Morte e tortura no Instagram expõem força do crime organizado na Argentina

Morena Verri, Brenda del Castillo e Lara Gutiérrez foram encontradas mortas ao sul de Buenos Aires

Manuela Castro, da CNN
Morena Verdi, Brenda del Castillo e Lara Morena Gutiérrez
Morena Verdi, Brenda del Castillo e Lara Morena Gutiérrez  • Governo da província de Buenos Aire/ via TN
Compartilhar matéria

Os corpos das jovens Morena Verri, Brenda del Castillo e Lara Gutiérrez foram encontrados com sinais de tortura na Argentina, na quarta-feira (24), em uma casa em Florencio Varela, município da província de Buenos Aires, a cerca de 25 quilômetros ao sul da capital argentina.

A sessão de tortura e assassinato das jovens teria sido transmitida ao vivo para um grupo de 45 pessoas na rede social Instagram.

Morena e Brenda, de 20 anos, e Lara, uma adolescente de 15 anos entraram em uma van branca para ir a um evento na noite de sexta-feira (19), e estavam desaparecidas desde a noite de sábado (20), quando seus familiares relataram os desaparecimentos.

O ministro da Segurança da província de Buenos Aires, Javier Alonso, afirmou que o crime foi cometido por uma “quadrilha transnacional de narcotráfico”.

Quatro pessoas foram presas acusadas de homicídio qualificado, embora, segundo as autoridades, a investigação continue e deva encontrar mais envolvidos.

Em entrevista à CNN, Antonio del Carrillo, avô de duas das vítimas, disse que “nunca imaginaram que algo assim pudesse acontecer”.

O relato passo a passo de um feminicídio planejado

Segundo Alonso, Verri, Del Castillo e Gutiérrez foram vistos pela última vez na noite de sexta-feira. Câmeras de segurança registraram o momento em que entraram sozinhas em uma van branca, a poucos quarteirões do bairro onde moravam, em La Matanza, outro município de Buenos Aires.

O avô de Brenda e Morena, que são primas, confirmou à CNN que, após não receberem notícias das jovens, registraram queixa na delegacia no sábado. A informação coincide com o relato das autoridades.

A partir daquele momento, foi iniciada uma operação de busca, incluindo a análise de câmeras de segurança de vários municípios, o rastreamento dos celulares das vítimas e a identificação do caminhão com a placa alterada. O ministro afirmou que a rota do oeste para o sul da província foi reconstruída, levando à casa onde os corpos foram encontrados.

Quando a polícia invadiu a casa, duas pessoas estavam no local — um homem e uma mulher de pouco mais de 20 anos — que disseram ter sido contratados para fazer a limpeza. O cheiro forte de cloro e as manchas de sangue no chão imediatamente levantaram suspeitas.

Segundo Alonso, durante uma coletiva de imprensa, com a intervenção do Ministério Público, cães farejadores confirmaram a presença de terra remexida no jardim e na manhã de quarta-feira, os corpos foram encontrados com sinais de tortura.

Crime de “disciplina” teria sido transmitido nas redes sociais

O ministro informou que toda a sessão de tortura e assassinato foi transmitida ao vivo por um grupo fechado no Instagram.

Cerca de 45 pessoas teriam assistido ao que estava acontecendo em tempo real. Não se tratava apenas de uma gravação macabra: era uma mensagem deliberada de “disciplina” dentro de uma organização criminosa, explicou.

Uma das frases ouvidas na transmissão deixa claro: “Isso é o que acontece com quem rouba minhas drogas”. Segundo as declarações de Alonso, essa frase pretendia enviar uma mensagem exemplar não apenas às três jovens, mas também a outros membros da rede.

A principal hipótese é que Morena, Brenda e Lara conheceram os líderes da quadrilha no bairro de Flores, em Buenos Aires. “Lá, elas entraram em contato com alguns membros da quadrilha e, devido a um incidente ocorrido, cujos detalhes estamos apurando, isso levou à vingança”, declarou o ministro.

O caso está sob sigilo. Em resposta a um pedido da CNN, o promotor principal, Gastón Dupláa, disse que encaminhou o caso à Promotoria de Homicídios do Departamento Judicial de La Matanaza. A CNN está tentando entrar em contato com a nova Promotoria.

Segundo a investigação, a quadrilha de traficantes tem uma base de operações no bairro 21–24, a maior favela da região, e abrigos subterrâneos menores distribuídos por outras áreas da cidade, como Flores, e alguns municípios da região metropolitana de Buenos Aires, que circundam a capital argentina.

Organizações dedicadas ao trabalho territorial em bairros vulneráveis ​​denunciam a consolidação de grupos de traficantes de drogas diante da diminuição da presença do Estado e alertam que a falta de investimento em programas sociais, educacionais e de emprego deixou um vazio que acabou sendo preenchido por essas redes criminosas.

De acordo com o relatório “Venda e Tráfico de Drogas em Bairros (2021–2023)” do Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica Argentina, observou-se um aumento sustentado na venda de drogas nos últimos anos.

Em 2023, três em cada dez domicílios identificaram tráfico de drogas em seu quarteirão, quadra ou bairro.

Enquanto isso, na Argentina, nos primeiros oito meses de 2025, houve 164 vítimas de feminicídio, segundo dados da Casa del Encuentro, uma organização civil que defende os direitos das mulheres.

Na tarde de quarta-feira (24), protestos contra o assassinato das jovens ocorreram em várias partes de Buenos Aires, e organizações feministas convocaram uma nova manifestação para o sábado (27).

Diante da mídia, as mães exigiram justiça. “Quero que todos sejam presos”, exclamou Paula, mãe de Brenda.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em
espanholVer original