O que se sabe sobre as explosões nos gasodutos de Nord Stream
Suspeito de coordenar os ataques em setembro de 2022 foi preso na quinta-feira (21) pela polícia italiana

A polícia da Itália prendeu um ucraniano suspeito de coordenar os ataques contra gasodutos Nord Stream em setembro de 2022, informaram promotores alemães na quinta-feira (21).
A prisão é o primeiro avanço significativo na investigação das misteriosas explosões subaquáticas que ocorreram no Mar Báltico, no norte da Europa.
O que são os gasodutos de Nord Stream?
O sistema Nord Stream consiste em duas tubulações subterrâneas duplas, Nord Stream 1 (NS1) e Nord Stream 2 (NS2), construídas pela operadora de sistemas russa Gazprom para transportar até 110 bilhões de metros cúbicos de gás natural anualmente da Rússia através do Mar Báltico até a Alemanha.
Os quatro gasodutos de aço revestidos de concreto, com cerca de 1.200km de comprimento e mais de um metro de diâmetro, estão localizados a uma profundidade de cerca de 80 a 110m.
O NS1 entrou em operação em 2012. O NS2 foi concluído em setembro de 2021 e abastecido com gás, mas nunca foi utilizado.
A Alemanha cancelou o processo de aprovação do Nord Stream 2 dias antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022, o que colocou a dependência da Europa do gás natural russo em evidência política.
Como os gasodutos foram danificados?
Em 26 de setembro de 2022, sismólogos suecos registraram várias explosões, com cerca de 17 horas de intervalo, na ilha dinamarquesa de Bornholm. As explosões romperam três dos quatro gasodutos do Nord Stream, lançando nuvens de metano na atmosfera.
A Gazprom afirmou que cerca de 800 bilhões de litros, o equivalente a cerca de três meses de fornecimento de gás dinamarquês, vazaram. O vazamento de gás durou vários dias.
Apenas um dos quatro gasodutos, parte do NS2, permanece intacto. Em janeiro, a Dinamarca concedeu permissão para a realização de obras de conserto, mas não está claro se alguma obra foi de fato realizada.
Empresas ocidentais que detinham participações ou financiaram a construção dos gasodutos, como a alemã EONGn.DE e a britânica Shell, suspenderam todos os seus investimentos desde as explosões.
Quem está por trás das explosões?
Ninguém assumiu a responsabilidade. A Dinamarca e a Suécia concluíram que se tratou de um ato de sabotagem, mas encerraram suas investigações em fevereiro de 2024 sem identificar nenhum suspeito.
Investigações da imprensa, incluindo o New York Times e o Wall Street Journal, indicaram que um grupo pró-Ucrânia estava por trás do ataque.
Promotores alemães identificaram o suspeito preso na Itália apenas como Serhii K e disseram que ele fazia parte de um grupo que plantou dispositivos nos oleodutos perto de Bornholm.
Ele e seus cúmplices partiram da cidade de Rostock, na costa nordeste da Alemanha, em um veleiro alugado para realizar o ataque, disseram os promotores.
A revista alemã Der Spiegel e a emissora de TV ZDF noticiaram anteriormente que um grupo de seis pessoas — cinco homens e uma mulher — estava no iate que partiu de Rostock em 6 de setembro e retornou em 23 de setembro de 2022.
O barco, chamado Andromeda, foi avistado na pequena ilha dinamarquesa de Christiansborg, perto dos locais da explosão, no porto sueco de Sandhamn e em uma marina em Kołobrzeg, na Polônia, antes de retornar à Alemanha.
Investigadores alemães, que invadiram o iate em janeiro de 2023, encontraram a bordo vestígios dos mesmos explosivos descobertos pela Suécia nos locais da explosão, informou a mídia alemã.
A Alemanha informou às Nações Unidas que acreditava que mergulhadores treinados poderiam ter conectado dispositivos aos oleodutos a uma profundidade de cerca de 70 a 80 metros.
A mídia alemã também noticiou que Berlim havia emitido um mandado de prisão europeu em 2024 contra um instrutor de mergulho ucraniano, identificado como Volodymyr Z, em conexão com os ataques.
O suspeito, que morava na Polônia na época, posteriormente partiu para a Ucrânia, disseram os promotores poloneses. Eles também afirmaram que não havia evidências que sugerissem que a Polônia fosse usada como centro para os ataques.
O que a inteligência ocidental sabia sobre o ataque?
Um dia após as explosões, em 27 de setembro de 2022, o Der Spiegel noticiou que a CIA havia alertado a Alemanha no verão de 2022 sobre possíveis ataques aos oleodutos do Mar Báltico.
O Washington Post, citando informações publicadas online, escreveu em junho de 2023 que os Estados Unidos souberam de um plano ucraniano para atacar os gasodutos Nord Stream três meses antes de serem danificados.
O relatório de inteligência foi baseado em informações fornecidas por uma fonte na Ucrânia, informou o WPost, acrescentando que a CIA as compartilhou com a Alemanha e outros países europeus em junho de 2022.
A emissora nacional holandesa NOS noticiou no mesmo mês que a informação veio da agência de inteligência militar holandesa MIVD.
Ainda de acordo com o Washington Post, a CIA informou ao então comandante chefe da Ucrânia, General Valeriy Zaluzhnyi, por meio de um intermediário, que Washington se opunha a tal operação.
A agência de notícias Reuters não conseguiu verificar as reportagens de forma independente.