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    Clã Arraes racha e Recife tem primos disputando segundo turno das eleições

    Família seguiu caminhos políticos distintos após a morte de Eduardo Campos e hoje está dividida em ao menos três partidos políticos diferentes

    Iuri Pitta e Guilherme Venaglia, da CNN, em São Paulo

    O segundo turno das eleições municipais no Recife é um confronto bastante peculiar – entre dois primos, ambos deputados federais e candidatos por partidos da esquerda. Os ânimos também estão aflorados, dada a importância da conquista da vitória para ambos os partidos e candidatos.

    Recife tornou-se a principal tábua de salvação do PT na disputa. Marília Arraes carrega a esperança petista de voltar a governar uma grande capital depois da derrocada enfrentada pela sigla em 2016 e no primeiro turno de 2020.

    Para o PSB, partido do adversário João Campos, perder a capital pernambucana após oito anos, no estado em que está no poder há quatro mandatos consecutivos, seria a derrota mais dolorida em uma eleição na qual a legenda viu diminuir seu eleitorado Brasil afora.

    Marília Arraes chegou ao segundo turno atrás do primo João Campos, mas as pesquisas têm demonstrado empate técnico e não conseguem predizer o resultado deste domingo.

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    Entre os fatores que explicariam uma eventual virada a favor da petista está a rejeição do atual prefeito, Geraldo Júlio (PSB), que cresceu durante a pandemia da Covid-19. Também pesa contra João Campos, filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, a menor experiência política do que a prima, neta do ex-governador de mesmo sobrenome.

    Marília, por sua vez, enfrenta a suspeita de suposta coleta de verba entre assessores, similar a uma “rachadinha”, para custear despesas de campanha, o que ela nega. Em uma disputa bastante acirrada, os candidatos trocam acusações de que um tem espalhado boatos e informações inverídicas a respeito do adversário. 

    A família Arraes

    Não há político na história da democracia em Pernambuco que tenha tido influência e poder como Miguel Arraes. O advogado foi o último governador do estado antes da ditadura militar, cassado pelo regime de 1964, e o primeiro a ser eleito depois da saída dos militares, em 1986.

    Essas foram duas das três passagens de Arraes pelo Governo de Pernambuco. A terceira foi na beirada do Século XXI, entre 1995 e 1999, quando foi derrotado por um ex-aliado, o hoje senador Jarbas Vasconcelos (MDB-PE).

    Arraes morreu em 2005 e o controle do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que fundara quinze anos antes, passou para o seu neto, Eduardo Campos, então ministro do governo Lula e deputado licenciado.

    Um ano depois da morte de Miguel Arraes, Eduardo Campos seguiu o caminho do avô ao ser eleito governador de Pernambuco em 2006. A posição de Campos como herdeiro político de Miguel Arraes era inconteste: Eduardo estava no PSB desde o início e havia sido secretário e braço direito do avô em suas últimas décadas na política.

    A morte de Eduardo Campos durante a campanha presidencial de 2014 desestabilizou a sucessão. A mãe do ex-governador, Ana Arraes, já havia deixado a vida partidária em 2011, quando renunciou ao mandato de deputada federal para ser nomeada ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), onde permanece.

    A viúva Renata Campos nunca disputou eleições, mas é apontada por críticos, como o cunhado Antonio Campos, como a grande articuladora política da família e do PSB.

    “Renata Andrade Lima tem um projeto de poder que exclui qualquer pessoa que não se submeta aos seus caprichos e que não seja por ela comandado. Eduardo vivo equilibrava o jogo político”, disse Antonio, na entrevista ao Jornal do Commercio em que anunciou seu voto em Marília Arraes.

    Marília foi a primeira a romper. Filha de Marcos Arraes, irmão de Ana, ela também fazia parte do partido da família, o PSB, pelo qual se elegeu vereadora do Recife em 2008 e 2012.

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    A mudança para o PT aconteceu antes da reeleição para a Câmara Municipal, em 2016. Em carta ao PSB, Marília afirmou que era vítima desde 2014 de “repetidas ofensas e retaliações”.

    Ela também acusava a legenda de ter contrariado os seus valores, com a candidatura de Marina Silva e alianças “com zero preocupação ideológica”, discurso que mantém no pleito deste ano para evocar o legado de Miguel Arraes.

    A então vereadora também dizia que o PSB estava intervindo na Juventude Socialista, a juventude do partido, para impor um novo líder aos jovens da legenda, João Campos. “Sem nenhuma militância, construção deste caminho, nem justificativa política”, escreveu na mesma mensagem.

    Marília e Antonio seguiram caminhos bastante distintos após deixarem o núcleo familiar. A vereadora se filiou ao PT e colou a sua imagem a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já Antonio, derrotado para a prefeitura de Olinda (PE) em 2016, declarou voto em Jair Bolsonaro e se filiou ao PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão. 

    João e Marília

    Dentro da árvore genealógica da família Arraes, João Campos e Marília Arraes são de gerações diferentes. A petista é prima de primeiro grau do pai de João, Eduardo Campos.

    Em relação ao patriarca Miguel Arraes, ela é neta e ele é bisneto, apesar de não terem uma diferença tão grande de idade. Marília tem 36 anos e João tem 27 anos.

    As eleições de 2020 são a segunda vez que os dois vão às urnas disputando o mesmo cargo. Em 2018, João Campos foi o deputado mais votado de Pernambuco, com 460 mil votos, e Marília foi a segunda mais votada, com 193 mil votos.

    Diferentemente de dois anos atrás, no entanto, dessa vez só um dos dois se sairá vencedor. 

    No primeiro turno, João Campos foi o mais votado, com 29,13% dos votos, uma diferença de menos de 10 mil votos para Marília, que foi ao segundo turno com 27,90%.

    As primeiras pesquisas do segundo turno mostravam uma inversão, com a candidata do PT numericamente à frente na disputa. O último levantamento do instituto Ibope, divulgado na quarta-feira (25), mostrou uma inversão, com o postulante do PSB à frente em números, mas com uma vantagem inferior a da margem de erro.

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