“Irmão” de Bolsonaro: premiê da Hungria, Orbán enfrenta protestos por renúncia
Milhares foram às ruas de Budapeste após ex-membro do governo acusar um assessor sênior do primeiro-ministro de tentar interferir em um caso de corrupção
Milhares de pessoas protestaram em Budapeste, perto do Parlamento da Hungria, na terça-feira (26), exigindo a renúncia do primeiro-ministro Viktor Orbán, depois que um ex-membro do governo acusou um assessor sênior do premiê de tentar interferir em um caso de corrupção.
Orbán esteve em evidência no Brasil nos últimos dias após uma reportagem do New York Times apontar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou duas noites na embaixada húngara, em Brasília, logo após a Polícia Federal (PF) apreender seu passaporte em investigação que apura suposto golpe de Estado.
O líder húngaro é uma autoridade próxima de Bolsonaro há tempos e, em 2022, quando esteve na Hungria, o então presidente brasileiro chegou a chamar Orbán de “irmão”.
Os manifestantes em Budapeste marcharam do gabinete do procurador-chefe em direção ao Parlamento gritando: “Renuncie, renuncie”.
Peter Magyar, 43 anos, um advogado anteriormente próximo do governo, disse à multidão que a Hungria estava na sua “maior crise política, moral e jurídica” desde a queda do comunismo. Ele planeja lançar um novo partido para desafiar Orbán.
Magyar publicou anteriormente uma gravação de uma conversa com Judit Varga, então sua esposa e ministra da Justiça da Hungria , na qual ela detalhou uma tentativa de assessores do chefe de gabinete de Orbán de remover certas partes de documentos num caso de corrupção.
O caso está centrado no ex-secretário do Ministério da Justiça, Pal Volner, que foi acusado em 2022 de aceitar subornos do ex-chefe dos oficiais de justiça, Gyorgy Schadl. Ambos se declararam inocentes. Os promotores pedem penas de prisão para a dupla.
Os promotores disseram em comunicado que analisariam a gravação, que Magyar disse ter gravado em janeiro de 2023, e que mais evidências seriam coletadas.
“É legal e fisicamente impossível eliminar e interferir nos documentos da acusação”, afirmou o comunicado.
Na gravação de áudio, gravada na casa do então casal e publicada na página de Magyar no Facebook, Varga diz que assessores ligados ao ministro-chefe do gabinete, Antal Rogan, sugeriram aos promotores o que deveria ser excluído dos documentos relacionados ao caso Volner/Schadl.
“Eles disseram aos promotores o que deveria ser excluído, mas eles (os promotores) não deram seguimento completo a isso”, disse Varga na fita.
Varga, que não foi encontrada para comentar, não contestou a autenticidade da fita em um post em sua página no Facebook.
“Peter Magyar fez uma gravação secreta de sua ex-esposa, eu, em nossa casa e agora usou isso para atingir seus objetivos políticos. Ele não é digno da confiança de ninguém”, escreveu ela.
O porta-voz do governo, Zoltan Kovacs, recusou-se a responder às perguntas enviadas por e-mail pela Reuters sobre o conteúdo da gravação, comentando: “Muito barulho por nada.”
As acusações surgem num momento politicamente delicado para Orbán, antes das eleições parlamentares europeias em junho, e após um escândalo de abuso sexual que derrubou dois dos aliados políticos de Orbán –o antigo presidente e Varga – no mês passado.
* Reportagem por Krisztina Fenyo e Lewis Macdonald, da Reuters