Jurassic Park: âmbar com inseto é achado pela 1ª vez na América do Sul

Pesquisador brasileiro faz parte da equipe de cientistas que descobriu os fósseis no Equador; estudo é publicado pela revista Nature

Thiago Félix, da CNN, São Paulo
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Amostras abundantes de fósseis de âmbar com insetos foram encontradas pela primeira vez na América do Sul, mais precisamente no Equador.

O pesquisador brasileiro do Museu Nacional, Marcelo Carvalho, fez parte da pesquisa. A descoberta inédita pode fornecer novos dados sobre a construção do ambiente em que vivemos hoje.

O cientista é especialista em Palinologia, campo que estuda a vida na Terra por análises de vestígios dos pólens. O papel de carvalho foi investigar fragmentos de pólens encontrados nos fósseis, para confirmar a datação e descobrir qual data, ou melhor, período geológico esse material foi extraído.

Em entrevista à CNN, o pesquisador aponta detalhes do estudo.

“Na verdade, é a primeira vez que se acha esse tipo de material em grande abundância, e dentro dessa idade específica. A grande importância do trabalho é poder entender como era a flora naquele momento, como eram as florestas naquele momento,” explica Marcelo Carvalho, membro do Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional.

Ciência de cinema

O material é semelhante ao item usado pra contar a história do filme 'Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros'. Na ficção, cientistas conseguem coletar amostras do DNA dos dinossauros através do mosquito encontrado em um âmbar.

Para a tristeza das crianças, que são apaixonados pelos seres extintos, na vida real isso ainda não é possível, já que o tempo é implacável com as amostras e os fragmentos encontrados não contém o material necessário.

No trabalho, publicado e revisado pela revista Nature, foi possível estimar que a maioria do fósseis coletado têm aproximadamente 120 milhões de anos e pertencem ao período do Cretáceo, quando os continentes já estavam em processo de separação e trechos do sul do oceano atlântico estavam sendo formados.

A formação continental desse período é conhecido como Gondwana. O material tem a datação similar do óleo e gás extraído das bacias exploradas pela Petrobras, inclusive o novo objetivo da empresa, na região do Foz do Amazonas.

Mosca presa em uma amostra da resina calcificada de âmbar; item foi encontrado no Equador • Mónica Solórzano-Kraemer
Mosca presa em uma amostra da resina calcificada de âmbar; item foi encontrado no Equador • Mónica Solórzano-Kraemer

Importância para o clima

A descoberta é importante porque cientistas do mundo todo poderão estudar com mais detalhes a fauna e flora da atual América do Sul, considerando que os fósseis de âmbar achados anteriormente, eram predominantemente do hemisfério norte, agora será possível entender melhor, inclusive a formação das nossas atuais florestas, principalmente a amazônica.

“É um período que muda o sistema climático, fica mais úmido e começa a se instalar a zona de convergência intertropical, que temos até hoje na região equatorial. Podemos dizer com mais segurança que o clima estava mais úmido, nesse contexto que essa floresta meio que se desenvolveu” afirma o cientista brasileiro.

Os fósseis foram extraídos em camadas de rochas no Equador e formados ao redor de Araucárias, árvores encontradas em abundância até hoje, que são produtoras da resina que formam o âmbar, após a calcificação do líquido ao longo de milhões de anos.

Os cientistas Enrique Peñalver (esquerda) e Xavier Delclòs (direita) trabalhando na pedreira onde os fósseis foram encontrados • Mónica Solórzano-Kraemer
Os cientistas Enrique Peñalver (esquerda) e Xavier Delclòs (direita) trabalhando na pedreira onde os fósseis foram encontrados • Mónica Solórzano-Kraemer

Testemunhas 'oculares'

Pelo menos 60 amostras foram encontradas, assim os autores puderam identificar insetos como moscas, besouros, formigas, vespas e fragmentos de teias de aranha.

Todos esses bichos conviveram com os dinossauros da região até morrerem e ficarem presos nas resinas. São viajantes no tempo e testemunhas da evolução da terra.

Além do brasileiro, o trabalho contou com pesquisadores da Argentina, Colômbia, Equador, Alemanha, Panamá, Espanha, Suécia e os Estados Unidos.

O espanhol Xavier Delclòs é o cientista responsável pela descoberta.