Em nova nota, China diz que Eduardo Bolsonaro ‘espalha boatos’
Representação diplomática do país afirma que filho do presidente não tem ciência de seus erros
A embaixada da China no Brasil voltou a rebater as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro a respeito do país e a pandemia do novo coronavírus. O parlamentar, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), comparou a atual crise causada pela pandemia do novo coronavírus com o desastre nuclear de Chernobyl, culpando o regime chinês pela disseminação da doença.
Após críticas do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, Eduardo defendeu-se e, em nota, disse que “jamais ofendeu o povo chinês” e que “tal interpretação é totalmente descabida”. O deputado acrescentou tem “prerrogativa da imunidade parlamentar”, defendendo seu direito de criticar a atuação da China diante da pandemia.
“Os seus argumentos mostram que você não está arrependido pela sua atitude, tampouco ciente dos seus erros. Ao continuar a optar por ficar no lado oposto ao povo chinês, está indo cada vez mais longe no caminho errado”, respondeu a representação do país asiático no Brasil pelo Twitter. “Como deputado federal, ao invés de contribuir devidamente para esse combate, você tem gastado tempo e energia para atacar deliberadamente a China e espalhar boatos”, conclui.
China cobra desculpas
Por volta das 21h30 (horário de Brasília), a Embaixada da China no Brasil divulgou nota reforçando o tom de repúdio à manifestação de Eduardo Bolsonaro.
“Estamos extremamente chocados por tal provocação flagrante contra o governo e povo chinês. Manifestamos nossa profunda indignação e forte protesto pela atitude irresponsável do deputado Eduardo Bolsonaro”, diz a nota.
A embaixada deixou claro que a China “não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo” na noite de ontem (18), e cobrou de Eduardo Bolsonaro uma retratação.
“O deputado Eduardo Bolsonaro tem que pedir desculpa ao povo chinês pela sua provocação flagrante”, diz o comunicado.
“Esperamos que o Itamaraty possa tomar ciência do grau de gravidade desse episódio e alertar o deputado Eduardo Bolsonaro a tomar mais cautela nos seus comportamentos e palavras, não fazer coisas que não condigam com o seu estatuto, não falar coisas que prejudiquem o relacionamento bilateral e não praticar atividades que danifiquem a nossa cooperação”, afirma a embaixada.
‘Não me arrependi’
Em entrevista exclusiva à CNN, Eduardo Bolsonaro disse que se baseou em fontes da imprensa nacional e internacional para afirmar que o regime chinês dificultou a identificação da COVID-19, em situação semelhante ao acidente nuclear da usina de Chernobyl durante o período da União Soviética.
“Todo mundo fala o que eu falei nessa comparação entre Chernobyl e o coronavírus. O Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de literatura, falou isso e também sofreu críticas da embaixada da China no Peru. A China está preocupada em não levar esse questionamento sobre onde veio o vírus ao mundo”, disse o deputado. “Eu não me arrependi. Na verdade, a nota [divulgada por ele na tarde desta quinta] foi uma nota de esclarecimento e não um pedido de desculpa”, acrescentou.
Apesar das críticas, o deputado federal afirma que pretende se encontrar com o embaixador para conversar sobre o que chamou de “mal estar”. “Acredito que mais cedo ou mais tarde a gente vá se encontrar e passada toda essa turbulência, nós vamos ter uma bate papo bem amistoso”, afirmou.
Qu Yuhui, ministro-conselheiro da Embaixada da China, afirmou nesta quinta à CNN que o país considera insuficientes as falas manifestadas pelo Brasil sobre o imbróglio e que o assunto é acompanhado pelas principais autoridades chinesas, incluindo o presidente Xi Jinping.
Alcolumbre se manifesta
Em isolamento domiciliar após ser diagnosticado com o novo coronavírus, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se manifestou na noite desta quinta-feira (19) a respeito do conflito entre Eduardo Bolsonaro e os representantes chineses no Brasil.
“Em nome do Senado Federal, manifesto ao povo chinês meu respeito, minha solidariedade e lamento as palavras infelizes de um parlamentar brasileiro ao presidente da China, Xi Jinping, e ao embaixador Yang Wanming”, escreveu, nas redes sociais.
Ainda na madrugada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tuitou um pedido de desculpas “pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro” à China e ao embaixador. O deputado acrescentou que “a atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia”.
“Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes”, acrescentou Maia.