Chineses morrem em explosão e interesses de Pequim enfrentam ataque no Paquistão
Cinco trabalhadores chineses e um motorista local foram mortos em uma explosão suicida no Paquistão, no mais recente de uma série de ataques terroristas que visam perturbar relação China-Paquistão
Cinco trabalhadores chineses e um motorista local foram mortos em uma explosão suicida no noroeste do Paquistão na terça-feira (26), disseram as autoridades. Esse é o mais recente de uma série de ataques terroristas, que os militares e o governo do país do sul da Ásia dizem ter como objetivo perturbar os laços estreitos entre Islamabad e Pequim.
O oficial sênior da polícia, Muhammad Ali Gandapur, disse que a explosão ocorreu quando o homem-bomba bateu com um veículo contra o comboio de trabalhadores que viajava da capital para a barragem de Dasu, o maior projeto hidrelétrico do país, na província de Khyber Pakhtunkhwa.
A explosão é a terceira atrocidade em uma semana que abala o Paquistão, um aliado estratégico da China e um elo fundamental na ambiciosa iniciativa de infraestruturas do Cinturão e Rota do líder chinês Xi Jinping, sublinhando os crescentes desafios de segurança para os projetos chineses no país.
Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo ataque de terça-feira, que ocorre quase três anos depois de uma explosão de ônibus ter matado 13 pessoas, incluindo nove trabalhadores chineses a caminho da barragem, em outro ataque não reivindicado ao projeto.
O Paquistão tem lutado contra um aumento da violência por parte de grupos militantes e terroristas desde que os talibãs tomaram o poder no vizinho Afeganistão, após a retirada das tropas americanas em 2021. Os talibãs paquistaneses negaram qualquer envolvimento na explosão de terça-feira.
A China condenou veementemente o ataque. “A China pede ao Paquistão que investigue exaustivamente o incidente o mais rápido possível, persiga os perpetradores e leve-os à justiça”, disse o Ministério das Relações Exteriores chinês em nota na quarta-feira (27), instando o Paquistão a tomar medidas eficazes para proteger a segurança dos cidadãos chineses, instituições e projetos.
O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, apresentou condolências pela morte dos cidadãos chineses durante uma visita à Embaixada da China em Islamabad, na terça-feira, onde se encontrou com o embaixador de Pequim.
O ministro das Relações Exteriores, Ishaq Dar, também condenou o “ato hediondo de terrorismo” e prometeu levar os responsáveis à justiça.
“O ataque de hoje foi orquestrado pelos inimigos da amizade Paquistão-China. Agiremos resolutamente contra todas essas forças e as derrotaremos”, disse ele em nota.
A explosão de terça-feira após dois ataques de militantes nos últimos dias no sudoeste do Paquistão, onde a China está investindo bilhões em projetos de infraestruturas.
O Exército de Libertação Balúchi (ELB), o mais proeminente de vários grupos separatistas na agitada província do sudoeste do Baluchistão, assumiu a responsabilidade pelos ataques a uma base aérea naval paquistanesa e a um complexo governamental fora do porto estratégico de Gwadar, financiado pela China.
Em um comunicado, os militares do Paquistão afirmaram que os ataques visavam desestabilizar a segurança interna do país e a sua relação com a China.
“Projetos estratégicos e locais sensíveis vitais para o progresso econômico do Paquistão e o bem-estar do seu povo estão sendo alvo de um esforço consciente para retardar o nosso progresso e semear a discórdia entre o Paquistão e os seus aliados e parceiros estratégicos, principalmente a China”, disseram os militares em nota.
Sem nomear nenhum país, a declaração militar também acusou “certos elementos estrangeiros” de ajudar e encorajar o terrorismo no Paquistão.
Pequim investiu dezenas de bilhões de dólares no Corredor Econômico China-Paquistão, um projeto emblemático do Cinturão e Rota lançado em 2015 que liga a região ocidental de Xinjiang, na China, ao porto paquistanês de Gwadar, no Mar Arábico, com uma rede de rodovias, ferrovias, oleodutos e usinas de energia.
Mas os projetos financiados pela China suscitaram ressentimento por parte dos habitantes locais em partes do Paquistão, que dizem ter se beneficiado pouco com os desenvolvimentos. O sentimento anti-China é particularmente forte entre os grupos separatistas no Baluchistão.
Em novembro de 2018, o ELB assumiu a responsabilidade por um ataque ao consulado chinês na cidade de Karachi, que matou quatro pessoas. Meio ano depois, um grupo separatista atacou um hotel de luxo em Gwadar, frequentemente utilizado por cidadãos chineses que trabalham no porto.
Em junho de 2020, o ELB afirmou ser responsável por outro ataque mortal à Bolsa de Valores do Paquistão, onde as empresas chinesas detêm 40% das participações.
Em agosto do ano passado, militantes do ELB abriram fogo contra um comboio militar paquistanês em Gwadar, que escoltava uma delegação de cidadãos chineses para um projeto de construção. Dois militantes foram mortos e nenhum dano foi causado a militares ou civis, segundo os militares paquistaneses.