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    Bolsonaro cita preservação na Amazônia e diz que Brasil sofre de ataque a “liberdades individuais”

    Em discurso na Cúpula das Américas, presidente também fala sobre busca a britânico e brasileiro desaparecidos na Amazônia

    Marcelo Tuvucada CNN

    O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu as ações do governo federal na preservação da Amazônia e afirmou que o Brasil e o mundo sofrem de um “ataque claro às liberdades individuais”, durante seu discurso nesta sexta-feira (10) na Cúpula das Américas, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

    Na fala, Bolsonaro disse que “nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa e restritiva” e afirmou que o Código Florestal brasileiro deve servir de exemplo a outros países. “Afinal, somos responsáveis pela emissão de menos de 3% carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo”, disse.

    “Para proteção das florestas, o governo federal reforçou o combate ao desmatamento e estabeleceu a operação Guardiões do Bioma Amazônia, sob a coordenação e controle do Ministério da Justiça”, completou o presidente. Segundo ele, 84% da floresta está “intacta” no bioma amazônico, acrescentando que o país não necessita da região para expandir o agronegócio.

    Bolsonaro também elogiou o agronegócio do país ao dizer que, sem ele, “parte do mundo passaria fome”. “O Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas, garantimos a segurança alimentar de um sexto da população mundial.”

    Ataque à liberdade

    Em dois momentos no discurso, ele citou ataques à liberdade. No primeiro, falou em “problemas econômicos que afetam o mundo”, citando “a inflação e o desemprego e, principalmente, ao bem mais precioso para o ser humano: a sua liberdade, aí incluídos a liberdade de expressão, de trabalho e de culto religioso”.

    Depois, o presidente disse que, “atualmente, vemos no Brasil, e em parte do mundo, um ataque claro às liberdades individuais por opinar de forma diferente”.

    Busca por britânico e brasileiro desaparecidos na Amazônia

    No fim do discurso, em trecho de improviso, falou sobre a busca ao britânico Dom Phillips e ao indigenista brasileiro Bruno Araújo, desaparecidos na Amazônia.

    “Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos – um britânico, Dom Phillips, e um brasileiro, Bruno Araújo – desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida”, disse o presidente.

    A fala do presidente se junta à posição do ministro da Justiça, Anderson Torres, que afirmou nesta sexta à CNN que o Brasil esgotará todas as possibilidades na busca por desaparecidos, e à determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, também nesta sexta, que o governo federal adote “todas as providências necessárias” para que sejam os dois sejam encontrados.

    Veja na íntegra o discurso de Bolsonaro:

    Senhor presidente Joe Biden,

    Senhores presidentes, chefes de governo e demais autoridades das Américas,

    Senhoras e senhores,

    Agradeço o convite do governo dos Estados Unidos para participar desta reunião de líderes democráticos das Américas.

    A Cúpula das Américas é oportunidade para tratarmos os desafios da pós-pandemia, do desenvolvimento sustentável, da transição energética, da transformação digital, da imigração, bem como da democracia e dos direitos humanos.

    Estamos atentos aos problemas econômicos que afetam o mundo, como a inflação e o desemprego e, principalmente, ao bem mais precioso para o ser humano: a sua liberdade, aí incluídos a liberdade de expressão, de trabalho e de culto religioso.

    O Brasil se engajou fortemente no processo negociador das declarações a serem discutidas e aprovadas nesta Cúpula. Vamos trabalhar juntos para que essas propostas conduzam a novas agendas de cooperação para o crescimento econômico nas Américas.

    O Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas, garantimos a segurança alimentar de um sexto da população mundial.

    Uma realidade: sem o nosso agronegócio, parte do mundo passaria fome.
    O Brasil não apenas evitou uma crise alimentar ao garantir acesso a fertilizantes, mas também desempenhou um papel de liderança na busca de soluções internacionais em favor da segurança alimentar.

    Somos um dos países que mais preservam o meio ambiente e suas florestas. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo. Mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura, somos uma potência agrícola sustentável.

    Não necessitamos da Região Amazônica para expandir nosso agronegócio. Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Os nossos desafios são proporcionais ao nosso tamanho. Lembro que a área da região amazônica equivale a toda a Europa Ocidental.

    Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa e restritiva. Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. Afinal, somos responsáveis pela emissão de menos de 3% carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo.

    Para proteção das florestas, o Governo Federal reforçou o combate ao desmatamento e estabeleceu a operação Guardiões do Bioma Amazônia, sob a coordenação e controle do Ministério da Justiça.

    Com o lançamento do Programa Metano Zero, fomos o primeiro país a implementar compromissos assumidos durante a COP-26, com financiamento específico para estruturar projetos de tratamento de resíduos orgânicos de aves, suínos, laticínios, cana de açúcar e de aterros sanitários, a fim de reduzir 30% das emissões totais de metano no Brasil.

    Somos pioneiros na transição energética, tendo iniciado a descarbonização há quase meio século, com biocombustíveis e outras fontes. Em 2021, batemos recordes de instalação de energia Eólica (21 Gw) e Solar (14 Gw). Hoje, 85% da energia gerada no País vem de fontes renováveis. Temos o potencial de produção excedente de energia eólica no mar na ordem de 700 Gw, equivalente a 4 vezes a nossa atual capacidade instalada ou 50 Itaipus. As eólicas, na costa do nosso nordeste, poderão produzir hidrogênio e amônia verde para exportação. Neste momento em que países desenvolvidos recorrem a combustíveis fósseis, o Brasil assume papel fundamental como fornecedor de energia totalmente limpa rumo a uma nova economia neutra em emissões.

    Atualmente, vemos no Brasil, e em parte do mundo, um ataque claro as liberdades individuais por opinar de forma diferente.

    Deixo aqui uma mensagem de compromisso do Brasil com a integração das Américas, como continente próspero e democrático. Ao longo de meu mandato, o Brasil manteve-se presente nos foros hemisféricos e regionais, trabalhando pela democracia, pela liberdade e pela prosperidade econômica e social.

    Neste ano em que o Brasil comemora duzentos anos de independência, afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável a vida desde a sua concepção, defende a família e deve lealdade ao seu povo.

    No Brasil já se entende que a liberdade é um bem maior que a própria vida, pois um homem ou mulher sem liberdade não tem vida.

    Se permitem, antes de concluir, algumas informações de interesse de todos nós, e por que não dizer, do mundo.

    Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos – um britânico, Dom Phillips, e um brasileiro, Bruno Araújo – desapareceram na região do Vale do Javari. Desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, as nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida.

    Dois: dizer a todos que o Brasil é um país que continua concedendo vistos humanitários a afegãos, haitianos, ucranianos, sírios e venezuelanos.

    Falar um pouco do potencial nosso das Américas. Prezado Marito: o nosso Lago de Itaipu brevemente estará apto à psicultura, onde, somente pelo lado brasileiro, nós ampliaremos a nossa oferta de mercado em torno de 40%. Assim tem tratado com Vossa Excelência o secretário da Pesca, Jorge Seif.

    Dizer ao presidente argentino, prezado Fernández, continua em frente o nosso acordo de gás de vaca muerta. Pode ter certeza que será bom para os nossos dois países. E nós não deixaremos de continuar importando gás da Bolívia.

    Dizer também aos prezados presidentes da Guiana, Irfaan Ali, e do Suriname, Chan Santokhi, que a nossa ida recentemente aos seus países visa colaborar com a exploração de petróleo e gás dos seus países. Os senhores têm algo de fantástico que Deus lhes deu: reservas em óleo e gás equivalente a 90% das reservas brasileiras. Tenho certeza que, juntos, e com outros parceiros bem escolhidos, os seus países realmente despontarão no cenário econômico mundial.

    Dizer que ontem estive com o presidente Biden numa bilateral ampliada, e depois numa mais reservada, com pouquíssimas pessoas. Ficamos por 30 minutos sentados, em uma distância inferior de um metro, e sem máscara. Senti no presidente Biden muita sinceridade e muita vontade em resolver certos problemas que fogem obviamente de total responsabilidade de todos nós, mas, juntos, poderemos buscar alternativas por um fim nesses conflitos.

    E eu acredito que todos trabalhando dessa maneira atingiremos os nossos objetivos, em especial o governo americano. A experiência de ontem com Biden foi simplesmente fantástica. Estou realmente maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós.

    A todos, muito obrigado, e que Deus abençoe os nossos países.

    Jair Bolsonaro

    Fotos – Cúpula das Américas, em Los Angeles

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