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    Polícia vai ouvir presidente de clube sobre racismo contra Seu Jorge

    Cantor foi hostilizado na última sexta-feira (14) durante apresentação em Porto Alegre (RS)

    Bruna Ostermannda CNN , Em Porto Alegre

    O presidente do Grêmio Náutico União, Paulo Bing, foi intimado pela polícia nesta terça-feira (18) e deve prestar depoimento na próxima quinta (20) sobre as ofensas racistas proferidas contra o cantor Seu Jorge durante uma apresentação no local no último dia 14. O clube fica em Porto Alegre (RS).

    Em coletiva de imprensa nesta terça, Bing afirmou que a situação tem de ser apurada pelas autoridades. “Nós temos a fala do artista, em que ele diz que se sentiu ultrajado e ofendido durante a apresentação dele. Então esse é um fato que tem que ser apurado com profundidade. Se o artista realmente teve essa impressão e se sentiu afrontado, eu quero me solidarizar com ele”, falou.

    O representante do clube faz referência a um vídeo que o músico postou nas redes sociais na noite desta segunda-feira (17), em que ele ressalta as qualidades do Rio Grande do Sul e dos gaúchos, mas também lamenta o episódio. “O que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista. Estaremos na luta juntos, denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca, jamais, nos curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for. Não cederemos um milímetro sequer ao ódio”, destacou o cantor.

    Tanto Seu Jorge quanto o presidente do clube, que estava na plateia do show, disseram que houve manifestações após o encerramento do espetáculo. “Quando cheguei atrás do palco, começo a escutar muitas vaias e xingamentos”, relatou o artista.

    Bing disse que ouviu vaias e que elas teriam ocorrido depois que Seu Jorge fez uma manifestação de cunho político: um gesto de “L” com os dedos, em alusão ao ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conforme o responsável pelo clube, a plateia reagiu, também, aos gritos de “mito”, em referência ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

    Ainda na entrevista coletiva, Bing mencionou que o Grêmio Náutico União não compactua com comportamentos racistas e mencionou que a instituição têm técnicos, atletas, funcionários e associados de todas as etnias, e citou nominalmente a ginasta Daiane dos Santos, que é negra.

    Ele destacou ainda que o show era aberto para associados e não associados. E que, se for confirmado o crime e identificado o responsável, no caso de ser um sócio, a pessoa deverá sofrer penalidade e poderá até ser expulsa do clube.

    Sobre o show

    Aos jornalistas, o presidente do clube apresentou as imagens do show feitas por uma equipe contratada pela agremiação. O vídeo mostrou o momento em que Seu Jorge chamou ao palco um jovem de 15 anos para tocar cavaquinho. O artista aproveitou o momento para criticar a redução da maioridade penal e citou os casos de morte de jovens negros e da periferia. Nas imagens é possível apenas ouvir som ambiente e elas mostram que o rapaz foi aplaudido pelo público.

    Relatos nas redes sociais dão conta de que a hostilidade ao cantor teria começado ainda no momento em que o menino ainda estava no palco. Em dado momento, é possível ouvir ofensas racistas e ruídos imitando o som de macacos.

    A delegada Andrea Mattos relata que identificou em um vídeo uma pessoa xingando o músico de macaco. Ela solicitou ao clube as imagens oficiais e as de câmera de segurança a fim de tentar identificar o responsável.

    Nesta terça, o Ministério Público também instaurou procedimento de ofício para acompanhar as investigações da Polícia Civil. Ao término do inquérito, se os autores forem identificados, a Promotoria de Direitos Humanos poderá ajuizar ação por dano moral coletivo.

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