Três brasileiros ainda aguardam saída do Sudão, diz Itamaraty
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, 27 cidadãos estavam no país quando eclodiu o conflito, no último dia 15. Mais de 500 pessoas morreram e ao menos 4 mil ficaram feridas no confronto entre o Exército e as RSF
Três brasileiros ainda estão no Sudão aguardando para sair do país, que sofre com intensos combates entre o exército e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês). As informações são do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Segundo o Itamaraty, 27 brasileiros se encontravam no Sudão quando os combates eclodiram. “Os três que ainda estão no país já foram transportados para localidade de menor risco relativo, onde aguardam para, em breve, sair do Sudão”, informou à CNN via e-mail. A pasta afirmou que não poderia divulgar as identidades desses remanescentes.
“Tão logo tiveram início as hostilidades no Sudão, o Itamaraty passou a atuar de modo incessante com vistas a assegurar a retirada, em segurança, de todos os brasileiros naquele país, o que tem ocorrido”, prossegue o Itamaraty.
Desde o início dos combates, no último dia 15, vários países têm realizado operações especiais para retirar seus cidadãos do Sudão. Países como Indonésia, Estados Unidos e Turquia enviaram aviões e navios para o território sudanês e em nações vizinhas para promover a retirada.
Essas conduções têm levado os cidadãos estrangeiros para as áreas de fronteiras terrestres e também para Porto Sudão, um dos destinos mais procurados para a saída do país. A cidade portuária é banhada pelo Mar Vermelho, oferecendo um caminho rápido para a Arábia Saudita.
O Itamaraty tem realizado operações de apoio a partir de países vizinhos para conduzir os cidadãos de volta. Os últimos a desembarcarem em solo brasileiro foram nove integrantes do Al-Merreikh, clube de futebol da primeira divisão do Sudão, sediado na maior cidade do país, Ondurman. O grupo, formado por quatro atletas e cinco integrantes da comissão técnica, estava na capital Cartum quando ocorreram os primeiros confrontos e retornaram no último dia 28.
Em relato à CNN, um dos brasileiros do Al-Merreikh, o assistente técnico e analista de desempenho do clube, Esdras Lopes, afirmou que o grupo ficou confinado em suas residências por sete dias em Cartum, até que conseguiram um transporte que os levou até a fronteira com o Egito, de onde puderam seguir para a capital Cairo e, de lá, até o Brasil.
Refugiados
Mais de 500 pessoas foram mortas e mais de 4 mil ficaram feridas devido aos conflitos entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) que eclodiu em 15 de abril e desativou uma transição apoiada internacionalmente para eleições democráticas.
Os dois grupos, que lutam pelo poder há vários anos, violaram diversas tréguas mediadas pelos países vizinhos, além dos Estados Unidos. Com o recrudescimento dos combates, um grande contingente deixou o país. De acordo com informações de funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 100 mil pessoas foram forçadas a fugir pelas fronteiras do Egito, Chade, Djibuti e Eritreia. Mesmo o Sudão do Sul, que convive com uma grave crise humanitária, foi o destino de ao menos 20 mil refugiados.
Como os combates não cessam, o país caminha rápida e perigosamente para uma profunda crise humanitária. O problema é ainda mais grave porque muitos dos países vizinhos, como o Sudão do Sul e o Chade, já enfrentavam graves problemas políticos e econômicos. Por isso, estas nações já têm dificuldade para atender sua própria população e também os refugiados que estavam em seus territórios antes da crise sudanesa.
Luta pelo poder
Os conflitos que eclodiram no último dia 15 são o ponto mais agudo de uma violenta disputa de poder entre os dois grandes senhores da Guerra do Sudão: o comandante do Exército, general Abdel-Fattah al-Burhan, e o líder do RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti.
Os hoje inimigos mortais já foram grandes aliados e, juntos, derrubaram o então presidente sudanês Omar al-Bashir em 2019, durante uma revolta militar que interrompeu um governo despótico que oprimia o Sudão há 30 anos. Bashir, que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, ajudou a armar as RFS, que foram utilizadas para reprimir os movimentos de independência da região meridional do país no início do século, onde hoje é o Sudão do Sul. Foi a partir de então que Dagalo começou a ganhar força como chefe militar.
Dagalo traiu seu chefe ao derrubá-lo do poder em 2019. Dois anos depois, o líder das RSF ajudou al-Burhan a tomar o poder, com o compromisso de que as suas milícias seriam incorporadas ao exército oficial. Isso, no entanto, não aconteceu. O impasse foi o ponto inicial da tensão entre os dois senhores da guerra, que culminaram no banho de sangue que assolou o Sudão desde o último dia 15.