Organização identifica 196 povos indígenas isolados sob ameaça global
Levantamento da Survival International aponta que metade desses grupos pode ser exterminada nos próximos dez anos

Pelo menos 196 povos e grupos indígenas isolados vivem em 10 países da América do Sul, Ásia e Pacífico, segundo o relatório Fronteiras de Resistência: a luta global dos povos indígenas isolados, divulgado nesta segunda-feira (27) pela organização Survival International.
O documento é o primeiro levantamento global sobre esses povos e apresenta o número mais preciso e atualizado já feito até hoje.
O lançamento ocorreu em Londres e contou com a participação das lideranças indígenas brasileiras Lucas Manchineri e Maipatxi Apurinã, de Herlin Odicio, do Peru, e do ator norte-americano Richard Gere.
De acordo com a pesquisa, mais de 96% dos povos isolados estão ameaçados por atividades extrativistas, como mineração, exploração madeireira, petróleo e gás. A exploração madeireira afeta 65% dos grupos, a mineração mais de 40% e o agronegócio mais de 20%.
O relatório alerta que metade dessas comunidades pode ser exterminada nos próximos dez anos se não houver medidas de proteção.
A Survival também destaca o aumento de povos isolados na Ásia e no Pacífico, regiões onde, segundo o documento, os governos não têm legislação adequada para garantir os direitos desses grupos à terra e ao isolamento.

Novas ameaças
Além das atividades econômicas, o relatório cita novas ameaças, como influenciadores digitais que buscam o “primeiro contato” para gerar conteúdo, missionários financiados por organizações religiosas e organizações criminosas envolvidas em tráfico de drogas e mineração ilegal.
O estudo reúne ainda relatos de povos indígenas que sobreviveram ao contato forçado e afirma que os isolados desempenham papel importante na preservação de florestas e na mitigação dos impactos das mudanças climáticas.

Lucas Manchineri, presidente da organização Manchineri da Terra Indígena Mamoadate (AC), afirmou: “Nossa forma de apoiar também é contar essas histórias, mostrar ao mundo que os isolados não desapareceram — eles estão ali, vivos, lutando em silêncio — e que nós, como parentes próximos, temos a obrigação espiritual e política de protegê-los.”
A diretora da Survival International, Caroline Pearce, disse que o respeito à escolha dos povos isolados é essencial: “Embora nossas descobertas apontem para uma situação grave, há uma solução: respeitar a escolha e a resistência dos povos isolados. Os governos devem reconhecer e fazer valer o direito à autodeterminação e os direitos à terra.”
Os povos indígenas e a proteção de seus territórios também estarão entre os temas debatidos na COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada em novembro, em Belém.
Imagens reforçam o alerta
Em julho de 2024, a Survival International também divulgou imagens inéditas que mostravam dezenas de indígenas isolados às margens de um rio na região de Madre de Dios, no sudeste do Peru, próximo à fronteira com o Brasil. O grupo retratado é o povo Mashco Piro, considerado o maior povo indígena isolado do mundo.
A organização estima que existam cerca de 750 indivíduos Mashco Piro vivendo na floresta. Segundo a Survival, eles habitam uma área que vem sendo pressionada por atividades de exploração madeireira, o que coloca em risco sua sobrevivência e aumenta as chances de encontros forçados com trabalhadores da região.
A presença dos Mashco Piro é registrada na região desde o século XIX, quando o território começou a ser invadido por trabalhadores envolvidos na extração de látex.


