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Exposição na Lua? Artista de Madagascar enviará obras para o espaço

Tara Shakti foi selecionada para participar do projeto que está mandando arte em módulos lunares

Leah Collins, da CNN
Obras de Tara Shakti que estarão no "Arquivo 3" do projeto Lunar Codex
Obras de Tara Shakti que estarão no "Arquivo 3" do projeto Lunar Codex  • Tara Shakti
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Desde jovem, a premiada artista Tara Shakti sabia que queria seguir uma carreira criando pinturas que empoderassem outras mulheres. O que ela não previu foi que seu trabalho um dia seria lançado à Lua como um memorial duradouro da criatividade humana.

Crescendo em Madagascar, na costa leste da África Austral, Shakti foi criada por uma família de artistas e incentivada por seu irmão mais velho a começar a pintar com cores vibrantes aos sete anos de idade. Inspirada pelas obras renascentistas, ela seguiu sua paixão pela pintura na Accademia d’Arte em Florença, mudando-se para Paris para estudar o mercado de arte na Casa de Leilões Drouot.

O trabalho da artista lança luz sobre questões urgentes, como o tráfico humano e a opressão sistêmica. "Cresci vendo como as mulheres são maltratadas, isso preencheu minha consciência," ela disse à CNN. "Quero usar minha arte para destacar questões sobre as mulheres. Espero levantar vozes para fazer algo para ajudar as pessoas."

Shakti é uma das 35 mil artistas contemporâneas, entre escritoras, poetisas, podcasters, escultoras, musicistas e cineastas de todo o mundo cujo trabalho está sendo enviado à Lua através do projeto Lunar Codex.

A iniciativa lançará trabalhos de 247 países, nações indígenas e territórios, divididos em seis cápsulas do tempo que serão enviadas à Lua ao longo de 18 meses. O primeiro lançamento bem-sucedido foi a bordo do módulo de pouso Intuitive Machines Odysseus, via foguete SpaceX Falcon 9, e aterrissou no polo sul lunar em fevereiro passado. Outros três foram lançados com sucesso no início deste ano.

"Uma carona com a Nasa"

Autofinanciando o Lunar Codex está o físico, artista e empreendedor canadense dr. Samuel Peralta, que descreve o projeto como um "meio de arquivamento mensagem-na-garrafa para mostrar a beleza da criatividade humana."

Peralta, que também é presidente de uma empresa de mídia e tecnologia baseada em Toronto, a Incandence, espera que o projeto se torne um empreendimento global para defender perspectivas pouco representadas. O principal critério para a nomeação é que o trabalho dos artistas tenha sido incluído em uma exposição curada, coleção, antologia ou similar.

Os artefatos culturais são copiados em cartões de memória digital ou inscritos em Nanofiche -- placas de níquel do tamanho de uma moeda de dez centavos -- um formato analógico que pode ser lido com um microscópio e armazena até 150 mil páginas de texto ou fotos em uma única folha de 21,6 x 27,9cm. Este meio de armazenamento de alta densidade é projetado para durar bilhões de anos na Lua. O Nanofiche é então selado e aparafusado ao módulo lunar antes do seu lançamento.

"Você pode nos considerar como uma carona com a NASA," disse Peralta, explicando que o módulo lunar Astrobotic Griffin, que lançará a arte de Shakti, transportará o rover Viper da Nasa como carga principal, com o Lunar Codex sendo uma das várias cargas secundárias a bordo.

Cinco pinturas de Shakti serão incluídas na cápsula do tempo Codex Polaris, que será lançada em um foguete SpaceX Falcon Heavy a bordo do módulo lunar Astrobotic Griffin em fevereiro de 2025.

"Uma honra imensurável"

O trabalho de Shakti já recebeu reconhecimento internacional. Ela foi homenageada com o prêmio Mosaic 2019 Exposé em Nova York, nos Estados Unidos, por sua série "Arquivos", recebeu o prêmio Leonardo da Vinci em Florença, na Itália, em fevereiro de 2022, e foi premiada com a Medalha de Reconhecimento da Embaixada de Madagascar no final daquele ano.

A artista foi convidada por Peralta a submeter seu trabalho para o projeto depois que ele descobriu suas pinturas nas redes sociais no início deste ano.

"Ter meu trabalho lançado à Lua é uma honra de magnitude imensurável", disse Shakti à CNN por email. "É uma conquista marcante não só para mim, mas para a comunidade artística mais ampla de Madagascar e reafirma a importância do meu patrimônio e das histórias que me esforço para compartilhar através da minha arte.

"Quero apresentar Madagascar às pessoas, minha terra natal. Como somos, como nos comportamos, nossas tradições e nossas vestimentas. O país tem o dobro do tamanho da França, por exemplo -- então há muita cultura," disse ela.

Entre as pinturas selecionadas de Shakti está uma obra de grande formato intitulada The Keepers of the Lost Wisdom, que retrata o conhecimento e a força transmitidos através das gerações de mulheres malgaxes (grupo étnico da ilha de Madagascar). Também será enviada à Lua sua pintura intitulada La Reine, que, segundo ela, enfatiza as complexidades e a beleza da experiência feminina. Outra peça, Astrochelys Radiata, destaca a biodiversidade única de seu país.

"Enquanto vivia e trabalhava em Paris, a incorporação de temas tradicionais malgaxes nas composições modernistas de Tara Shakti estabelece uma voz única na arte contemporânea arquivada na coleção Lunar Codex", disse Peralta.

Embora Shakti seja atualmente a única artista malgaxe confirmada cujo trabalho será apresentado, Peralta incentiva artistas de Madagascar e de outros lugares a submeterem seus portfólios para revisão e possível inclusão, o que é gratuito.

Outros artistas cujas obras já foram lançadas como parte do projeto Lunar Codex incluem Ada Limón, a atual poetisa laureada dos EUA, que escreveu um poema para a espaçonave Europa Clipper da Nasa, destinada a Júpiter em outubro, e Didi Mendez, uma artista e curadora cubano-americana cujo trabalho foi incluído no lançamento bem-sucedido de fevereiro.

"O verdadeiro poder do projeto Lunar é inspirar os artistas de hoje. Se eles estão trabalhando na obscuridade e se perguntando se seu trabalho terá algum valor, agora eles podem ter certeza da imortalidade de seu trabalho", disse Peralta. "Afinal, por que estamos fazendo arte senão para deixá-la para o futuro, para ter uma parte de nós que durará mesmo depois que terminarmos?"

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