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    O que a CNN descobriu sobre o suspeito da tentativa de assassinato de Trump

    Suspeito de tentativa de assassinato de Trump, empresário do Havaí vivia entre delírios de grandeza, apoio à Ucrânia e frustradas tentativas de atuar em zonas de conflito

    Isabelle ChapmanCasey TolanCurt DevineAudrey Ashda CNN*

    O homem suspeito de tentar assassinar o ex-presidente Donald Trump no domingo (15) se retratava nas redes sociais como um combatente da liberdade que viajava pelo mundo – tuitando para líderes mundiais, viajando para a Ucrânia para apoiar o esforço de guerra do país e professando sua disposição de morrer pelas causas em que acreditava.

    Ryan Wesley Routh, um construtor de 58 anos que vive no Havaí, disse a veículos de comunicação que passou meses na Ucrânia trabalhando para trazer ao país combatentes estrangeiros do Afeganistão. No Twitter, ele implorava ao presidente Joe Biden para “enviar todas as armas que temos para a Ucrânia” e oferecia ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky conselhos sobre estratégia militar.

    Mas a imagem grandiosa que Routh pintava online parecia não corresponder à sua realidade. Em uma entrevista no ano passado, ele reconheceu que não havia conseguido um único visto para os combatentes afegãos que ele afirmava estar pronto para enviar ao país, e um oficial militar ucraniano disse à CNN que as ideias de Routh pareciam “delirantes”.

    Longe do teclado de seu computador, Routh administrava uma pequena empresa que construía casas minúsculas em um subúrbio de Honolulu, e passava seu tempo escrevendo cartas ao jornal local sobre acampamentos de sem-teto, grafite em um túnel de rodovia em Oahu e uma disputa sobre uma trilha para caminhadas.

    Os tuítes de Routh para Biden, Zelensky e outras figuras famosas pareciam ter sido ignorados – até que ele foi preso na Flórida esta semana, depois de supostamente estar esperando por Trump com um rifle de assalto do lado de fora do campo de golfe do ex-presidente em Palm Beach.

    No que parece ser a segunda tentativa de assassinar Trump em cerca de dois meses, as autoridades disseram que um agente do Serviço Secreto avistou o cano de um rifle com uma mira saindo de uma cerca enquanto o candidato republicano jogava uma partida de golfe.

    O agente abriu fogo, e Routh supostamente fugiu da cena de carro sem disparar nenhum tiro de volta. Routh foi detido posteriormente e acusado de duas infrações, incluindo posse de uma arma de fogo como criminoso condenado e posse de uma arma de fogo com número de série adulterado.

    Imagem de câmara corporal mostra homem suspeito de disparar tiros perto do campo de golfe do candidato presidencial republicano Donald Trump sendo detido pela polícia • Gabinete do Xerife do Condado de Martin

    Guerreiro de teclado

    Nos anos que antecederam a suposta tentativa de assassinato, Routh postava mensagens online criticando Trump e mostrava grande interesse em apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.

    Routh ingressou no X, então conhecido como Twitter, em janeiro de 2020, e imediatamente começou a postar sobre política, de acordo com tuítes arquivados pelo Wayback Machine da Internet Archive.

    Routh afirmou em um post de 2020 que apoiou Trump em 2016, mas mudou de opinião sobre o ex-presidente – escrevendo que “eu e o mundo esperávamos que o presidente Trump fosse diferente e melhor do que o candidato, mas todos ficamos muito desapontados e parece que você está piorando”. Mais recentemente, ele sugeriu que o slogan de campanha de Trump deveria ser “tornar os americanos escravos novamente”.

    Em 2019 e 2020, de acordo com registros da Comissão Eleitoral Federal, Routh doou pequenas quantias para as campanhas dos candidatos presidenciais democratas Tulsi Gabbard, Beto O’Rourke, Tom Steyer, Elizabeth Warren e Andrew Yang. Seus tuítes da época incluem Routh chamando o então candidato Joe Biden de “sonolento Joe” e criticando-o como alguém que “não defende nada; sem planos, sem ideias, tão fraco quanto Hillary”.

    Routh também demonstrou um senso de auto importância em mensagens para líderes mundiais já em 2020, quando tuitou repetidamente para o ditador norte-coreano Kim Jong Un. Em um tuíte, Routh escreveu que “gostaria de convidá-lo para férias no Havaí. Adoraríamos recebê-lo aqui e entretê-lo… Eu sou um líder aqui e posso organizar toda a viagem. Por favor, venha”.

    Nos dias antes e depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Routh tuitou dezenas de vezes sobre o conflito. “Estou pronto para ir para a Ucrânia, lutar e morrer”, escreveu ele em um post.

    E ele tuitou diretamente para Zelensky, dizendo: “PODEMOS CONSEGUIR MILHARES DE CIVIS PARA SE JUNTAR À SUA LUTA – estou disposto a ser o exemplo – VOU VOAR DA AMÉRICA E LUTAR COM VOCÊ… POR FAVOR, RESPONDA”. Zelensky não parece ter respondido.

    Ryan Wesley Routh participa de um comício para pedir que líderes estrangeiros e organizações internacionais ajudem a fornecer corredores humanitários para a retirada de civis e militares ucranianos de Mariupol, Ucrânia, em 27 de abril de 2022.
    Ryan Wesley Routh participa de um comício para pedir que líderes estrangeiros e organizações internacionais ajudem a fornecer corredores humanitários para a retirada de civis e militares ucranianos de Mariupol, Ucrânia, em 27 de abril de 2022. • Reprodução

    Um americano em Kiev

    Routh seguiu com sua promessa de viajar para a Ucrânia, de acordo com entrevistas com várias pessoas que o conheceram lá, bem como fotos de suas redes sociais. Mas seus esforços para apoiar o país não parecem ter ido muito longe.

    De acordo com uma página do GoFundMe postada pela noiva de Routh, Kathleen Shaffer, ele viajou para o país em abril de 2022. Fotos geolocalizadas pela CNN mostram Routh posando com placas pró-Ucrânia, bem como um grande número de drones, na Praça Maidan, em Kiev.

    A página do GoFundMe, que foi retirada do ar, arrecadou US$ 1.865 de sua meta de US$ 2.500, que Shaffer escreveu que seria destinada a equipamentos táticos, hospedagem e suprimentos necessários para voluntários. Shaffer escreveu que Routh já havia “organizado a entrega de 120 drones para as linhas de frente”, embora a CNN não tenha conseguido verificar essas alegações.

    Em entrevistas ao New York Times e Semafor no ano passado, Routh descreveu seus esforços para apoiar a Ucrânia, incluindo tentativas de levar combatentes do Afeganistão ao país. Ele parecia frustrado com a falta de progresso de seu trabalho – ele disse ao Semafor no ano passado que em suas reuniões com oficiais ucranianos, ele “recebeu gritos de quase todos”.

    Um representante da Legião Estrangeira das Forças Terrestres da Ucrânia disse à CNN que Routh havia contatado o comando várias vezes, mas que nunca fez parte da unidade militar em que voluntários estrangeiros lutam.

    “Podemos confirmar que essa pessoa nos contatou online várias vezes. A melhor maneira de descrever suas mensagens é como ideias delirantes”, disse o oficial Oleksandr Shaguri. “Ele nos oferecia grandes números de recrutas de diferentes países, mas era óbvio para nós que suas ofertas não eram realistas. Não respondemos, pois não havia nada a responder. Ele nunca fez parte da Legião e não cooperou conosco de nenhuma forma”.

    Michael Wasiura, um jornalista que conheceu e entrevistou Routh na Ucrânia em 2022, disse que, depois que os esforços de Routh para ingressar na Legião Internacional do país foram rejeitados, ele montou um memorial improvisado em Kiev para soldados estrangeiros que morreram na guerra.

    Ryan Wesley Routh, suspeito identificado como o investigado pelo FBI por aparente tentativa de assassinato contra Donald Trump. • Reuters

    “Ele estava lá todos os dias”, disse Wasiura. “Conversando com ele, era claro que você não estava falando com uma pessoa normal. Ele era… talvez a palavra certa fosse maníaco. Ele era extremamente devoto. Ele estava fazendo tudo isso por sua própria iniciativa pessoal porque se importava com a causa e era tão extremamente devoto àquela causa que estava praticamente acampando em um país estrangeiro”.

    Evelyn Aschenbrenner, uma cidadã americana que serviu na Legião Internacional da Ucrânia por dois anos, disse à CNN que advertiu Routh várias vezes para seguir as rotas oficiais para recrutar pessoas para lutar na Ucrânia, mas ele simplesmente não ouvia. Aschenbrenner mostrou à CNN várias mensagens que trocou com Routh, nas quais Routh expressava raiva com o que via como a falta de vontade da Ucrânia em aceitar sua ajuda.

    “Ele parecia ter esse delírio de grandeza”, disse Aschenbrenner. “Eu dizia, ‘tudo o que você está fazendo é causar dores de cabeça para todos… a legião já tem um site de recrutamento, não há necessidade de você estar fazendo isso'”.

    O americano Ryan O’Leary, um veterano da Guarda Nacional do Exército que está lutando na Ucrânia e encontrou Routh em 2022, descreveu-o como “fora da realidade”.

    “Eu o achei inofensivo, mas não era uma pessoa que deveria estar em uma zona de guerra, pois estava mentalmente descontrolado”, disse O’Leary.

    No ano passado, Routh parece ter escrito um livro sobre a guerra – “Ukraine’s Unwinnable War: The Fatal Flaw of Democracy, World Abandonment and the Global Citizen-Taiwan, Afghanistan, North Korea and the end of Humanity” (“A Guerra Inganhável da Ucrânia: O Erro Fatal da Democracia, Abandono Mundial e o Cidadão Global – Taiwan, Afeganistão, Coreia do Norte e o Fim da Humanidade”, na tradução livre) – e estava vendendo uma versão digital na Amazon por US$ 2,99.

    No livro, ele descrevia Trump como um “idiota”, “bufão” e “tolo”, e parecia fazer referência ao seu apoio anterior a Trump ao escrever: “Sou homem o suficiente para dizer que julguei mal e cometi um erro terrível”.

    Ryan Wesley Routh, autor de suposta tentativa de assassinato de Donald Trump • Reuters

    Ao mesmo tempo, Routh também demonstrou apoio a Taiwan. Ele afirmou em postagens online estar envolvido na “Legião Estrangeira de Taiwan”, um grupo supostamente recrutando militares estrangeiros para lutar por Taiwan em caso de uma guerra com a China. No entanto, várias pessoas listadas como apoiadores no site do grupo disseram à CNN que não tinham conhecimento da legião ou de suas atividades, e algumas nunca tinham ouvido falar de Routh antes.

    O jornalista Remus Cernea, da Newsweek Romênia, uma das pessoas listadas no site, disse à CNN que conheceu Routh na Praça Maidan, em Kiev, em junho de 2022. Cernea entrevistou Routh sobre seus esforços para apoiar a Ucrânia, e Routh disse que “para mim, muitos outros conflitos são cinzas, mas este conflito é definitivamente preto e branco. Isto é sobre o bem contra o mal”.

    Cerca de um ano depois, Cernea disse que reencontrou Routh e se lembrava dele estar visivelmente frustrado por mais estrangeiros não terem vindo ajudar a Ucrânia. Cernea disse que ficou chocado ao saber que Routh foi preso em conexão com a tentativa de assassinato de Trump.

    “Para mim, é uma surpresa, porque o via como uma pessoa idealista, inocente, genuína, sem nenhum instinto assassino”, disse Cernea.

    Histórico de instabilidade

    Nos anos anteriores a seus esforços internacionais, no entanto, Routh tinha um histórico de problemas com a lei em sua terra natal, a Carolina do Norte.

    Em 2002, o jornal Greensboro News and Record relatou que ele havia sido preso após se barricar dentro de um negócio local com uma metralhadora. Registros do tribunal mostram que ele foi acusado de posse ilegal de uma arma de destruição em massa, entre outras acusações, e se declarou culpado.

    Tracy Fulk, uma policial de Greensboro na época, disse à CNN que o incidente começou quando ela parou Routh por uma infração de trânsito. Ela disse que viu uma arma no carro dele, e após sacar sua arma, ele fugiu e entrou em sua empresa. Isso levou a um impasse com a equipe de resposta especial da polícia, e Routh mais tarde se rendeu, disse Fulk.

    “Ele era uma pessoa perigosa”, disse Fulk, acrescentando que ele era conhecido pelas autoridades locais. Mas quando foi preso, ela lembrou: “ele estava muito quieto e não falou muito durante o tempo em que esteve comigo”.

    Nos anos seguintes, de acordo com registros judiciais, Routh enfrentou uma série de acusações criminais menos graves, algumas das quais foram posteriormente retiradas. Ele foi acusado em vários casos de emissão de cheques sem fundo e se declarou culpado em uma dessas acusações em 2003.

    Em 2009 e 2010, foi acusado de posse de substância controlada e posse de veículo roubado, ambos os casos foram arquivados. Ele foi condenado por posse de bens roubados, pelo qual recebeu três anos de liberdade condicional.

    O suspeito de tentativa de assassinato também parecia ter problemas financeiros – juízes ordenaram que ele pagasse dezenas de milhares de dólares a reclamantes em vários processos civis movidos contra ele, e autoridades estaduais e federais o acusaram repetidamente de não pagar seus impostos em dia.

    Os problemas legais de Routh contrastam fortemente com o que parece ser sua primeira aparição na mídia: um Routh de 25 anos foi retratado como herói local em um artigo de 1991 no Greensboro News and Record após, supostamente, perseguir e lutar contra um suspeito de estupro. Routh recebeu um prêmio da polícia local por suas ações e o jornal o descreveu como um “super cidadão, se não um super herói”.

    Mais recentemente, ele se mudou para o Havaí, morando perto do oceano em Ka’a’awa, uma cidade de cerca de 1.200 pessoas na costa norte da ilha de Oahu, mostram registros públicos.

    Ryan Wesley Routh, 58 anos, proprietário de uma pequena empresa de construção no Havaí, foi detido em conexão com o incidente de domingo, de acordo com três fontes policiais.
    Ryan Wesley Routh, 58 anos, proprietário de uma pequena empresa de construção no Havaí, foi detido em conexão com o incidente de domingo, de acordo com três fontes policiais. • Gabinete do xerife do condado de Martin

    Routh, que antes trabalhava com telhados, começou um negócio de construção de pequenas casas. Ele foi destaque no Honolulu Star-Advertiser em 2019 por seus esforços para abrigar a população de sem-teto do Havaí. O site da sua empresa, que inclui fotos e vídeos de Routh construindo casas simples de algo que parece ser madeira compensada, diz que sua missão era “produzir soluções para nossos próprios problemas aqui na ilha”.

    Um havaiano que fez uma crítica negativa à empresa de Routh no Facebook disse à CNN que ficou incomodado com a resposta de Routh à crítica. Saili Levi, dono de uma empresa de baunilha, disse que pagou a Routh US$ 3.800 adiantados para construir um trailer para sua empresa, mas quando Levi foi à oficina de Routh para revisar o trabalho, este estava mal feito. Quando ele pediu a Routh para melhorar o trabalho, Levi disse que Routh ficou irritado.

    “Ele começou a reclamar, tipo, ‘Você acha que porque tem dinheiro, você é melhor do que eu?’”, disse Levi. “Eu meio que decidi deixar pra lá pelo bem da minha família”.

    Routh também escreveu várias cartas ao editor que foram publicadas no Star-Advertiser, prometendo doar trabalho para construir casas para os sem-teto, criticando um plano para demolir um estádio esportivo antigo como uma “catástrofe iminente” e denunciando trabalhadores da construção por não consertarem buracos nas estradas.

    Ele até parece ter considerado se candidatar a prefeito de Honolulu neste ano. Um site improvisado de “Vote em Ryan Routh”, que lista informações de contato que correspondem às de Routh, contém quase 70 postagens abordando suas opiniões sobre acesso a locais históricos, a crise habitacional da ilha, sua proposta de “guerra contra cupins” e o incômodo causado por galos.

    Nas postagens, a maioria das quais feitas neste verão, Routh se descreveu como sóbrio durante toda a vida e escreveu que passou oito meses na Ucrânia.

    “Devemos avançar com uma liderança lógica que apoie aqueles que desejam realizar grandes coisas”, escreveu Routh em uma postagem. Ele não apareceu na cédula durante a eleição primária para prefeito no mês passado.

    O filho mais velho de Routh, Oran, disse à CNN por mensagem de texto que Routh era “um pai amoroso e carinhoso, e um homem honesto e trabalhador”.

    “Eu não sei o que aconteceu na Flórida, e espero que as coisas tenham sido exageradas”, escreveu o jovem Routh. “Não parece ser o homem que conheço para fazer algo louco, muito menos violento”.

    *Com informações de Paradise Afshar, Nelli Black, Benjamin Brown, Scott Glover, Lex Harvey, Winter Hawk, Rob Kuznia, Kyung Lah, Daniel Medina, Gianluca Mezzofiore, Rob Picheta, Majlie de Puy Kamp, Sabrina Shulman, Teele Rebane, Adam Renton e Jessie Yeung, da CNN.

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