Conheça María Corina Machado, opositora venezuelana que venceu Nobel da Paz
Política foi impedida de concorrer nas eleições presidenciais da Venezuela em 2024
A líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, de 58 anos, venceu o Prêmio Nobel da Paz nesta sexta-feira (10), “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”, segundo o Comitê Norueguês do Nobel.
A política, que tem lutado por eleições livres e um governo representativo, teve a candidatura para as eleições presidenciais de 2024 barrada pelo Supremo Tribunal local e não pôde concorrer. Em 2023, ela foi impedida de exercer cargos públicos na Venezuela por 15 anos por “erros e omissões em suas declarações juramentadas de bens”, segundo a Controladoria-Geral da República do país.
Em janeiro deste ano, a oposição do país afirmou que agentes do governo dispararam contra Machado enquanto ela saía de um protesto Caracas. À CNN, a equipe dela afirmou ainda que ela foi detida, sendo liberada uma hora e meia depois.
Durante o anúncio, a organização elogiou a política por reunir um grupo que ajudou a garantir que a apuração final das eleições “fosse documentada antes que o regime pudesse destruir as cédulas e mentir sobre o resultado”.
A Freedom House, um grupo de monitoramento, afirma que as instituições democráticas da Venezuela se deterioraram desde 1999, “mas as condições pioraram acentuadamente nos últimos anos” devido à dura repressão do regime do ditador Nicolás Maduro.
Quem é María Corina Machado
Nascida em Caracas, capital da Venezuela, em 1967, Machado se formou em engenharia industrial antes de ingressar na política.
Em 2002, ela fundou a Súmate, um grupo voluntário que promove direitos políticos e monitora eleições.
Após ser barrada das eleições de 2024, ela transferiu o apoio para o partido de Edmundo González Urrutia.
A opositora está ligada ao cenário político há pelo menos 25 anos.
Machado tem especialização em finanças pelo IESA (Instituto de Estudos Superiores de Administração), prestigiada escola de negócios da Venezuela, e se formou no programa de líderes mundiais em políticas públicas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Em maio de 2012, ela fundou o Vente Venezuela, partido político do qual é coordenadora e que apoiou sua candidatura nas eleições primárias das quais saiu vencedora.

Machado descreve a doutrina econômica do partido como liberal e propõe uma opção contrária ao socialismo para a Caracas, sob as premissas do mercado livre, bem como do respeito pela propriedade privada e pelo Estado de Direito.
O partido diz oferecer “um modelo de desenvolvimento inclusivo e liberal para gerar prosperidade, riqueza e liberdade na Venezuela”.
A candidata está empenhada em promover a estabilização fiscal e monetária da Venezuela, promovendo um programa de investimentos públicos e privados massivos em infraestrutura, bens públicos, saúde e educação, entre outros.
Além disso, Machado vê como necessário promover um extenso programa de privatização das empresas públicas, incluindo a atividade petrolífera. Uma das propostas dela é a privatização total ou parcial da PDVSA, empresa petrolífera estatal venezuelana, algo estritamente regulamentado pela Constituição do país.
Defende ainda a importância de restabelecer garantias jurídicas, econômicas e sociais para incentivar estes investimentos. Machado diz que seu objetivo com estas medidas é reduzir a pobreza e melhorar as condições da classe média.
Carreira política
Em 2010, María Corina Machado foi a legisladora mais votada do país e acabou sendo eleita deputada da Assembleia Nacional pelo estado de Miranda para o mandato iniciado em 2011.
Em 2012, participou primárias presidenciais organizadas pela então aliança de partidos da oposição conhecida como Mesa Redonda da Unidade Democrática. Ela ficou em terceiro lugar, com 3,81% dos votos. O candidato do Primero Justicia, Henrique Capriles, venceu com 64,33%.
Em aliança com Leopoldo López, fundador do partido Voluntad Popular, e com Antonio Ledezma, da Alianza al Bravo Pueblo, convocou, em fevereiro de 2014, uma onda de protestos conhecida como “A Saída”, que durou até junho.
O objetivo era exigir a restituição da ordem democrática na Venezuela.
As manifestações também criticavam a crise econômica, a inflação elevada, a escassez de alimentos, a insegurança e as falhas dos serviços públicos, entre outros problemas.
Nos protestos, 43 pessoas morreram, 486 ficaram feridas e 1.854 foram detidas, segundo dados divulgados pela Procuradoria-Geral da República.
Estes acontecimentos fazem parte do caso Venezuela I perante o Tribunal Penal Internacional, que tenta apurar responsabilidades por crimes contra a humanidade cometidos no território da Venezuela desde 12 de fevereiro de 2014 por autoridades estatais, membros das forças armadas, forças de segurança do Estado, autoridades civis e indivíduos pró-governo.
O governo de Nicolás Maduro classificou as acusações como falaciosas e nega que tenham ocorrido crimes contra a humanidade no país.
Denúncias contra o governo de Maduro
Em março de 2014, Machado aceitou brevemente o cargo de embaixadora suplente do Panamá junto à OEA (Organização dos Estados Americano) para tentar denunciar ao Conselho Permanente as mortes de dezenas de jovens e as supostas violações dos direitos humanos cometidas durante manifestações de rua, que duraram até meados de junho daquele ano.
Em resposta, o partido no poder agiu até que ela fosse destituída do cargo de deputada da Assembleia Nacional, acusando-a de traição e posteriormente de planos de assassinato, sem apresentar provas. Machado negou publicamente as acusações.
Um tribunal proibiu a candidata de sair do país durante a investigação.
Ela também denunciou publicamente que tem dificuldades para se locomover dentro do país, porque algumas companhias aéreas disseram que não podem transportá-la. Por conta disso, Machado viaja pelo país por terra.