Contra estereótipos racistas, autor destaca qualidades de negros na História
À CNN Rádio, o escritor e roteirista Alê Santos ressaltou a importância de combater o racismo a partir do histórico da escravidão no Brasil e no mundo
“Durante o processo de colonização, falava-se que negros foram criados para o trabalho porque não tinham intelectualidade, que eram fracos, inferiores, que seus descendentes não tinham valor cultural”, exemplifica o escritor e roteirista Alê Santos ao falar dos estereótipos que acompanham a população negra. “Isso foi propagado durante três séculos.”
Por isso, para o escritor, é essencial resgatar o passado que “verdadeiramente favorece a imagem do negro como estrategista de luta, como ferreiro, artesão, intelectual”, diz. Exemplo seria relembrar a Revolta dos Malês, que ocorreu em 1835, na cidade de Salvador (BA). Segundo ele, essa é uma “história de superação intelectual e de uma revolução no país que deu certo.”
O Dia Internacional para Relembrar o Tráfico de Escravos e sua Abolição é nessa terça-feira (23). “É importante falar sobre e lembrar da diáspora africana, que foi um movimento de saída de pessoas negras do continente africano de forma muito violenta e agressiva”, avalia o escritor.
Para ele, disseminar histórias de resistência da população escravizada, como exemplos de estratégia de sobrevivência a esse período, “é de grande importância para extinguir do imaginário social a imagem estereotipada e racista direcionada aos negros.
Em relação à Abolição da Escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888, o escritor Alê Santos ressalta que o país foi um dos últimos a declarar liberdade aos escravos. “Isso diz muito sobre a sociedade brasileira. Aqui, a abolição foi praticamente um acordo entre as elites para modernizar o país e fundar uma República com novos valores.”
O roteirista relembra as palavras de um dos principais escritores abolicionistas, Joaquim Nabuco (1849-1910), ao dizer que “enquanto a sociedade negra não for integrada, com acesso à educação, terra e condições de trabalho, a escravidão será uma sombra da nossa sociedade”.
E ainda é uma sombra, anos depois, segundo Alê Santos, porque “quando olhamos para os índices sociais, de desemprego, saúde, educação e pobreza, os negros são ainda os que mais sofrem no país”, argumenta.
O escritor e roteirista finaliza constatando que o consumo de conteúdo antirracista é cada vez maior pelo fácil acesso e rápido compartilhamento de textos e de autores, como Abdias do Nascimento (1914-2011) e Lélia Gonzalez (1935-1994), na internet. “Esse conteúdo não é só lido pela comunidade negra. Todo mundo está lendo. E os jovens têm grande papel nisso.”