Em 5 anos, 103 crianças foram baleadas e 30 morreram vítimas da violência no Rio
Maioria dos casos aconteceu dentro das favelas durante confrontos; levantamento do Instituto Fogo Cruzado mostra ainda que muitas crianças passam a ter problemas psicológicos


Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que 103 crianças foram baleadas, entre elas bebês, e 30 morreram vítimas da violência no Rio de Janeiro nos últimos cinco anos. A maioria dos casos – 64 crianças – aconteceu dentro das comunidades e as vítimas foram feridas durante confrontos entre grupos rivais de traficantes ou em operações policiais.
“Muito se fala em proteção das crianças, mas muito pouco se faz. Os dados mostram que elas estão sendo feridas, mortas, que têm problemas psicológicos, mas pouco ou nada é feito por aqueles que têm o dever constitucional de garantir um crescimento saudável e com direitos garantidos para estes pequenos cidadãos”, afirma a diretora do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira.
O levantamento do Instituto Fogo Cruzado mostra ainda que, além das marcas físicas, muitas crianças passam a apresentar problemas psicológicos. É o caso de uma menina de 9 anos, que presenciou um homem ser assassinado dentro do quarto dela na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte, no último dia 6 de maio. Na ocasião, uma operação da Polícia Civil deixou 28 mortos.
Logo na virada do ano de 2021, a menina Alice Pamplona da Silva, de cinco anos, foi morta ao ser atingida por um tiro durante as comemorações de Réveillon, no Morro do Turano, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Somente neste ano, nove crianças foram feridas por balas perdidas e três morreram.

Dentre as crianças baleadas, duas foram atingidas em operações policiais, duas em tentativas de homicídio e duas em ataques a civis. Dois casos não tiveram sequer a motivação definida.
O instituto também revela que, apesar de o número de crianças baleadas ainda ser significativo, a quantidade de baleados este ano, até o dia 12 de outubro, é 55% menor na comparação com o mesmo período dos anos de 2020 e 2019. Foram 40 crianças feriadas por arma de fogo, sendo 20 entre janeiro e outubro de 2019 e as outras 20de janeiro a dezembro de 2020.
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A operação ocorrida em 6 de maio de 2021 deixou pelo menos 29 mortos • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
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Mãe e esposa de homem morto em confronto no Morro do Jacarezinho no Rio de Janeiro (RJ) choram em frente à portaria da emergência • Betinho Casas Novas/Futura Press/Estadão Conteúdo
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Passageiros que estavam no metrô foram atingidos por balas perdidas • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
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Operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deixou ao menos 29 mortos • Reginaldo Pimenta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
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Um policial recebeu um tiro e acabou morrendo na operação • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
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Segundo a polícia, a maioria dos mortos era de suspeitos de integrar o tráfico • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
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A incursão da Polícia Civil ocorreu para apurar o suposto aliciamento de menores e o sequestro de trens da SuperVia • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
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Operação policial deixou pelo menos 29 mortos nas proximidades da estação Jacarezinho • Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
Polícia Militar diz que atua dentro da lei e culpa criminosos pelos confrontos
Procurada pela CNN, a Secretaria de Estado de Polícia Militar argumentou em nota “que os policiais militares atuam num cenário complexo, construído há décadas pela disputa violenta por território entre organizações criminosas rivais, combatendo facções de traficantes e milicianos”.
A pasta também afirmou que as operações policiais são “transparentes e protegidas pela legislação em vigor”, “precedidas de informações do setor de inteligência da corporação e de órgãos oficiais” e “executadas com base em protocolos técnicos com foco central na preservação de vidas”.
“Nossos policiais militares são constantemente treinados e preparados para atuarem de forma segura. (…) Vale ressaltar ainda que a opção pelo confronto é sempre uma iniciativa dos criminosos, que realizam ataques armados inconsequentes diante do cumprimento das missões institucionais dos entes de segurança do Estado”, acrescentou a secretaria.