Apelo para soltar presos do 8/1 e apoio da oposição marcam 1º dia de Gonet no Senado

Para viabilizar a aprovação de seu nome para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR), Paulo Gonet deu início, na quarta-feira (29), à peregrinação por gabinetes de senadores.
Nas reuniões, de acordo com relatos feitos à CNN, Gonet ganhou apoio de senadores que fazem oposição ao governo Lula, recebeu pedido para ajudar a soltar presos do 8 de janeiro e ouviu sobre o temor dos parlamentares com relação ao ativismo judicial.
Gonet chegou ao Senado com assessores parlamentares e de relações institucionais por volta das 10h30. A comitiva do subprocurador foi embora às 17h40.
O périplo de sete horas envolveu conversas com 15 senadores de oito partidos de diferentes espectros políticos -- do PT de Luiz Inácio Lula da Silva ao PL de Jair Bolsonaro.
Gonet aproveitou as reuniões para se apresentar aos senadores que não o conheciam, mostrar seu currículo e contar sobre sua trajetória no Ministério Público Federal.
"Vai passar fácil, fácil"
O que Gonet mais ouviu dos senadores é que não terá dificuldade alguma em ser aprovado. Um senador afirmou a ele que seu nome “vai passar fácil, fácil”, já que, segundo este parlamentar, “a artilharia estará voltada a Dino”.
Gonet ouviu do senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do partido de Bolsonaro, que receberá seu voto. Portinho aproveitou a conversa para pedir que Gonet reavalie a situação dos presos pelos atos criminosos e golpistas do 8 de janeiro.
O apelo do senador foi feito após Cleriston Pereira da Cunha, preso por sua participação nos atos criminosos, morrer durante banho de sol no Complexo da Papuda, em Brasília.

Portinho e senadores aliados a Bolsonaro defendem que haja a substituição da prisão por medidas cautelares, como por exemplo o uso de tornozeleira eletrônica — para que os presos respondam pelos crimes fora da cadeia.
Segundo relatos de senadores, Gonet afirmou que pautará sua atuação como fez ao longo da carreira: respeitando o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa e “agindo dentro da estrita letra da lei”.
O indicado por Lula ouviu dos senadores a respeito do receio deles com relação ao que chamam de ativismo judicial. Os parlamentares pediram a Gonet equilíbrio, consistência em denúncias, atuação dentro dos limites da lei e a não criminalização da política.
Durante a visita a um gabinete, Gonet e um senador concordaram, por exemplo, que o procurador que desejar fazer política partidária deverá renunciar ao cargo, filiar-se a um partido e buscar votos para se eleger.
Simpatia do senadores
O cenário para Gonet no Senado é muito diferente do que aguarda o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, indicado ao Supremo Tribunal Federal.
Enquanto Dino enfrenta grande resistência da oposição e apoio da base governista, Gonet conta com a simpatia de senadores conservadores e de direita e uma resistência velada de governistas.
No caso de Gonet — que deve ser aprovado com facilidade —, a visita aos gabinetes representa um sinal de deferência aos senadores, que terão de sabatiná-lo na Comissão de Constituição e Justiça e votar seu nome no plenário.