Indústria fóssil supera países em representantes na COP26, diz relatório

Pelo menos 500 lobistas de mais de 100 empresas de combustíveis fósseis estão na cúpula, o que aumenta "ceticismo" global sobre resultados da COP, denuncia grupo

Angela Dewan, da CNN
Bomba de petróleo em Midland, no Texas, EUA.  • Reuters
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Mais de 100 empresas de combustíveis fósseis mandaram pelo menos 500 lobistas para os debates climáticos na COP26 em Glasgow  – um número que supera o total de representantes de todos os países na cúpula, diz um relatório feito pelo grupo ambientalista Global Witness.

O grupo analisou a lista prévia da Organização das Nações Unidas (ONU) com os representantes de corporações e encontrou ao menos 503 pessoas ligadas a indústrias do petróleo, carvão e gás natural esperadas na conferência.

O uso de combustíveis fósseis é o principal causador das mudanças climáticas conduzidas pelos humanos.

A lista inclui pessoas associadas diretamente às companhias petroleiras, como a Shell, Gazprom e BP, assim como membros presentes em nome de delegações e grupos que agem em prol da indústria dos combustíveis fósseis.

A análise também mostrou que o lobby da indústria petroleira era composto por duas dúzias de pessoas a mais do que o país com mais participantes na conferência.

Esse grupo também superou o total de pessoas oficialmente listadas como indígenas na escala de dois para um, assim como o número de delegados dos oito países mais atingidos pelas mudanças climáticas nas últimas duas décadas – Porto Rico, Mianmar, Filipinas, Moçambique, Bahamas, Bangladesh e Paquistão.

"A presença de centenas de pessoas sendo pagas para empurrar interesses tóxicos e poluidores das indústrias de combustíveis fósseis apenas aumenta o ceticismo dos ativistas climáticos, que veem essas cúpulas como uma evidência do atraso e hesitação dos líderes globais", disse Murray Worthy, líder de campanhas sobre gás na Global Witness.

"A escala do desafio que está a nossa frente mostra que não há tempo para nós estarmos divididos por 'greenwashing' ou promessas vazias de corporações. Já é hora dos líderes mostrarem que eles falam sério quando dizem que irão acabar com a influência dos maiores poluidores sobre as grandes decisões políticas e se comprometerem com um futuro no qual as vozes de especialistas e ativistas estejam no centro", complementou.

Canadá, Rússia e Brasil estão entre os países que registraram membros de companhias de combustíveis fósseis na cúpula do clima.

COP "excludente"

A análise chega em meio a um ceticismo crescente da sociedade civil sobre o evento, que não foi tão inclusivo quanto prometido.

O presidente da COP26, Alok Sharma, afirmou que a necessidade de distanciamento social é o motivo pelo qual algumas pessoas, incluindo aquelas listadas como observadoras, foram impedidas de adentrar conferências onde as negociações ocorriam.

Um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostrou que as maiores companhias de combustíveis fósseis ainda planejam aumentar a produção nos próximos anos, e estarão, em breve, queimando mais combustível em 2030 do que o esperado para se atingir as metas climáticas desejadas.

A análise da Pnuma combinou os planos das 15 maiores economias do mundo para estimar que o planeta irá produzir 110% a mais de carvão, petróleo e gás natural em 2030 do que o limite necessário para frear o aquecimento global em 1,5º Celsius acima dos níveis pré-industriais. A produção também será 45% maior do que o necessário para limitar o aumento de 2º Celsius.

*Esta é uma matéria traduzida. Leia a original, em inglês