Por que polícia do RJ não retirou da mata os corpos de membros do CV?
Autoridades destacam área de fuga e "preservação" do local para perícia
No dia seguinte à megaoperação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, moradores dos Complexos da Penha e do Alemão retiraram da mata dezenas de corpos de criminosos que morreram em confronto.
Na terça-feira (28), o governo do Rio comunicou um total de 64 mortes. No dia seguinte, após a retirada dos corpos, o número final foi de 121, sendo que quatro foram policiais.
Segundo explicações das autoridades e especialistas, os corpos não foram retirados por diversos motivos, entre eles de "preservação" para investigação da perícia.
Contudo, ao recolherem os corpos, os moradores retiraram as roupas e enfileiraram as vítimas, o que foi criticado pelas autoridades.
Para o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, os corpos da megaoperação contra o CV (Comando Vermelho) foram retirados da mata sem autorização prévia. Segundo ele, os suspeitos estavam com roupas camufladas e coletes balísticos, mas os corpos encontrados por populares estavam com trajes íntimos e bermudas.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, reforçou que as forças de segurança não sabiam da existência dos corpos. "Quando acontece confronto em uma área de mata, muitos baleados acabam adentrando ainda mais, buscando ajuda, e a gente não consegue atender essa demanda", disse.
Paulo Storani, ex-capitão do Bope, afirmou à CNN Brasil que os corpos não foram retirados pois o local em que os suspeitos foram mortos precisaria estar preservado para uma investigação posterior da perícia.
Uma das estratégias do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) foi encurralar os suspeitos em área de mata, na Serra da Misericórdia, criando o que a Operação chamou de muro do Bope.
Com isso, muitos confrontos foram realizados no local, o que elevou o número de mortes.
Área estratégica e rotas de fuga
"A Serra da Misericórdia é tradicionalmente utilizada como rota de fuga pelos criminosos, que construíram estradas vicinais e estruturas para facilitar a movimentação entre as comunidades", explicou Stoliar. Inclusive, a região conta om uma piscina natural, formada após a perfuração de uma pedreira, utilizada pelos criminosos como área de lazer.
Vídeos registraram o momento em que suspeitos subiram por estruturas de concreto na área da serra, utilizando vestimentas similares aos uniformes policiais, incluindo roupas pretas e camufladas. No entanto, quando os corpos foram encontrados posteriormente, muitos estavam apenas com roupas íntimas ou bermudas, fato que será investigado.
Relembre a operação
A Operação Contenção, megaoperação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, realizada nos Complexos do Alemão e da Penha, nesta terça-feira (28), foi impulsionada por uma série de objetivos estratégicos relacionados à segurança pública, supostamente fundamentados em uma investigação prolongada, além de um estímulo tático imediato, de acordo com fontes.
O principal objetivo da operação, segundo a SESP (Secretaria de Segurança Pública) e o governo estadual, era combater a expansão territorial do CV (Comando Vermelho). A ideia foi concebida como uma iniciativa permanente do Governo do Estado do Rio de Janeiro, voltada ao enfrentamento do avanço da facção em diversas regiões do estado.
Os Complexos do Alemão e da Penha, locais onde a ação foi realizada, são vistos como regiões-chave na rivalidade entre facções criminosas.
*Sob supervisão de AR.

