Socialite condenada por ofender filha de Bruno Gagliasso disse à Justiça que “sofre racismo todos os dias”
Day McCarthy afirmou que "não fez o vídeo no intuito de ofender"; ela foi condenada a 8 anos e 9 meses de prisão
A socialite Dayane Alcântara Couto de Andrade, conhecida como Day McCarthy, que foi condenada pelos crimes de racismo e injúria racial contra uma das filhas dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, disse em depoimento à Justiça que “sofre racismo todos os dias”.
Com relação ao vídeo em que utilizou terços racistas para se referir à filha dos atores, a socialite afirmou em interrogatório que “não fez o vídeo no intuito de ofender ninguém; que o pai é negro, que é filha de negro, que tem traço de negros, que desde a infância inteira sofre racismo, que as pessoas acham que ela é branca mas que não é e que vai explicar”.
A defesa de Dayane disse à Justiça que ela “sempre sofreu com comentários racistas sobre sua aparência física nas redes sociais e, portanto, sentiu raiva e decidiu gravar o conteúdo. Porém, o vídeo teria sido divulgado em outras redes sociais e se espalhou por toda a internet, tomando grandes proporções”.
Sendo assim, disse a defesa, a socialite não teria tido o objetivo de injuriar a filha dos atores, pois teria “agido por impulso”.
As alegações da defesa não foram aceitas pelo juiz federal Ian Legay Vermelho. “Não lhe assiste razão”, disse o magistrado na sentença. Conforme o entendimento do magistrado, o intuito de ofender a garota é “cristalino”.
“Não há elasticidade semântica que permita relativizar o conteúdo manifestamente hostil, agressivo, injurioso, direcionado à vítima, propagador de violência contra sua qualidade de indivíduo da cor preta, unicamente em razão de tal qualidade. Por óbvio, o fato de a acusada ter sofrido com ofensas racistas provocadas por terceiros não lhe garante o direito de ofender a honra de indivíduos não envolvidos na discussão, ainda que imbuída de acessos de raiva, como aduz a defesa, por ser uma pessoa impulsiva”, escreveu o juiz.
O magistrado acrescentou que o argumento da defesa, de que o vídeo havia sido publicado somente em um grupo fechado de WhatsApp, “não afasta a responsabilidade penal”.
“Muito ao revés, justamente por conter inúmeros e desconhecidos integrantes (a real dimensão do grupo não soube a ré precisar em seu interrogatório) e estar ligado à rede mundial de computadores, este grupo era uma plataforma na qual publicar mensagens ofensivas a terceiros implicava, no mínimo, a assunção do risco de que tal conduta produzisse o resultado que de fato produziu, qual seja, ampla repercussão do ataque dirigida à vítima, que, à época, tinha quatro anos de idade.”
O juiz acrescentou: “mesmo que a ré seja vítima dos mesmos preconceitos e discriminações, tal fato, embora surja como razão plausível para sua revolta, não a autoriza a prosseguir reproduzindo contra terceiros as mesmas palavras ofensivas.”
Dayane Alcântara Couto de Andrade foi condenada a 8 anos, 9 meses e 13 dias de prisão, além do pagamento de multa. A sentença foi publicada na última quarta-feira (21).
A decisão da Justiça foi comemorada por Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. “Hoje a gente vem celebrar uma vitória contra o racismo”, disseram os atores, por meio de redes sociais.
A advogada da família Gagliasso Ewbank, Juliana Souza Oris, afirmou, também nas redes sociais, que essa foi “a maior condenação por racismo e injúria racial da história brasileira”.
A CNN tenta contato com a defesa de Dayane Alcântara Couto de Andrade.