Governança Ambiental: Apenas 5% dos Conselhos supervisionam biodiversidade
Estudo analisou 369 empresas nos Estados Unidos, Canadá e na América Latina

Apenas 5% dos conselhos de administração das empresas possuem supervisão direta sobre questões de natureza e biodiversidade, segundo um novo estudo global da EY, o Nature Risk Barometer 2025.
A segunda edição do relatório analisou companhias nos Estados Unidos, Canadá e América Latina (incluindo o Brasil). No total foram 369 empresas em 10 setores, baseando-se nas 14 recomendações da Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD).
A TNFD é uma iniciativa global desenvolvida pela ONU, em parceria com as ONGs WWF e Global Canopy. O objetivo é guiar organizações e instituições financeiras na identificação, avaliação, gerenciamento e comunicação de seus impactos, dependências, riscos e oportunidades relacionados à natureza.
Avanços e Lacunas na Transparência Ambiental
Apesar da baixa supervisão direta, o levantamento aponta progressos notáveis. Cerca de 27% das empresas avaliadas já integram a biodiversidade em suas agendas de sustentabilidade.
Em relação a métricas e metas, 43% das empresas divulgam indicadores ambientais focados em temas como água, desmatamento, reflorestamento e espécies ameaçadas.
"É positivo ver avanços em áreas como biodiversidade e métricas ambientais, mas ainda estamos longe do nível de governança e transparência que o cenário exige", afirma Leonardo Dutra, sócio-líder de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY Brasil.
"O objetivo desse relatório anual é incentivar a colaboração entre os setores e oferecer um panorama do estado atual dessas divulgações, avaliando seu alinhamento com a estrutura da TNFD".
O estudo também destaca uma discrepância entre a "cobertura" e o "alinhamento" das divulgações com as recomendações da TNFD.
Enquanto 94% das empresas avaliadas relatam pelo menos uma recomendação (um aumento de 87% em relação a 2023), as pontuações de alinhamento – que medem a qualidade e consistência das informações – são significativamente mais baixas (19% contra 75% de cobertura).
A América Latina se destaca no aumento da cobertura e do alinhamento (89% e 27%, respectivamente), impulsionada pela crescente valorização do capital natural.
Setores em Destaque e Desafios Contínuos
Empresas do setor extrativo e de processamento de minerais lideram as divulgações relacionadas à natureza, com 91% de cobertura e 27% de alinhamento.
"O destaque do setor extrativo e de processamento de minerais nas divulgações sobre a natureza pode ser resultado da intensa pressão por maior transparência e ações proativas", explica Dutra.
As empresas de alimentos e bebidas vêm em segundo lugar, com 88% de cobertura e 24% de alinhamento, impulsionadas pela complexidade de suas cadeias de suprimentos e novas exigências regulatórias, como as propostas pela União Europeia.
Por outro lado, o setor de serviços financeiros apresentou as menores classificações, com apenas 26% de cobertura e 8% de alinhamento. Dutra ressalta que as resoluções do Banco Central e do ISSB para este setor focam mais na parte climática, que, embora correlacionada, é distinta da biodiversidade e natureza.