Espanha busca tornar aborto direito constitucional 40 anos após legalizá-lo

Se aprovado, o país será o segundo a adotar medida depois que a França o fez no ano passado

David Latona, da Reuters
Primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, durante entrevista coletiva em Madri
Primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez  • Juan Medina/Reuters
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O governo de esquerda da Espanha planeja consagrar o direito ao aborto na Constituição em meio ao que considera um ataque global à liberdade reprodutiva, disse o primeiro-ministro Pedro Sánchez nesta sexta-feira (3).

Se a medida for aprovada, o país se tornará o segundo a tornar constitucional o direito ao aborto, depois que a França o fez no ano passado. A Espanha completa este ano quatro décadas desde que o ato deixou de ser crime.

"Com este governo, não haverá retrocesso nos direitos sociais", escreveu Sánchez em uma publicação no X.

O governo de coalizão está ampliando as políticas progressistas e feministas em uma tentativa de reunir sua base de eleitores, no momento em que as pesquisas mostram um aumento no apoio ao partido de direita Vox.

A reforma requer o apoio de três quintos da câmara baixa do Parlamento, o que significa que precisaria do apoio de parlamentares do Partido Popular (PP), da oposição conservadora.

O governo também quer ajustar as leis do aborto para evitar que as mulheres que desejam interromper a gravidez recebam informações falsas com o objetivo de coagi-las a não abortar.

De acordo com uma nota do gabinete de Sánchez, a lei modificada obrigaria as autoridades médicas a fornecer apenas informações relacionadas ao aborto com base em evidências científicas objetivas, de acordo com os padrões estabelecidos por instituições como a Organização Mundial da Saúde ou a Associação Americana de Psiquiatria.

A medida ocorre após aprovação pelo conselho municipal de Madri, na quarta-feira (1º), de uma medida que obriga os serviços de saúde a informar as mulheres que estão pensando em fazer um aborto sobre a chamada "síndrome pós-aborto". A medida foi proposta pelo Vox e aprovada com os votos do PP.

A síndrome, cuja existência carece de consenso científico, supostamente leva ao uso de álcool e drogas, pensamentos suicidas ou até mesmo câncer no sistema reprodutivo feminino, de acordo com o Vox.