Controvérsias com embaixador e dificuldades na repatriação: entenda os pontos de tensão entre governo Lula e Israel

Com a evolução da negociação pela retirada dos brasileiros da Faixa de Gaza, diplomacia e integrantes do governo avaliam próximos passos da relação entre os dois países

Larissa Rodrigues, Pedro Nogueira, da CNN
Operação Voltando em Paz, do Governo Federal, faz escala no Recife trazendo repatriados da Cisjordânia  • ov BR/FAB
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A disputa pelo protagonismo na operação que prendeu nomes ligados ao Hezbollah no Brasil e o encontro entre o embaixador israelense com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) colocam em xeque a relação do governo Lula com Israel. Fontes ouvidas pela CNN chegam a dizer que até mesmo a demora na liberação dos brasileiros pode ter sido intencional e política.

A figura do embaixador Daniel Zonshine está no centro dessa controvérsia. Integrantes do Planalto entendem que houve uma sucessão de erros políticos e diplomáticos nas últimas semanas por parte dos israelenses. Ao mesmo tempo, o Itamaraty procura preservar os canais abertos para viabilizar o diálogo no médio e longo prazo.

O Ministério das Relações Exteriores não quer qualquer movimento brusco até que os brasileiros retornem em segurança. Até o desfecho da crise dos repatriados, os diplomatas mantiveram discretas as convocações do Embaixador ao Palácio para diálogos. Com a conclusão da missão de repatriação, no entanto, a pressão de atores no Executivo e Congresso tende a aumentar.

Três opções passam a ser avaliadas pelo Planalto: interromper o diálogo com Zonshine para pressionar a troca do diplomata, pedir a Israel que substitua o chefe da missão no Brasil, ou até mesmo expulsar o israelense.

Drástica, a terceira opção soa improvável para fontes da diplomacia. O último embaixador estrangeiro expulso do Brasil foi o encarregado de negócios venezuelano Gerardo Antônio Delgado Maldonado, em 2017, numa resposta à ação dos venezuelanos diante da decisão de Caracas de expulsar o embaixador brasileiro Ruy Pereira. A crise ocorreu no contexto pós-impeachment de Dilma Rousseff.

O que diz Zonshine

Daniel Zonshine disse em entrevista à CNN que Israel não está fazendo nada para impedir a saída de brasileiros da Faixa de Gaza e culpou o Hamas pela demora na saída de estrangeiros.

“Quem domina a Faixa de Gaza é o Hamas. Nos primeiros dois dias dessa semana não houve nenhuma saída por conta do Hamas, que decidiu que as pessoas não iam sair”, afirmou.

Sobre o encontro com Bolsonaro, o embaixador afirmou que a Embaixada convidou apenas parlamentares para o evento promovido no Congresso. E refutou qualquer cunho político no episódio.

“No meu ponto de vista, foi só um encontro, uma apresentação para parlamentares. Tenha talvez forças que querem fazer rixa entre Israel e Brasil, mas a relação entre Israel e Brasil são boas e vão continuar sendo boas”.

Ao ser questionado sobre a operação da PF, Zonshine disse: “Se escolheram o Brasil, é porque tem gente que ajuda”.