanuel Macron reconhecer publicamente a “gigante responsabilidade” da França no genocídio em Ruanda e afirmar que somente os sobreviventes poderiam conceder “o presente do perdão”.

    Em 1994, cerca de 800.000 membros da etnia Tutsi foram mortos por milícias Hutu apoiadas pelo governo de Ruanda. A França foi acusada de falhar em prevenir o genocídio e de apoiar o regime Hutu, mesmo após o início dos massacres.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês).

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