COP30

Pantanal é o bioma mais atingido por incêndios em 40 anos

Levantamento do MapBiomas mostra que três em cada quatro hectares queimaram duas vezes ou mais nas últimas quatro décadas

Mariana Grasso, da CNN*, em São Paulo
Brigadas de incêndio no Pantanal  • MapBiomas
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O Pantanal é o bioma mais atingido por incêndios florestais no Brasil nos últimos 40 anos, segundo a primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) do MapBiomas, com o apoio do Instituto SOS Pantanal.

O levantamento, que compila informações desde 1985, aponta que três em cada quatro hectares (72%) do Pantanal queimaram duas vezes ou mais nas últimas quatro décadas, e que as cicatrizes deixadas são as mais extensas do país.

Em 2024, a situação no Pantanal se agravou ainda mais, com um aumento de 157% na área queimada em comparação com a média histórica de 40 anos avaliada pelo MapBiomas Fogo.

Nesse período, a quase totalidade (93%) dos incêndios registrados no bioma ocorreu em vegetações nativas, especialmente em formações campestres e campos alagados (71%).

Corumbá, em Mato Grosso do Sul, o município de maior extensão do bioma, detém o recorde de cidade brasileira com maior área queimada acumulada entre 1985 e 2024, com mais de 3,8 milhões de hectares.

"Os dados históricos mostram a dinâmica do fogo no Pantanal, que se relaciona com a presença da vegetação natural e com os períodos de seca. Em 2024, o bioma queimou no entorno do Rio Paraguai, região que passa por maiores períodos de seca desde a última grande cheia em 2018", explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do Pantanal no MapBiomas.

Outros biomas

Em 2024, o país teve 30 milhões de hectares queimados, um volume 62% acima da média histórica anual, consolidando o ano como um dos mais críticos desde o início da série histórica.

Além do Pantanal, outros biomas também sofreram com a escalada do fogo:

  • Amazônia: Foi o epicentro das queimadas em 2024, com 15,6 milhões de hectares consumidos – mais da metade da área total queimada no Brasil e o maior valor da série histórica, 117% acima da média. Pela primeira vez, a vegetação florestal superou as pastagens como uso da terra mais afetado;
  • Mata Atlântica: Registrou um recorde negativo, com 1,2 milhão de hectares queimados, um aumento de 261% sobre a média histórica, principalmente em áreas já alteradas pela ação humana;
  • Cerrado: Apresentou os dados mais preocupantes, com 3,7 milhões de hectares queimando mais de 16 vezes em 2024, e a formação florestal perdendo 7,7 milhões de hectares, 287% acima da média.

O relatório também destaca a forte concentração sazonal dos incêndios: 72% da área queimada anualmente ocorre entre agosto e outubro, com setembro sendo o mês mais crítico (33%). A compreensão desses recortes reforça a urgência de políticas públicas coordenadas voltadas à prevenção e ao controle de incêndios nos meses de maior risco.

Apesar do cenário preocupante, o RAF aponta um avanço nos recursos de monitoramento e na acessibilidade às informações, com a plataforma do MapBiomas Fogo disponibilizando dados detalhados e gratuitos sobre queimadas em todo o país. O uso de inteligência artificial e imagens de satélite contribui para fornecer ferramentas eficazes para subsidiar políticas públicas e prevenir desastres.

Ações de prevenção e combate

Diante do cenário crítico, o Instituto SOS Pantanal segue trabalhando na implementação de planos operativos nas regiões mais vulneráveis. O Projeto Brigadas Pantaneiras, parte do Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais da instituição, avança em 2025, com foco na valorização das comunidades locais e no manejo integrado do fogo.

Uma nova brigada foi formada no Pantanal Sul e 88 brigadistas de 13 brigadas passaram pela capacitação anual promovida pelo SOS Pantanal em parceria com o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul.

Além disso, o instituto realizou em abril o I Seminário Internacional de Manejo Integrado do Fogo, reunindo especialistas e promovendo a troca de conhecimentos para aprimorar as estratégias de combate.