No G20, Lula diz estar preocupado com presença militar dos EUA no Caribe

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de uma entrevista coletiva neste domingo (23) em Joanesburgo, na África do Sul, onde ocorreu a Cúpula dos Líderes do G20

Gabriela Piva, da CNN Brasil, São Paulo
Compartilhar matéria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de uma entrevista coletiva neste domingo (23) em Joanesburgo, na África do Sul, onde ocorreu a Cúpula dos Líderes do G20. Com os jornalistas, o chefe do Executivo falou da escalada de tensões na Venezuela e no mar do Caribe, afirmando estar "preocupado" com a situação.

"Eu estou preocupado porque a América do Sul é uma zona de paz. Somos um continente que não temos armas nucleares, bomba atômica, nada. Lá o nosso negócio é trabalhar para se desenvolver e crescer. A mim, me preocupa muito o aparato militar que os Estados Unidos colocaram no mar do Caribe. A mim, me preocupa muito. Eu pretendo conversar com o presidente Trump sobre isso, porque está me preocupando. O Brasil tem responsabilidade na América do Sul, o Brasil faz fronteira com a Venezuela e não é pouca coisa, e eu acho que não tem nenhum sentido você ter uma guerra agora. Ou seja, não vamos repetir o erro que aconteceu na guerra da Rússia e da Ucrânia", disse ele.

O presidente ainda mencionou a ausência de Donald Trump, presidente dos EUA, na Cúpula dos Líderes do G20. Ele afirmou ser uma demonstração de como o norte-americano busca enfraquecer o multilateralismo e fortalecer o unilateralismo entre os países.

"Ele está tentando fazendo uma pregação prática pelo fim do multilateralismo e tentando fortalecer o unilateralismo", falou na ocasião.

Entenda escalada de tensão

O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou ataques em mais de 20 embarcações no Pacífico, desde 2 de setembro, contra navios que supostamente transportavam narcóticos, segundo Washington, que não apresentou nenhuma prova para sustentar essas alegações.

Os ataques dos EUA aumentaram as tensões com a Venezuela e com a Colômbia, chamando a atenção para uma parte do mundo que recebeu recursos limitados dentro das forças militares dos EUA nos últimos anos.

O ditador venezuelano Nicolás Maduro tem alegado repetidamente que os EUA estão tentando expulsá-lo do poder.

A cúpula do G20 teve um marco inédito neste ano: a ausência do presidente dos EUA. Além de Donald Trump, os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, também não participarão do encontro (estes, porém, ainda enviarão representantes a Joanesburgo).

Tradicionalmente, o fórum discute mudanças climáticas e agenda econômica, mas neste ano, os países reunidos também devem se concentrar em discutir minerais críticos.

A cúpula visa promover a solidariedade e ajudar as nações em desenvolvimento a se adaptarem a desastres climáticos mais graves, transitarem para a energia limpa e reduzirem custos excessivos de suas dívidas.

Os países do G20 são vistos como vitais para moldar a resposta ao aquecimento global, já que representam 85% da economia mundial e mais de três quartos das emissões que contribuem para o aquecimento global.

Líderes que representam 80% da economia mundial, como França, Reino Unido, Japão, Alemanha, Brasil e Índia, estarão presentes.

Ataques dos EUA no Caribe e Pacífico

Desde o início de setembro, militares americanos efetuaram 21 ataques contra navios que supostamente transportavam narcóticos.

Até o momento, 83 pessoas morreram no Caribe e no Pacífico.

O ditador venezuelano Nicolás Maduro tem alegado repetidamente que a ofensiva militar é uma tentativa de Washington de expulsá-lo do poder.

Questionada sobre a expansão militar na região, a Casa Branca disse que o presidente Donald Trump prometeu em campanha enfrentar os cartéis de drogas da região.

O desenvolvimento militar na região é o maior não relacionado ao socorro em desastres desde 1994, quando os Estados Unidos enviaram dois porta-aviões e mais de 20 mil soldados para o Haiti para participar da "Operação Uphold Democracy."