
Pfeifer: Ataque de Israel ao Catar fragiliza diplomacia no Oriente Médio
Bombardeio inédito contra líderes do Hamas em Doha provoca reações da comunidade árabe e muçulmana, ameaçando acordos diplomáticos e econômicos na região
O ataque sem precedentes de Israel contra líderes do Hamas em Doha, capital do Catar, desencadeou uma onda de tensões diplomáticas no Oriente Médio, avalia Alberto Pfeifer, Coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP. A operação, realizada na semana passada, marca a primeira vez que Israel realiza uma ação militar contra o território catari, que abriga a maior base militar dos Estados Unidos na região.
O bombardeio ocorreu em um momento em que o Catar atuava como mediador entre o Hamas e Israel nas negociações envolvendo reféns. A decisão israelense de realizar o ataque foi motivada pela aparente frustração com a demora nas negociações, especialmente em relação à libertação dos reféns capturados após os eventos de 7 de outubro de 2023.
Reações da comunidade internacional
O ataque provocou fortes reações das comunidades muçulmanas e árabes, incluindo o Irã. Em resposta, representantes desses países se reuniram no Catar para discutir medidas contra Israel. Em vez de uma retaliação militar, as principais propostas envolvem sanções econômicas e a suspensão dos processos de aproximação diplomática.
Uma das principais consequências pode ser o comprometimento dos Acordos de Abraão, iniciativa que busca normalizar as relações entre Israel e países árabes. A Arábia Saudita, que era considerada o próximo país a potencialmente estabelecer laços diplomáticos com Israel, demonstrou particular descontentamento com o ataque ao território catari.
A reunião no Catar conseguiu um feito notável ao juntar lideranças de países tradicionalmente rivais, como Arábia Saudita e Irã, sinalizando uma possível mudança nas dinâmicas regionais. O encontro também evidenciou preocupações sobre a continuidade da campanha militar israelense em Gaza e sua postura cada vez mais assertiva na Cisjordânia.
Os Estados Unidos, que têm buscado estabelecer novos padrões para o desenvolvimento econômico da região no período pós-Gaza, demonstram pessimismo com os desdobramentos recentes. No entanto, ainda mantêm a expectativa de que as negociações diplomáticas, mesmo que mais longas e desgastantes do que o previsto, possam resultar em uma solução melhor que o cenário atual.