Cúpula do Congresso e líderes partidários criticam adesão de Bolsonaro a atos
Vice-presidente da Câmara, ligado a evangélicos, diz que decisão não foi bom exemplo
A decisão do presidente Jair Bolsonaro de aderir e divulgar atos em defesa de seu governo em meio à pandemia de coronavírus foi pesadamente criticada por presidentes de partidos e integrantes da cúpula do Congresso ouvidos pela CNN Brasil.
Neste domingo (15), Bolsonaro participou de carreata promovida por seus apoiadores em Brasília e, depois, furando o isolamento a que estava submetido após suspeita de infecção por coronavírus, cumprimentou eleitores na porta do Palácio do Planalto.
O vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (SP), que também é presidente do Republicanos, disse que Jair Bolsonaro, “em meio a uma pandemia e sendo o chefe da nação, não parece ter dado um bom exemplo”.
O Republicanos, antigo PRB, é um dos partidos com maior interlocução entre os evangélicos.
O presidente do DEM, sigla que comanda a Câmara e o Senado, ACM Neto, também condenou o gesto de Bolsonaro.
“A atitude do presidente não é compatível com a seriedade e o foco que o momento atual exige”, afirmou.
“O momento não é de fazer política, de levantar bandeira partidária. O momento exige união dos líderes e dos governantes, e a postura do presidente não contribui para isso”, concluiu ACM. O DEM é o partido do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Estarrecido
O presidente do Progressistas, Ciro Nogueira, também falou sobre o assunto à CNN Brasil. Ele está, neste domingo, no interior do Piauí, seu estado, vistoriando unidades de atendimento hospitalar.
“Estou estarrecido com o fato de que o presidente, que deveria estar comandando as soluções dessa crise, talvez a maior já enfrentada pela nossa geração, esteja no meio de manifestações que podem ajudar a propagar o coronavírus”, afirmou.
O Progressistas é um dos maiores partidos do Congresso. Ciro Nogueira é senador (PP-PI).
Em privado, deputados e senadores ouvidos pela CNN Brasil fazem críticas ainda mais severas. Dizem que o presidente agiu como um “irresponsável” estimulando a aglomeração de pessoas, e que ele envia sinais trocados ao, primeiro, desestimular a ida aos atos e, depois, embarcar pessoalmente nas manifestações.
Esta foi a primeira vez que Jair Bolsonaro compareceu a protestos cuja maioria dos gritos eram contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal desde que assumiu a Presidência da República. O estímulo do presidente aos atos piorou o ambiente político, avaliam integrantes do Congresso.