Quem foi Dick Cheney, vice-presidente dos EUA da "guerra ao terror"

Ele ampliou a influência do gabinete do vice-presidente ao formar uma equipe de segurança nacional que frequentemente atuava como um centro de poder dentro do governo

Da Reuters
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Dick Cheney, influente ex-vice-presidente dos Estados Unidos, morreu aos 84, de acordo com um comunicado da família.

Ele atuou como vice-presidente de 2001 a 2009 e lutou pela expansão do poder da Presidência, por acreditar que estava sendo degradado desde o escândalo de Watergate, que levou à renúncia de seu antigo chefe, Richard Nixon.

Cheney também ampliou a influência do gabinete do vice-presidente ao formar uma equipe de segurança nacional que frequentemente atuava como um centro de poder dentro do governo.

Também foi um forte defensor da invasão do Iraque em 2003 e esteve entre os integrantes do governo Bush que mais alertaram sobre o perigo representado pelo suposto arsenal de armas de destruição em massa do Iraque -- nenhuma dessas armas foi encontrada.

Primeiro republicano em gerações na família

Richard Bruce Cheney nasceu em Lincoln, no Nebraska, filho de Marjorie Lorraine (nascida Dickey) e Richard Herbert Cheney, em 30 de janeiro de 1941.

A mãe era garçonete e depois se tornou jogadora de softball, e o pai trabalhava para o Serviço de Conservação do Solo.

Ambos os lados da família eram democratas fervorosos do New Deal, como ele escreveu em seu livro de 2011, "In My Time: A Personal and Political Memoir" (Em Meu Tempo: Memórias Pessoais e Políticas).

Ele afirmou em um documentário que foi o primeiro republicano em gerações na família: "provavelmente desde meu bisavô, que lutou na Guerra Civil pelo lado da União".

Dick Cheney se mudou para o Wyoming ainda jovem, antes de ingressar na Universidade de Yale. "Eu era um aluno medíocre, na melhor das hipóteses", disse ele -- posteriormente, abandonou o curso.

De volta ao Wyoming em 1962, ele trabalhou na construção de linhas de transmissão elétrica e usinas termelétricas a carvão, antes de finalmente obter os diplomas de bacharelado e mestrado em ciência política pela Universidade do Wyoming.

Ascensão na Casa Branca

Cheney foi para Washington em 1969 como estagiário no Congresso e ocupou vários cargos na Casa Branca durante os governos de Richard Nixon e Gerald Ford.

Um de seus primeiros mentores foi Donald Rumsfeld, que trabalhou como secretário de defesa nas administrações Ford e George W. Bush. Quando Cheney se tornou chefe de gabinete de Ford, ele sucedeu Rumsfeld.

Durante os 10 anos em que atuou como o único congressista do Wyoming, Cheney teve um histórico extremamente conservador, votando consistentemente contra o direito ao aborto.

Ele também votou contra a libertação do líder sul-africano Nelson Mandela, que estava preso, e contra medidas de controle de armas, financiamento ambiental e educação.

Sua esposa, Lynne, com quem namorava desde o ensino médio, tornou-se uma voz conservadora em questões culturais.

Liz Cheney, a filha mais velha do casal, foi eleita para a Câmara dos Representantes dos EUA em 2016, após construir uma reputação por defender posições de política externa agressivas, semelhantes às de seu pai.

Guerra do Iraque

Dick Cheney e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, que haviam sido colegas na Casa Branca de Nixon, foram cruciais na defesa da invasão do Iraque em março de 2003.

Na preparação para a guerra, Cheney sugeriu que poderia haver ligações entre o Iraque e a Al-Qaeda e os ataques de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos. Uma comissão sobre os ataques de 11 de setembro posteriormente derrubou essa teoria.

Ele afirmou que as forças americanas seriam "recebidas como libertadoras" no Iraque e que o destacamento de tropas "seria relativamente rápido... semanas em vez de meses".

Embora nenhuma arma de destruição em massa tenha sido encontrada, Cheney insistiu, anos depois, que a invasão foi a decisão correta com base nas informações de inteligência da época e na deposição do então presidente iraquiano, Saddam Hussein.

Mais de uma década antes, como secretário de Defesa do presidente George H.W. Bush, Dick Cheney havia dirigido a operação militar dos EUA para expulsar o Exército de ocupação iraquiano do Kuwait na primeira Guerra do Golfo.

Volta à política e aposentadoria milionária

Devido aos seus longos laços com a família Bush e à sua experiência no governo, George W. Bush escolheu Cheney para liderar a busca por seu vice-presidente em 2000.

Bush então decidiu que, na verdade, Cheney era o melhor candidato para o cargo.

Ele dirigiu de 1995 a 2000 a empresa de serviços petrolíferos Halliburton e, ao retornar à política, recebeu um pacote de aposentadoria de US$ 35 milhões.

A Halliburton se tornou uma das principais contratadas do governo americano durante a guerra do Iraque. Os vínculos de Cheney com a indústria petrolífera foram alvo de frequentes críticas por parte dos opositores da guerra.