Gemas coloridas e diamantes “imperfeitos”: anéis de noivado que vieram para ficar
Pedras preciosas não tradicionais caíram no gosto das celebridades e casais em busca de um anel peculiar ou mais acessível
Quando você pensa em um anel de noivado, o que você imagina? Talvez uma única pedra de brilhante, ou um círculo de pedras menores ao redor da joia principal.
Não importa o estilo, você provavelmente está imaginando diamantes brancos, que têm sido os símbolos majoritários do compromisso matrimonial por mais de um século. Mas, na última década, as tradições em torno dos anéis de noivado ficaram mais soltas, à medida que pedras preciosas coloridas e designs exclusivos se tornaram predominantes nas redes sociais e nos dedos das celebridades.
Agora, muitos designers de joias oferecem anéis de noivado com safiras, rubis e pérolas – assim como diamantes “imperfeitos”, que podem ser brutos, salpicados com tons de cinza ou coloridos em matizes como marrom ou rosa – para casais em busca de um anel peculiar ou mais acessível.
“Acho que há uma mudança maior nas atitudes em torno dos anéis de noivado”, disse por telefone Leigh Batnick Plessner, diretora de criação da joalheria Catbird, de Nova York. “Deve ser algo que te faça feliz, e não precisa seguir regras ou tradições”.
No entanto, os diamantes ainda reinam, de acordo com uma pesquisa recente da editora de casamentos The Knot, com 86% dos 5 mil entrevistados nos Estados Unidos preferindo-os como pedra central dos anéis de noivado, e a moissanite (pedra que imita o diamante) a segunda opção mais popular.
Os diamantes há muito tempo representam “força e união”, porque são considerados as pedras mais duras do mundo, disse Marion Fasel, editora e escritora sobre joias. Eles começaram a ficar na moda entre a realeza, popularizada na Inglaterra do século 18 pela esposa de George III, a rainha Carlota, explicou Fasel.
Mas os diamantes só começaram a se tornar culturalmente sinônimo de casamento depois que a Tiffany & Co. lançou o anel de noivado moderno, com seu icônico diamante de seis pontas, em 1886.
Então, em meio ao boom de casamentos após a Segunda Guerra Mundial, uma redatora da Filadélfia, Frances Gerety, criou o “slogan do século” publicitário para a gigante da mineração De Beers: “Um diamante é para sempre”.
Desde a década de 1940, o valor dos diamantes é medido por: corte, cor, clareza e peso em quilates, que foram padronizados pelo Gemological Institute of America (GIA) e fortemente promovidos pela De Beers.
“Quando ele não é branco, é considerado uma imperfeição”, disse a designer de joias Julie Stark. Seu estúdio, Point No Point, com sede nos arredores de Seattle, é especializado em anéis de diamantes pretos e salpicados de cinza.
“(Mesmo) diamantes champanhe não eram considerados muito valiosos porque tinham uma certa cor”, disse ela, usando um nome frequentemente dado a pedras marrom-amareladas claras.
Existiram alguns anéis de noivado de alto padrão com pedras preciosas coloridas no passado – a famosa princesa Diana usava um halo de safira azul de 12 quilates com diamantes, e Jennifer Lopez recebeu um diamante rosa de 6,1 quilates de Ben Affleck em 2002. Mas enquanto os anéis de noivado das celebridades aumentaram em tamanho e preço, na sua maioria permaneceram na cor tradicional.
Isso mudou nos últimos anos, com Emma Stone e Ariana Grande usando anéis que incorporam pérolas, Elizabeth Olsen ostentando uma esmeralda, a princesa Eugenie, do Reino Unido, usando uma safira rosa-laranja de 20 quilates e Katy Perry revelando um design rubi.
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Os diamantes marrons também tiveram seu momento importante nos últimos dois anos, desde a joia rosa-marrom de Kate Hudson combinada com ouro rosé até a joia em forma de ovo de 11 quilates de Scarlett Johansson em uma faixa de cerâmica que acredita-se ter sido desenhada por Taffin.
“Pedras (marrons) não seriam vistas dez anos atrás para um anel de noivado como aquele”, disse Fasel, que acredita que as escolhas das celebridades chegam ao mercado consumidor. “Quando as pessoas fazem escolhas únicas em um nível de alto padrão, isso dá às mulheres coragem para fazer algo um pouco diferente do que o design tradicional”, complementou.
Enfatizando o que é único
Por volta de 2008, antes da Catbird começar a se concentrar em joias finas, a diretora de criação Batnick Plessner e a fundadora Rony Vardi perceberam que um de seus anéis, uma pequena safira branca em forma de galho de salgueiro, estava se tornando uma escolha cada vez mais popular para noivados.
Mesmo com um preço um pouco acima da média – US$100 (R$570) -, tornou-se o ponto de partida para a loja mudar o foco, incluindo a construção de um estúdio de joalheria para 63 pessoas. A Catbird agora vende anéis de noivado de vários outros designers de joias, bem como seus próprios, a preços de até US$15 mil (R$86 mil) – e muitos deles são não tradicionais.
Assim como as pedras não convencionais, os clientes da Batnick Plessner também expressaram interesse crescente em conjuntos alternativos que não fossem “apenas a tradicional pedra solitária”, disse ela, acrescentando que a seleção da marca não “parece exatamente certa” para noivas.
Hoje, as ofertas da Catbird incluem um trio romântico de safiras rosa-pálido com corte rose-cut (assim como uma versão em azul) da designer Jennie Kwon, um conjunto majestoso de seis diamantes salpicados da Digby & Iona e um diamante preto solitário de sua própria linha.
Da mesma forma, Point No Point oferece anéis distintos, optando por designs intrincados e inspirados em antiguidades que destacam os tons pontilhados de diamantes salpicados ou a nebulosidade do branco-gelo.
“Assim como uma impressão digital ou um floco de neve, todos eles têm seus próprios tipos de marcações e translucidez”, explicou Stark. “Somos capazes de apreciar a beleza de algo que não é perfeito”.
A designer de joias de Londres Ruth Tomlinson também foi influenciada pelas formas orgânicas da natureza, produzindo peças que ecoam a delicada geometria dos corais ou explosões de geodes. Ela costuma trabalhar com safiras em tons pastéis, em rosa ou verde, porque favorece a durabilidade das pedras preciosas.
Mas sua primeira linha de joias finas destacou as texturas naturais e ásperas dos diamantes brutos, que ela acredita oferecer uma estética discreta que enfatiza a beleza inerente da joia.
“A natureza pode criar algo que é tão perfeito por si só”, disse Tomlinson. “Eu criei uma gama que parecia que o metal havia crescido em torno de pedras – como se a coisa toda pudesse ter sido desenterrada junto”, complementou.
Mudanças na indústria
À medida que o gosto por pedras preciosas se ampliou, joalheiros e consumidores também se tornaram mais preocupados com os impactos ambientais e sociais de seus anéis de noivado.
O surgimento de diamantes cultivados em laboratório, sintéticos, mudou a indústria, e muitos joalheiros – incluindo todos os entrevistados desta matéria – enfatizam a sustentabilidade, trabalhando principalmente com ouro reciclado.
“É uma prioridade de nossos clientes saber a procedência dos materiais com que trabalhamos”, disse Batnick Plessner.
Os casais também têm mais opções do que nunca e podem facilmente procurar designers independentes em qualquer lugar do mundo através das redes sociais e sites de comércio eletrônico.
Da mesma forma, os estúdios independentes também têm mais caminhos para alcançar uma base de clientes mais ampla. A atriz Zoë Kravitz, por exemplo, encontrou seu anel de noivado clássico no Instagram há alguns anos, disse Fasel.
“(O impacto das redes sociais) é enorme, porque as pessoas podem ver os anéis mais de perto”, disse ela. “Eles podem procurar anéis de uma maneira diferente”.
Embora os anéis não tradicionais tenham entrado no mercado, é improvável que os diamantes sejam destronados tão cedo. Eles continuam intimamente associados ao amor, e o relatório anual mais recente da indústria de diamantes da Bain descobriu que 60% a 70% dos participantes da pesquisa nos Estados Unidos, China e Índia acreditam que os diamantes são “uma parte essencial do noivado”.
Mas Fasel observou que as pedras preciosas entram e saem de moda de acordo com sua disponibilidade, com a descoberta de minas de diamantes no Brasil e na África do Sul no início do século 18 e no final do século 19, respectivamente, moldando nossas escolhas de anéis atualmente.
Em meados dos anos 2000, a indústria de diamantes começou a alertar que o mundo estava ficando sem essas pedras precisosas, de acordo com a Bloomberg. E embora isso ainda não tenha acontecido, a oferta global atingiu o pico em 2006, com 176 milhões de quilates extraídos, de acordo com dados coletados para o Processo Kimberley, um esquema de certificação estabelecido para interromper o comércio de diamantes provenientes de conflito.
No ano passado, em meio à pandemia, a oferta global caiu para 108 quilates extraídos.
O aumento dos diamantes de laboratório está complicando ainda mais o mercado, oferecendo preços mais acessíveis para gemas quimicamente idênticas. The Knot relatou que, em 2021, quase um em cada quatro casais que participaram da pesquisa havia optado por uma pedra fabricada artificialmente, um aumento de 11% em dois anos.
Ainda assim, Fasel acredita que os gostos contemporâneos estão se tornando mais ousados, e a indústria de joias respondeu à altura.
“Estamos vivendo em um período glorioso da Renascença de anéis de noivado, não há dúvida sobre isso”, disse ela.