Brasil avalia chamar embaixadora em Washington
Itamaraty está considerando várias respostas para as ameaças de Trump de aumentar tarifas, incluindo retaliações comerciais e diplomáticas
O governo não descarta a possibilidade de convocar de volta a Brasília a embaixadora em Washington, Maria Luiza Viotti, para consultas em resposta às ameaças do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA.
Chamar um embaixador de volta ao país para consultas é considerado um forte gesto de desagrado diplomático.
É pouco provável, no entanto, que essa medida seja adotada no curtíssimo prazo. A medida chegou a ser debatida no governo, mas não houve consenso.
Antes, o Itamaraty vai avaliar uma série de respostas possíveis em retaliação às ameaças do presidente americano.
A expectativa dentro do governo é de que a resposta brasileira seja calibrada e construída ao longo de um processo que tende a ser demorado.
Há três motivos principais para essa abordagem mais cautelosa.
Em primeiro lugar, existe uma preocupação com os impactos negativos na própria economia brasileira caso o país adote medidas retaliatórias de maneira abrupta.
Uma retaliação precipitada poderia, por exemplo, pressionar a inflação e afetar negativamente o emprego em setores que dependem das exportações para os Estados Unidos.
Por isso, a escolha dos produtos norte-americanos que eventualmente poderão ser alvo de tarifas retaliatórias será feita com cuidado, priorizando itens com maior impacto político nos EUA e menor risco para o mercado brasileiro.
Além disso, o Brasil não tem urgência para reagir já que, ao contrário de países como México e Canadá, a economia nacional tem uma dependência comercial muito menor dos EUA.
Essa posição confere ao país uma margem maior para resistir à pressão imediata e estruturar uma resposta mais estratégica, sem a urgência imposta a outras economias fortemente expostas ao mercado norte-americano.
Por fim, existe a imprevisibilidade associada a Trump. O atual presidente dos EUA é visto como imprevisível e instável por diplomatas brasileiros, e já recuou em disputas comerciais anteriores com outros países — o que levou à criação da expressão "TACO" (Trump always chickens out – ou Trump sempre amarela, em tradução livre).
Essa característica sugere que uma resposta brasileira mais calculada pode ser mais eficaz do que uma reação impulsiva.
O governo Lula aposta em uma resposta firme, porém responsável, que defenda os interesses nacionais e preserve a estabilidade econômica, sem ceder a provocações.