Adolescente que matou família no RJ: o que sabemos sobre o caso
Crime teria sido motivado por pais não concordarem com viagem ao Mato Grosso, fruto de um relacionamento virtual
Em uma rua residencial tranquila e tipicamente de interior, uma família foi encontrada morta dentro de casa, na última terça-feira (24). A tragédia chocou o distrito de Comendador Venâncio, em Itaperuna, no Noroeste do Rio de Janeiro.
As vítimas são Antônio Carlos Teixeira, de 45 anos, enfermeiro; sua esposa, Inaila Teixeira, de 37, cabeleireira; e o filho caçula do casal, Antônio, de apenas 3 anos. O principal suspeito é o filho mais velho, um adolescente de 14 anos, que confessou o crime em depoimento à polícia.
Nas redes sociais, a imagem da família era de afeto e união. Em um post feito em homenagem à data de aniversário do garoto, o pai descreveu o filho como um “companheirinho” e “amigão”, elogiando seu comportamento como aluno exemplar e irmão cuidadoso. Agora, a mesma residência que aparecia como cenário de momentos felizes, tornou-se palco de uma cena de violência que surpreendeu até os investigadores mais experientes.
Durante perícia no imóvel, técnicos encontraram marcas de sangue reveladas com luminol, substância usada para detectar vestígios invisíveis a olho nu. Indícios apontam que um líquido de uso de limpeza foi utilizado para facilitar o deslocamento dos corpos até uma cisterna no quintal, localizada próximo à saída do quarto onde a família dormia.
O delegado Carlos Augusto Guimarães, titular da 143ª DP (Itaperuna), relatou a frieza do jovem durante o depoimento. “Ele estava frio, conversou como qualquer pessoa, numa boa, sem pressão, foi espontâneo, quis falar o que tinha acontecido ali. Em casos assim, é comum as pessoas omitirem partes, mas ele foi direto, contou o que fez e afirmou que não se arrepende”, disse.
Como a polícia chegou ao caso
A ocorrência chegou à delegacia por meio da avó paterna, que procurou as autoridades para relatar o desaparecimento do filho, da nora e do neto mais novo. O adolescente informou inicialmente que os pais teriam saído com o irmão após ele ingerir um objeto cortante. No entanto, após diligências em hospitais e unidades de saúde da região sem qualquer registro da suposta emergência, a polícia iniciou buscas na residência da família.
Na casa, os investigadores localizaram pertences do adolescente junto aos celulares dos pais, em uma bolsa, e manchas suspeitas. Ao se aproximarem da cisterna no quintal, perceberam um forte odor e, em seguida, encontraram os corpos das três vítimas. O adolescente foi levado à delegacia e, ao ser ouvido, confessou o triplo homicídio, cometido no sábado (21).
Segundo ele, os pais haviam proibido uma viagem para encontrar uma adolescente com quem mantinha um relacionamento virtual. A garota, de 15 anos, mora em Mato Grosso e foi identificada e ouvida na quinta-feira (26) por uma equipe especializada no Departamento de Polícia, em Água Boa (MT), acompanhada da mãe e de assistentes sociais. O conteúdo do depoimento ainda será encaminhado para a delegacia de Itaperuna.
Dinâmica do crime
De acordo com o relato do adolescente, ele teria ingerido energético para se manter acordado durante a noite e aguardou os familiares dormirem – todos dividiam o mesmo cômodo por conta do ar-condicionado. Ele afirmou que sabia onde o pai escondia uma arma de fogo, que era registrada como CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), guardada embaixo do colchão do casal.
A arma foi posteriormente localizada na casa da avó, o que levantou a hipótese de que ela possa tê-la retirado do local numa tentativa de proteger o neto. A polícia, porém, destacou que a mulher estava emocionalmente abalada ao receber a notícia do crime, e essa linha segue em investigação.
Nesta sexta-feira (27), a Polícia Civil confirmou, por meio de laudo pericial, que as vítimas morreram em decorrência de disparos de arma de fogo, descartando a hipótese inicial de afogamento na cisterna.
As investigações também revelaram que o adolescente acessou o aplicativo no celular do pai, onde descobriu um saldo de R$33 mil. Ele chegou a realizar buscas na internet sobre como realizar saques de benefícios em nome de pessoas falecidas.
Familía foi enterrada e adolescente internado em unidade socioeducativa
Os corpos do casal e do filho mais novo foram sepultados ontem (26), sob forte comoção, na cidade de Itaperuna, na presença de familiares, amigos e moradores do bairro. Já o adolescente foi submetido hoje (27) a exame no Instituto Médico Legal (IML) e, posteriormente, encaminhado à unidade socioeducativa (CENSE) de São Fidélis, onde ficará internado provisoriamente por 45 dias, conforme decisão judicial.
O inquérito policial segue em andamento e apura, entre outros pontos, a influência do relacionamento virtual, a possível premeditação do crime e o papel de outros envolvidos.