"Nada marca tanto quanto choro da família", diz ativista sobre mortes no RJ
Segundo forças de segurança, megaoperação resultou em 64 mortes, 81 presos e 93 fuzis apreendidos; Defensoria Pública constesta número e aponta mais de 130 mortos

O ativista e líder comunitário Raull Santiago publicou, nesta quarta-feira (29), uma sequência de vídeos em que comenta sobre a situação no Complexo da Penha após as mortes no local. A região, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi alvo da megaoperação contra o avanço territorial do CV (Comando Vermelho).
De acordo com os últimos dados atualizados das forças de segurança, a ação policial, que também ocorreu no Complexo do Alemão, resultou em 64 mortes, 81 presos e 93 fuzis apreendidos.
Emocionado, Raull diz que "a ficha começou a cair" ao presenciar a chegada das famílias dos mortos no local, onde corpos estavam posicionados em uma fila na Praça da Penha.
Acabei de ver uma mãe identificando o filho. Acabei de ver uma filha identificando o pai. Tá muito sinistro. Nada me marca tanto quanto o choro da família. Todo tipo de pessoa está ali e mãe é mãe, né? Isso é o que me destrói.
Corpos em fila
A Praça da Penha amanheceu com uma fila de corpos estendidos em uma lona, na manhã desta quarta-feira (29).
Segundo Raull, que está no local, mais de 50 corpos foram retirados por moradores da região de mata do Complexo da Penha durante a madrugada.
A CNN Brasil já questionou o Governo do Rio de Janeiro sobre a situação, mas ainda não houve retorno. Até o momento, os órgãos oficiais não informaram se os corpos retirados da mata já estão na conta do saldo final da operação, que até a noite de ontem (28) era de 64 mortos.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro contesta o número e aponta mais de 130 mortos. Segundo o órgão, já são contabilizadas as mortes de 128 civis e quatro policiais, num total de 132 vítimas.
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O que sabemos sobre operação
A Operação Contenção foi uma megaoperação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, realizada nessa terça-feira (28), nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense.
A ação, que mobilizou cerca de 2.500 agentes estaduais de segurança, foi resultado de mais de um ano de investigação conduzida pela DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
Segundo a SESP (Secretaria de Segurança Pública) e o Governo do Estado, o objetivo principal era combater a expansão territorial do CV (Comando Vermelho) e cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes e lideranças criminosas do CV.
Entre os alvos, 30 seriam membros da facção oriundos de outros estados, com destaque para o Pará, que estariam escondidos nessas comunidades.
Operação mais letal da história
A Operação Contenção se tornou a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, totalizando por ora, 64 mortos. O saldo final incluiu 60 suspeitos de crimes e 4 policiais mortos (dois policiais civis e dois policiais militares do Bope).
Além das fatalidades, 81 pessoas foram presas, incluindo Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, que é apontado como o operador financeiro do CV no Complexo da Penha e braço direito do chefe do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, vulgo "Doca" ou "Urso".
A operação resultou na retenção de 93 fuzis, um número que superou os balanços mensais de apreensão dessa arma em quase todos os meses do ano, ficando próximo do recorde histórico.
O dia da operação foi marcado por intensos tiroteios, com drones policiais registrando criminosos fortemente armados fugindo em fila indiana pela mata da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.
Em resposta à atuação policial, criminosos do CV também utilizaram tecnologia, sendo flagrados arremessando bombas em uma comunidade através de um drone. O suporte logístico da polícia incluiu, além dos drones, dois helicópteros, 32 blindados e 12 veículos de demolição.
A megaoperação gerou "caos" na cidade, com escolas municipais e estaduais fechadas, unidades de saúde suspendendo o funcionamento inicial, e linhas de ônibus tendo seus itinerários desviados.
*Sob supervisão de Tonny Aranha


