
Waack: Paz de Trump é perigosa ilusão no Oriente Médio
Novidade é um presidente americano iludido pela fantasia de que falta de estratégia é, por si só, uma estratégia
Assim como entrou na guerra, agora Donald Trump declara paz. Entre Irã e Israel. Uma ilusão perigosa.
Assim como é ilusório acreditar que uma guerra se resolve com ataques aéreos — cirúrgicos ou não. A guerra entre Israel e Irã durou décadas antes de se tornar um confronto direto. Entre Irã e Estados Unidos, também.
A fase atual do conflito nasce de rearranjos profundos no Oriente Médio — e na ordem internacional.
No Oriente Médio, Israel pretende, por meio da superioridade tecnológica e militar, redesenhar o mapa da região. Mas nenhuma ação militar traz resultados duradouros — muito menos estabilidade — se os objetivos políticos são inalcançáveis. É nesse ponto que Israel se encontra, e já faz algum tempo.
Quanto à ordem internacional que já presidiu, os Estados Unidos hoje são uma das principais forças empenhadas em destruí-la. Sem deixar claro o que pretendem colocar no lugar — além da lei da selva, aquela em que mandam os mais fortes.
Em outras palavras: todos os fatores que levaram à fase aguda do conflito naquela parte do Oriente Médio continuam presentes. Agravam-se, ainda, pelo fato de que o governo israelense confia cada vez mais na ilusão de que seu imenso poder militar seria capaz, sozinho, de produzir uma solução política para o conflito. Isso não é novidade.
Novidade é um presidente americano iludido pela fantasia de que falta de estratégia é, por si só, uma estratégia. E de que a complexidade de um conflito como esse possa ser resolvida com uma bomba e uma postagem em rede social.
Agora vem o quê?