As palavras que podem custar o segundo mandato de Trump
Quase quatro anos depois, parece mais provável que frase será o início de um obituário político

No dia 21 de julho de 2016, Donald Trump se tornou formalmente o nome do Partido Republicano para disputar a presidência dos Estados Unidos. Em seu discurso, ele disse o seguinte: “Eu me uni à arena política para que os poderosos não pudessem mais bater nas pessoas que não podem se defender. Ninguém conhece o sistema melhor do que eu, e é por isso que eu sozinho posso consertá-lo”.
Mesmo naquela época, as palavras eram estranhas. Trump se classificou como a única pessoa nos EUA – um país com 330 milhões de habitantes – capaz de consertar os problemas de desigualdade? A que poderia preencher a lacuna entre os que têm e os que não têm? A única que poderia tornar o país mais igualitário?
Quase quatro anos depois, parece mais provável que aquelas palavras tenham sido o início de um obituário político.
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Por quê? Porque a 104 dias das eleições norte-americanas de 2020, o presidente continua com problemas para lidar com a pandemia do novo coronavírus – e a população percebeu isso.
Em uma pesquisa divulgada pelo jornal Washington Post na semana passada, apenas 38% dos entrevistados disseram aprovar o trabalho que Trump vêm fazendo para lidar com a pandemia, enquanto 60% desaprovam.
Uma outra pesquisa, da ABC News-Ipsos, divulgada no começo de julho pintou um quadro ainda mais sombrio para o magnata: 33% de aprovação e 67% de desaprovação.
Mudança de postura
Após meses de inúmeras alegações – sem evidências – de que o vírus estava retrocedendo no país – e de que o uso de máscaras não era necessário –, Trump publicou no dia 20 de julho em sua conta no Twitter uma foto dele mesmo usando uma máscara e anunciando que voltaria a dar entrevistas coletivas diárias sobre a situação da Covid-19, o que ele havia cancelado no fim de abril alegando que “não valiam o tempo e o esforço”.
Na coletiva de 21 de julho, ele reconheceu que o vírus “provavelmente e infelizmente vai piorar antes de melhorar”.
Muitos ainda estão céticos de que Trump manterá esse tom aparentemente novo e seguirá abordando a Covid-19. Mesmo se o fizer, pode ser tarde demais.
O problema com a frase de que ele era a única pessoa no país que poderia consertar os problemas é que, quando eles surgem, as pessoas esperam que ele os conserte. Porque, bem, ele disse isso. Literalmente.
Não teria como Trump – ou qualquer outra pessoa – saber que o mundo estaria lidando com uma pandemia global como esta quando ele proferiu aquelas palavras na Convenção Nacional Republicana em 2016.
Contudo, desde janeiro, ficou claro que a Covid-19 era perigosa e muito provavelmente chegaria aos EUA. Apesar disso, Trump passou muito tempo minimizando a ameaça.
“Há uma pessoa chegando da China e a temos sob controle”, afirmou ele em janeiro. “Vai ficar tudo bem”, continuou. “O novo coronavírus está sob controle nos EUA”, disse o presidente no mês seguinte. “Estamos em contato com todas as pessoas e todos os países relevantes.”
Em março, ele afirmou que “esse vírus é muito contagioso”. “É inacreditável, mas é algo que temos tremendamente sob controle”, disse.
“Acho que ficaremos muito bem com o novo coronavírus”, afirmou em 1º de julho. “Acredito que, em algum momento, ele vai começar a simplesmente desaparecer. Espero.”
Até o dia 22 de julho, mais de 3,9 milhões de norte-americanos testaram positivo para o novo coronavírus e cerca de 142 mil morreram.
Chances de reeleição prejudicadas
O fato de Trump minimizar a ameaça não resolve o problema. Na verdade, a resistência dele em usar uma máscara e sua campanha para pressionar os governadores a reabrirem seus estados e, agora, também as escolas, tornaram as coisas piores.
Longe de ser a única pessoa que poderia resolver o maior problema que o país enfrenta, Trump provou a muitas pessoas nesses últimos meses que ele não era – e não é – a pessoa certa para liderar os EUA na travessia deste tipo de crise.
Essa percepção pode ter condenado as chances de Trump ser reeleito.
(Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês.)