Brigadeiro diz a Bolsonaro que tropa "ainda está com sangue nos olhos"
A troca de mensagens foi incluída na denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao Supremo Tribunal Federal (STF), enviada na noite desta terça-feira

Em uma troca de mensagens entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o major-brigadeiro da Aeronáutica, Maurício Pazini Brandão, o militar afirmou que a tropa dele "continua com sangue nos olhos" para dar curso ao plano de golpe de Estado.
"O plano foi complementado com as contribuições de sua equipe. Aguardamos na esperança de que será implementado. Bom dia. A 'minha tropa' (hehehehe) continua com 'sangue nos olhos'... bom dia. Feliz Ano Novo. Conversa hoje com o Amir. Desmobilizamos a tropa ou permanecemos em alerta?", diz o texto enviado em 2 de janeiro de 2023.
A troca de mensagens foi incluída na denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao Supremo Tribunal Federal (STF), enviada na noite desta terça-feira (18), contra 34 pessoas por participação em atos contra o Estado Democrático de Direito, incluindo Bolsonaro.
Segundo a acusação, o ex-presidente, junto a integrantes do governo como Anderson Torres, Augusto Heleno e o então comandante da Marinha, Almir Garnier, compôs "o núcleo crucial da organização criminosa".
O documento aponta que os denunciados "integraram, de maneira livre, consciente e voluntária, uma organização criminosa constituída desde pelo menos o dia 29 de junho de 2021 e operando até o dia 8 de janeiro de 2023". Entre os elementos apresentados na denúncia, estão trocas de mensagens que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), demonstram o planejamento de ações após o dia 15 de dezembro de 2022.
A PGR sustenta que o teor da mensagem sugere a intenção de manter, mobilizados, grupos dentro das Forças Armadas. O material faz parte do conjunto de provas que embasam a acusação de tentativa de ruptura democrática.
O STF analisará a denúncia e, caso aceite, os envolvidos se tornarão réus, iniciando-se o processo judicial.
O que dizem os denunciados
Em nota, a defesa de Jair Bolsonaro afirma que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito" e que a denúncia apresentada pela PGR é inepta e baseada em uma única delação. Leia a íntegra:
"A defesa do Presidente Jair Bolsonaro recebe com estarrecimento e indignação a denúncia da Procuradoria-Geral da República, divulgada hoje pela mídia, por uma suposta participação num alegado golpe de Estado. O Presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam. A despeito dos quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas diligências investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos —, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa construída na denúncia, foi encontrado. Não há qualquer mensagem do Presidente da República que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais. A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa. O Presidente Jair Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denúncia não prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos que a sustentem perante o Judiciário"
A defesa de Anderson Torres, por sua vez, afirmou que irá analisar a denúncia antes de fazer qualquer manifestação. A CNN fez contato com a defesa de Alexandre Ramagem, Augusto Heleno e Almir Garnier, mas ainda não obteve retorno.


