Morre Robert Durst, assassino condenado e tema de série “The Jinx” da HBO
O milionário, de 78 anos, foi condenado à prisão perpétua após confessar ter assassinado sua amiga Susan Berman
Robert Durst, o milionário excêntrico que fascinou espectadores sendo o tema da série documental da HBO “The Jinx”, antes de ser condenado no ano passado por assassinato, morreu em um hospital prisional da Califórnia, de acordo com seu advogado de longa data Dick DeGuerin. Ele tinha 78 anos.
Durst estava alojado no Centro de Saúde da Califórnia, em Stockton, e morreu de causas naturais às 06h44 da segunda-feira pelo horário local, segundo o Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia. O legista do condado de San Joaquin ainda irá determinar a causa exata da morte.
Cumprindo prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional, Durst estava em tratamento desde que foi diagnosticado com Covid-19 em outubro. O herdeiro de uma família de sucesso no ramo imobiliário também sofria de uma infinidade de outras doenças, incluindo um câncer na bexiga.
A vida agitada de fortuna e infâmia de Durst foi documentada diante de dezenas de milhões de espectadores da série da HBO “The Jinx”, que foi ao ar em 2015.
A fortuna veio de sua herança, já que Durst nasceu em um império do ramo imobiliário de Nova York construído pelos parentes, principalmente seu pai. As controvérsias começaram após a morte de três pessoas próximas a ele, começando com sua primeira esposa, Kathie McCormack Durst.
Em “The Jinx”, Durst discutiu o desaparecimento de sua cônjuge junto com detetives, amigos e familiares em 1982, enquanto estava estranhamente calmo. O multimilionário disse que viu sua esposa pela última vez quando a deixou em uma estação de trem em South Salem, Nova York, perto de sua casa de veraneio. Ela estava indo para Manhattan, onde estava terminando a faculdade de medicina.
O irmão de Kathie, Jim McCormack, e outros membros da família classificaram o ocorrido como assassinato, alegando que Durst a abusou física e mentalmente. McCormack Durst foi declarada legalmente morta em 2017. Seu corpo não foi encontrado até hoje.
Em um momento icônico da série “The Jinx”, Durst disse que não queria ter filhos porque “de alguma forma achava que seria uma azaração”.
Fora do ar, mas com microfone ligado durante uma transmissão ao vivo, Durst pôde ser ouvido murmurando: “O que diabos eu fiz? Matei todos eles, é claro.”
Seus advogados argumentaram que os comentários foram fortemente editados e que não foram ditos na ordem em que são exibidos no documentário. Mas a fala foi crucial para levar Durst à prisão pelo assassinato de uma amiga e confidente de longa data, Susan Berman, em sua casa na área de Los Angeles em 2000.
Durst foi preso em Nova Orleans na noite anterior ao episódio final de “The Jinx”, que foi ao ar em março de 2015, tornando o final imperdível na TV.
Os promotores disseram que Berman sabia que Durst havia matado sua esposa, e que ele atirou e matou sua ex-colega de faculdade para evitar que ela o incriminasse em uma entrevista agendada com os investigadores.
O milionário negou repetidmente ter matado Berman, mas também jurou por anos que não escreveu uma chamada “nota de cadáver”, um bilhete altamente divulgado que dava instruções para a polícia chegar ao corpo de Berman. Os advogados de Durst mais tarde admitiriam que seu cliente escreveu a “nota de cadáver”.
À época, a multimilionária equipe de defesa afirmou que Durst encontrou o corpo de Berman, entrou em pânico e fugiu porque achava que ninguém acreditaria que ele não matou sua amiga. Durst fugiu da cena do crime e de outros problemas, acabando em Galveston, Texas, onde morava em um apartamento humilde.
Durst então se disfarçou de mulher, fingiu ser mudo e fez amizade com seu vizinho do outro lado do corredor, Morris Black.
No entanto, mais uma vez a morte parecia seguir Durst, já que ele acabou sendo julgado pelo assassinato de Black. O milionário alegou legítima defesa e disse que sua arma disparou em uma luta com o vizinho, cujo corpo foi encontrado mais tarde esquartejado em Galveston Bay. Um tribunal do Texas absolveu Durst de assassinato.
As autoridades eventualmente levaram Durst para Los Angeles para ser julgado pelo assassinato de Berman. Enquanto a equipe de defesa buscava álibis e entrava com pedidos de anulação, a saúde de Durst piorou.
Durst finalmente foi a julgamento em março de 2020, mas a audiência foi suspensa por mais de um ano por causa da Covid-19. Quando ele foi diagnosticado com câncer de bexiga, em 2021, sua equipe jurídica pediu a anulação do julgamento, argumentando que ele não poderia se defender competentemente do banco das testemunhas em seu estado de saúde precário.
Contudo, o juiz negou a moção da defesa para anulação do julgamento. A sessão foi finalmente retomada em maio de 2021.
Durst insistiu para que ele mesmo testemunhasse em sua defesa, mas acabou por ser uma estratégia que implodiu. O interrogatório de Durst pelo promotor John Lewin se estendeu por nove dias. Os questionamentos poderiam ter demorado mais, mas o juiz limitou o tempo da promotoria, dizendo que a credibilidade do réu já havia sido destruída.
Lewin levou Durst a dizer que cometeu perjúrio cinco vezes durante o julgamento. Quando foi perguntado se tinha mentido sobre ter matado sua primeira esposa e sua melhor amiga Berman, Durst respondeu: “correto”.
O júri levou apenas sete horas para chegar a uma decisão final e condenar Durst por assassinato.
Em seus últimos dias no tribunal, Durst parecia frágil e falava pouco mais alto do que um sussurro, curvado em uma cadeira de rodas.
Menos de um mês depois, Durst foi diagnosticado com Covid-19 e, em 1º de novembro, um grande júri em Nova York o indiciou por assassinato pela morte de Kathie McCormack Durst.