Para especialistas, discutir redução da maioridade penal após ataque é "diálogo com pânico” e “não enfrenta o real problema” da violência

Ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro reacendeu a discussão inclusive na Câmara dos Deputados

Lucas Schroeder, da CNN, em São Paulo
Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo.
Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo.  • Reprodução / Redes Sociais
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Na última segunda-feira (27), um adolescente de 13 anos matou a facadas uma professora de 71 anos na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo. Ele feriu outras quatro pessoas durante o ataque no local.

Após prestar depoimento à polícia, o jovem foi encaminhado a uma unidade da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa), onde permanece internado.

O episódio reacendeu a discussão sobre a redução da maioridade penal no país, medida que conta com apoio de alguns parlamentares na Câmara dos Deputados.

Para especialistas ouvidos pela CNN, a redução da maioridade penal, no entanto, não é a solução ideal para evitar eventos como o ocorrido na capital paulista.

Na avaliação de Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), a proposta é a "resposta mais simples ao pânico" e não "enfrenta o real problema".

"Tirar esses potenciais ameaçadores de circulação parece uma solução fácil e mágica. Entretanto, isso produz efeitos colaterais muito piores", diz ele.

Segundo o especialista, encarcerar adolescentes pode fazer com que eles se juntem às organizações criminosas e "mergulhem de vez na carreira criminal".

"Temos que pensar sobre o que tem provocado essas revoltas e como os adolescentes se comportam na internet. Precisamos que as redes sociais também participem desse debate. É um problema farto que exige muito diálogo", acrescenta.

Miriam Abramovay, socióloga e especialista em violência escolar, aponta que manter jovens em instituições fechadas não é uma alternativa para reabilitá-los.

"Nós estaríamos jogando no lixo uma parte da população. Medidas repressivas nunca deram certo para as questões relacionadas à violência", afirma.

Para ela, é preciso propor "medidas educativas, que deveriam acontecer dentro das escolas e na sociedade em geral".

"Temos que levar em conta quem são esses adolescentes e o que eles precisam, sem ter com isso que propor medidas punitivas", completa.

Deputados debatem tema

Na sessão de segunda-feira no Plenário da Câmara dos Deputados, parlamentares pediram rigor contra adolescentes que cometem crimes hediondos.

"Está na hora de discutirmos a reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a redução da maioridade penal. Estamos cansados de ver pais de família e mães chorando a morte de seus filhos", disse o deputado Delegado Palumbo (MDB-SP).

Kim Kataguiri (União-SP) corroborou as ideias do colega: "É dever desta Casa honrar a memória da professora falecida e também das duas professoras que conviveram e desarmaram o criminoso aluno que, infelizmente, vai ser punido apenas com medida socioeducativa".

Deputados da base governista defenderam ações preventivas nas escolas, como a presença de psicólogos e assistentes sociais para identificar riscos.

"Um jovem, estimulado por práticas racistas e fascistas, chegou a este ponto. Nós precisamos urgentemente retomar uma cultura de paz nas escolas brasileiras", externou Carlos Zarattini (PT-SP).

"Este é um problema que também passa pelo aumento dos grupos de ódio, que vêm pregando violências como essa na internet e nas redes sociais, mas este também é um problema que advém da falta de atenção às questões de saúde mental", afirmou Tabata Amaral (PSB-SP).