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    Dedicação, esperança e humildade: relembre a trajetória de Abilio Diniz

    Empresário morreu aos 87 anos, na capital paulista

    Da CNN

    Nascido em 1936 em São Paulo, Abilio dos Santos Diniz transformou a doceria da família em um dos maiores negócios do Brasil, o Grupo Pão de Açúcar.

    O empresário, que morreu neste domingo (18), vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite, teve uma trajetória extensa, marcada pelo empreendedorismo e pela determinação. Nos últimos anos, ele também comandou programas na CNN, onde recebeu empresários, políticos e nomes importantes da sociedade civil para discutir e repensar os caminhos do desenvolvimento econômico e social de nosso país.

    Relembre momentos da história de Abilio Diniz:

    Do navio à doceria

    O pai de Abilio, Valentim Diniz, chegou ao Brasil, vindo de Portugal, em 1929. No Rio de Janeiro, se maravilhou com os pontos turísticos da então capital brasileira – em especial, o Pão de Açúcar, na Urca.

    Valentim, que logo depois se casou com Floripes Diniz, foi caixeiro e entregador de um supermercado. Em 1949, abriu a doceria “Pão de Açúcar”.

    Abilio foi o mais velho de seis irmãos e começou a trabalhar ajudando o pai no empreendimento, crescendo no bairro do Paraíso, em São Paulo.

    Abilio Diniz: “Muita gente não acredita quando eu conto isso, mas eu era gordinho e baixinho até os doze anos” / Acervo Pessoal
    Abilio, aos cinco anos, com o pai e a mãe, na São Paulo do início dos anos 1940. / Acervo Pessoal

    O Grupo Pão

    Após se formar na segunda turma de administração de empresas da recém-criada FGV, Fundação Getúlio Vargas, Abilio planejava trabalhar em uma multinacional ou seguir carreira no exterior, onde realizaria o sonho de se tornar professor.

    A veia empreendedora, no entanto, falou mais alto: o pai de Abilio lhe fez a proposta de abrir um supermercado. É inaugurado então o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em 1959, nas proximidades da doceria dos pais. O negócio deu tão certo que, em dez anos, a rede já contava com quarenta unidades e mais de 1.600 funcionários.

    Abilio e o pai, Valentim Diniz. “Meu pai me ensinou a grandeza da honestidade e da ética”. / Acervo Pessoal

    Nos anos 1990, a disputa familiar pelo controle do Grupo Pão Açúcar quase levou o grupo à falência. Mas os irmãos, em acordo, decidiram passar o comando a Abilio, que decidiu abrir o capital do grupo da Bolsa de Valores.

    Anos depois, em 1999, Abilio acertou a sociedade com a rede francesa Casino. Foram 54 anos de história na companhia. Abilio deixou o “GPA” em 2013.

    Muito além dos supermercados

    Após sair definitivamente do Grupo Pão de Açúcar, Abilio assumiu a presidência do Conselho de Administração da BRF. Mas o DNA empreendedor não parou por aí.

    Em 2014, a empresa de investimentos Península Participações, de Abilio, adquiriu participação acionária do Carrefour Brasil, eventualmente tornando Abilio Diniz o segundo maior investidor do Carrefour global e membro do conselho de administração da empresa.

    Com Georges Plassat, presidente do conselho e CEO do grupo Carrefour / Acervo Pessoal

    Dedicação à sociedade brasileira

    Além de capitanear uma das maiores empresas brasileiras, Abilio teve destaque na política do país: entre 1979 e 1989, foi membro do Conselho Monetário Nacional. Também auxiliou na articulação da campanha de Tancredo Neves, em 1984.

    Abilio durante a participação no Conselho Monetário Nacional. / Adão Nascimento/ Estadão Conteúdo
    Abilio com Tancredo Neves. “Procurei ajudar o país naquele momento difícil pelo qual passava” / Acervo pessoal

    Abilio circulou no meio político e nas altas cúpulas do empresariado brasileiro e internacional. Buscou trazer a visão empreendedora e a esperança no progresso da sociedade.

    Paixão pelos esportes

    Ainda na infância, Abilio encontrou a paixão pelos esportes, praticou judô, boxe, capoeira… Abilio foi triatleta e um exemplo na prática de atividades físicas, principalmente na terceira idade.

    Futebol, uma das grandes paixões: “De goleiro razoável, me transformei num arqueiro corajoso, do tipo que não tremia diante do ataque adversário” / Acervo Pessoal
    Abilio, tricampeão brasileiro de motonáutica / Acervo Pessoal

    Abilio levou o esporte como uma prioridade na vida, um hábito que passou aos filhos. Junto deles, fundou o NAR (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo).

    Já nos últimos anos de vida, Abilio criou a meta de disputar um torneio mundial de squash após os 90 anos de idade.

    Eu sempre fui um esportista, eu sempre fui um atleta. E não é que isso seja um sacrifício pra mim

    Abílio Diniz
    Levando o exercício físico ao limite em uma prova de triatlo. / Acervo Pessoal
    Em 2010, na Maratona de Revezamento do Pão de Açúcar, com o ícone do esporte olímpico brasileiro, Vanderlei Cordeiro de Lima. / Luiz Carlos Murauskas/ Folhapress

    Uma grande família

    Abilio Diniz teve seis filhos, dezoito netos, além de bisnetos. O filho caçula, Miguel, nasceu em 2009, quando o empresário tinha 72 anos.

    Com os filhos em 2010: Pedro Paulo, Adriana, Rafaela, Miguel, João Paulo e Ana Maria. / Acervo Pessoal

    Diniz se casou duas vezes. Em seu primeiro relacionamento, com Auriluce, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Pedro Paulo e Adriana. Já com Geyze, com quem se casou em 2004, vieram Rafaela e Miguel.

    O casamento com Geyze, em 2004, na capela da casa em que moravam em São Paulo. / Acervo Pessoal
    As mãos de Miguel, Rafaela, Geyze e Abilio, em 2015. / Acervo Pessoal
    Em julho de 2016, com a família inteira, na Croácia. / Acervo Pessoal

    Tragédias pessoais

    Em 1989, Abilio Diniz viveu uma experiência traumática. Foi sequestrado quando ia para o escritório. O resgate pedido era de 30 milhões de dólares. Pistas deixadas pelos sequestradores, levaram a polícia até uma casa no Jabaquara, zona sul de São Paulo, onde o empresário estava preso em um cubículo subterrâneo. Depois de horas de negociações, Abilio Diniz foi libertado. Foram sete dias em cativeiro.

    Um momento decisivo: o dia da libertação de seu sequestro. / Luiz Novaes/ Folhapress

    Outro momento traumático, foi a morte do filho João Paulo Diniz aos 58 anos, de ataque cardíaco.

    Eu digo sempre para as pessoas. veem as glórias que eu tenho, que eu conquisto, mas não vêem os tombos que eu levo. esse foi um tombo. esse foi um tombo. eu nunca poderia imaginar que o João pudesse ir antes de mim. ele era meu melhor amigo, meu companheiro, meu companheiro de esportes, de tudo

    Abílio Diniz
    Abilio e o filho, João Paulo / Acervo Pessoal/Reprodução

    Renovação

    Abilio Diniz gostava de compartilhar suas experiências e impactar pessoas.

    Publicou dois livros que logo se tornaram best-sellers, “Abilio Diniz – Caminhos e Escolhas” (2004) e “Novos caminhos, novas escolhas” (2016), publicado no ano em que completou 80 anos.

    Depois, foi a vez de dividir as experiências no TED Talk “Comecei a fazer 80 anos com 29”, que já teve mais de 1,3 milhões de visualizações no YouTube.

    Apaixonado por gestão, criou em 2010 o curso Liderança 360° na Fundação Getúlio Vargas, onde já era professor há 14 anos.

    Inquieto e sempre disposto a refletir sobre os rumos do Brasil, se tornou apresentador na CNN. Foram dois programas de entrevistas. No primeiro deles, “Olhares Brasileiros” (2022), Abilio conversou com personalidades de vários setores sobre o país em um ano de eleição.

    Na sequência, conversou em um novo programa com grandes nomes da política e com os maiores empresários brasileiros. Foram três temporadas de “Caminhos com Abilio Diniz” (2023).

    De entrevistador a entrevistado

    Em dezembro de 2023, em uma edição especial de seu programa de entrevistas, na CNN Brasil, Abilio Diniz trocou de posição. Assumiu o lugar de entrevistado e abriu a vida pessoal para os âncoras Márcio Gomes e Elisa Veeck, além de falar dos caminhos para o progresso e o desenvolvimento do Brasil.

    Abilio Diniz contou sobre longevidade, liderança, gestão empresarial, a perda do filho, João Paulo, entre outros temas.

    Na edição, quando perguntado sobre o legado que ele pretendia deixar, após a sua passagem, ele pontuou:

    Eu amo a minha vida. Eu amo aquilo que eu faço. Quando eu morrer, eu não quero aquela turma dizendo “Coitado”… Põe a música do Gonzaguinha… “Viver é não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar alegria de ser um eterno aprendiz” que eu sou”

    Abílio Diniz

    *As imagens utilizadas nesta reportagem foram retiradas das redes sociais de Abilio Diniz e da obra “Novos Caminhos, Novas Escolhas, de Abilio Diniz (Editora Objetiva, 2016). Todas as imagens são do acervo pessoal do empresário.

    *Publicado por Bruno Chiarioni, Mylene Guerra e Letícia Brito