Putin e Biden perdem se houver conflito armado na Ucrânia, diz especialista

Presidentes da Rússia e dos EUA endurecem o tom, mas conflito armado trará derrotas a ambos os países, avalia o professor Leonardo Trevisan

Raphael Coraccini e Layane Serrano, da CNN
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Os presidentes Vladimir Putin e Joe Biden tendem a sair perdendo se as tensões entre Rússia e Ucrânia na fronteira se transformarem em conflito armado, assunto que deve pautar a reunião virtual entre os dois líderes nesta terça-feira (7). A deflagração pode significar um recuo nas relações comerciais entre os países e aliados.

A interpretação é do professor de relações internacionais e de economia da ESPM Leonardo Trevisan, que falou à CNN na manhã desta terça.

Para Trevisan, a guerra é um cenário pouco provável já que ambas as potências militares sairiam perdendo. “Putin e Biden tem a perder se passarem das questões meramente diplomáticas”, diz o professor.

A Rússia posicionou algo próximo de 175 mil soldados na fronteira com a Ucrânia desde um recente ataque de drone a militantes separatistas pró-Rússia que moram na região. Desde então, as tensões têm sido crescentes e a Ucrânia chegou a dizer que a Rússia cruzaria a fronteira no próximo mês de janeiro, o que a Rússia nega.

Os Estados Unidos têm sinalizado com a distribuição de novas armas para a Ucrânia e ameaçado a Rússia com sanções econômicas caso seja deflagrado um conflito na região.

As sanções cogitadas pelo governo americano incluem a retirada da Rússia de um sistema de pagamento utilizado pelos produtores russos para comercializar petróleo, informa Trevisan.

O sistema conhecido como Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) funciona como uma espécie de Pix, que agiliza transações internacionais por meio de um sistema de mensageria. Os Estados Unidos já removeram a Coreia do Norte da plataforma.

“Os russos sentiram que os americanos estão falando de forma mais séria, isso não quer dizer que Putin está acuado, ele está tão firme quanto Biden”, avalia Trevisan.

As sanções, caso sejam concretizadas, afetariam a oligarquia russa do petróleo, próxima do presidente Putin. De outro lado, agradaria a elite americana, preocupada com a posição hegemônica dos Estados Unidos no mundo, aponta o professor.

Para Biden, a ação pode facilitar sua vida nos principais embates dentro de casa, nas votações no Congresso e nas eleições de meio de mandato, em 2022.

Por outro lado, a Rússia pode bloquear o fornecimento de gás para a Europa durante o inverno, o que dificultaria muito o aquecimento das casas de muitos dos aliados dos Estados Unidos, que dependem fundamentalmente da produção russa de gás. A medida agravaria a já delicada crise energética.

Além disso, os 10 milhões de barris de petróleo que a Rússia produz por dia dão ao país a possibilidade de interferir no crescimento das nações do Ocidente diante de um eventual aumento do preço da commodity.