Abin aponta crescimento do CV e PCC na fronteira com Colômbia em sete anos
Relatórios indicam atuação no tráfico de drogas, imigração aos EUA e garimpo de ouro

Relatórios da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) apontam crescimento exponencial das facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) na “Amazônia Compartilhada”, entre Brasil e Colômbia.
Dois relatórios obtidos e analisados pela CNN Brasil, de janeiro de 2018 e outubro de 2025, detalham como age o crime organizado de forma transnacional, em parceria com facções dos países vizinhos Colômbia, Peru e Venezuela.
O mais recente descreve como o crime se instalou na região da fronteira ao longo de sete anos em diversas vertentes.
"Ano após ano, observa-se a intensificação dos fluxos de entorpecentes entre os dois países, fruto do aumento contínuo de produção de folha de coca e do maior intercâmbio entre as organizações criminosas brasileiras e colombianas que atuam no narcotráfico. Há, também, a crescente interlocução entre redes de mineração e comercialização ilegal de ouro, com exploração de rios que passam por Brasil e Colômbia e intercâmbio de expertise criminal para construção de equipamentos.
Por fim, redes de contrabando de migrantes se valem da menor capacidade de fiscalização estatal na região para operacionalizar suas rotas, ao explorar pessoas em situação de vulnerabilidade, advindas de diferentes partes do planeta", diz o relatório assinado pelo diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
A cocaína produzida na Colômbia e também no Peru segue a chamada “Rota do Solimões”, que é um corredor fluvial que atravessa a região e conecta as fronteiras dos dois países. No lado brasileiro, o CV é responsável pelo varejo da droga no Amazonas, Pará, Acre e em Rondônia. Também há produção de pasta base e maconha.
Ouro
O rio Juami, cujo curso está totalmente inserido na unidade de conservação federal de proteção integral Esec (Estação Ecológica) Juami-Japurá, enfrenta uma das situações mais críticas associadas à mineração ilegal na região amazônica. Desde 2019, a atividade de mineração ilegal tem exercido forte pressão sobre o ecossistema local, provocando o assoreamento das margens e alterações no curso natural do rio.
Em 2024, foram registrados 116 alertas relacionados à prática ilegal na região. Estima-se que a produção mensal de ouro no rio Juami seja de aproximadamente 7,5 quilogramas.
No trecho colombiano da fronteira comum, o rio Puré é considerado o mais impactado pela mineração ilegal na região. Sobrevoo realizado por autoridades colombianas em 2023 identificou 169 dragas em operação, a maioria delas em território brasileiro. Estima-se que essas dragas tenham extraído 3.062 quilogramas de ouro em 2023, provocando erosão/sedimentação de 118.877.709 toneladas de solo, em média.
Tráfico de pessoas
O estudo realizado pela Abin foi em parceria com a DNI (Direção Nacional de Inteligência) da Colômbia e elenca que o tráfico de drogas, a mineração ilegal de ouro e o tráfico humano de migrantes como as principais ameaças à segurança humana e ambiental da região.
Contradição
O relatório da Abin vai contra a declaração do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, esta semana, que afirmou que “os Estados Unidos pelo menos começam a aceitar que a maior parte da cocaína não sai pelo Caribe", onde as forças americanas realizaram diversos ataques.
A fala do líder veio após duas ofensivas de Washington em menos de 24 horas em águas internacionais do Pacífico contra embarcações que, segundo o país, estariam ligadas ao narcotráfico.
"O Pacífico não é acessível por lanchas. É imenso. É aqui que o governo [Donald] Trump se engana", declarou o presidente em seu post, no qual enfatizou que "a maior parte da cocaína [transportada] pelo Pacífico sai por navios mercantes".


