Governo de SP exonera “número 2” da Educação após erros em material didático
Renato Câmara Nunes Dias era o coordenador pedagógico da pasta ocupada pelo secretário Renato Feder; CNN teve acesso a trechos que expõem as falhas nos conteúdos de história e biologia
O coordenador pedagógico da Secretaria da Educação de São Paulo, Renato Câmara Nunes Dias, foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (6) após a divulgação de erros contidos no material didático digital fornecido aos estudantes da rede estadual de ensino.
Renato Dias era tido como o “número 2” de Renato Feder, secretário que ocupa a pasta da Educação desde o início deste ano.
Na última semana, a CNN teve acesso a três trechos do conteúdo didático, que expõem erros nas disciplinas de história e biologia.
Em uma das passagens, o texto afirma: “A proibição do uso de biquínis foi adotada por Jânio Quadros em 1961, quando ele era prefeito de São Paulo. Ele emitiu um decreto vetando o uso de biquínis nas praias da cidade. A justificativa de Quadros era que o traje de banho seria uma afronta à moral e aos bons costumes. Esse impedimento também causou grande repercussão na época e gerou protestos de mulheres.”
O uso de biquínis foi, de fato, proibido por Jânio Quadros, mas nas praias brasileiras, quando ele era presidente da República. A cidade de São Paulo não é litorânea.
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Ainda na disciplina de história, outra parte do material traz a seguinte informação errada: “Em 1888, Dom Pedro II assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil.” A Lei Áurea, na verdade, foi assinada pela Princesa Isabel na referida data.
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No material de biologia consta que doenças como Parkinson e Alzheimer podem ser transmitidas pela água, por meio da ingestão de metais pesados, como mercúrio, agrotóxicos, remédios e produtos químicos em geral.
No caso do Alzheimer, uma possível causa para a doença ainda não foi identificada e a hereditariedade é considerada um fator de risco.
O mesmo fator é relacionado ao mal de Parkinson. Neste segundo caso, há pesquisas que indicam que a exposição a toxinas, como agrotóxicos, podem ter causado o desenvolvimento da doença em algumas comunidades.
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Repercussão
O Coletivo Educação em Primeiro Lugar, composto por deputados estaduais da oposição em São Paulo, divulgou o caso e afirmou ter acionado a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado para apurar a situação.
A CNN procurou os órgãos mencionados para apurar o andamento do caso e aguarda retorno.
Além do afastamento dos envolvidos, por meio de nota à época, a Secretaria da Educação disse que o conteúdo era editável e os erros apontados já haviam sido corrigidos.
“A coordenadoria pedagógica da instituição vai reforçar a equipe de revisão para que haja aprimoramentos constantes nos recursos didáticos, sempre em total harmonia com o Currículo Paulista”, acrescentou a pasta na ocasião.
Polêmica recente
No mês passado, a Secretaria da Educação divulgou a decisão de não receber mais livros didáticos físicos do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD).
Na ocasião, a pasta informou que usaria conteúdo 100% digital para alunos a partir do 6° ano do ensino fundamental, e afirmou que o estado possui material didático próprio e que isso manteria a coerência pedagógica.
Logo depois do anúncio, o Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um procedimento para apurar a decisão após solicitação realizada pelo deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL).
Para o parlamentar, “os textos presentes nos livros didáticos são os únicos a que muitos alunos têm acesso. Privá-los de receber materiais rigorosamente avaliados e oferecer material apenas digital é uma verdadeira tragédia”.
Após a repercussão do caso, o governo de São Paulo decidiu recuar da decisão de oferecer apenas livros digitais para alunos das escolas estaduais.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse, em agenda pública no interior do estado, que irá disponibilizar o material didático de forma impressa e digital, ficando a critério do aluno escolher.
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*Com informações Bruno Laforé, Gabriele Koga e Vinícius Bernardes