Entenda o Mais Médicos, programa do Brasil citado por EUA em novas sanções
Programa tinha parceria do Brasil com Cuba, via Opas, para levar médicos onde a oferta de profissionais era escassa; sem cubanos conveniados, marca voltou com o governo Lula
O programa Mais Médicos foi a justificativa utilizada pelos Estados Unidos para, em medida política, revogar vistos de cidadãos brasileiros nesta quarta-feira (13).
Lançado em 2013, o programa nasceu com o objetivo de levar médicos para áreas onde a oferta destes profissionais era escassa ou até inexistente.
Em sua primeira fase, o Mais Médicos era composto, sobretudo, por médicos cubanos. Em 2015, dos 18,1 mil profissionais atuantes no programa, 60% vinham de Cuba, segundo o Ministério da Saúde.
Os médicos cubanos vinham ao Brasil em convênio com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que ficava responsável por repassar os valores recebidos do governo brasileiro para Cuba, como uma intermediária.
No âmbito do convênio, o governo cubano repassava aos médicos apenas parte dos valores recebidos pela Opas, ficando, assim, com parte do dinheiro direcionado pelo Brasil.
Em 2018, com a eleição do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Cuba resolveu deixar o convênio com o Brasil e a Opas para o Mais Médicos.
Na época, Cuba alegou serem “inaceitáveis” as exigências feitas pelo governo Bolsonaro, para que os médicos tivessem que passar pelo Revalida (para validar diplomas obtidos no exterior) e recebessem o salário integralmente.
Atualmente, Cuba fica com a maior parte do salário dos médicos cubanos e restringe a liberdade desses profissionais e de seus familiares. Eles estão se retirando do Mais Médicos por não aceitarem rever esta situação absurda que viola direitos humanos. Lamentável!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 14, 2018
Quando lançado, o Brasil era presidido por Dilma Rousseff (PT). O ministro da Saúde de então era o mesmo que atualmente ocupa o cargo: Alexandre Padilha.
Em comunicado sobre as sanções, o Departamento de Estado americano citou dois brasileiros: Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman (a CNN busca contato com os citados para um posicionamento).
Hoje, @SecRubio adotou medidas com o objetivo de revogar vistos e impor restrições de visto a funcionários brasileiros e ex-funcionários da Opas envolvidos no esquema de exportação de mão de obra do regime cubano, em apoio ao programa Mais Médicos do Brasil. A ação desses… https://t.co/pn0VtVuflS
— USA em Português (@USAemPortugues) August 13, 2025
Mozart Sales é o atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde e atuou na elaboração do Mais Médicos durante a primeira gestão de Padilha na pasta.
Já Kleiman, atuava na chefia do setor de relações internacionais do Ministério da Saúde em 2013. Hoje, está na organização da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas a ser realizada em Belém (COP30).
"Essas autoridades usaram a Opas com intermediária com a ditadura cubana para implementar o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, evitando as sanções dos EUA contra Cuba e pagando conscientemente ao regime cubano o que era devido aos trabalhadores médicos cubanos", acusaram os Estados Unidos
A nota dos Estados Unidos é assinada pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, que é filho de cubanos que imigraram aos EUA.
Com a saída em massa dos médicos cubanos do programa, o governo Bolsonaro substituiu o Mais Médicos pelo Médicos pelo Brasil, em 2019, priorizando a seleção de profissionais brasileiros.
Em 2023, com o presidente Lula (PT) de volta ao Poder, a marca Mais Médicos foi retomada, com o nome Mais Médicos para o Brasil — desta vez, priorizando os médicos nacionais. No momento, ambos os programas estão ativos.
As sanções mirando formuladores do Mais Médicos se juntam a outras medidas recentes dos Estados Unidos contra o Brasil, como a também revogação do visto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a aplicação de tarifas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros e a abertura de um processo para investigar práticas comerciais brasileiras.
As medidas do governo de Donald Trump são justificadas por fatores diversos, como o processo penal que coloca Bolsonaro no banco dos réus por integrar o que seria um golpe contra o resultado da eleição de 2022, decisões contra redes sociais e plataformas americanas e alegações de que serviços como o Pix desfavorecem empresas americanas.


