Lula diz que obesidade causa “tanto mal quanto a fome”; oposição critica
Fala do presidente foi dada na cerimônia de lançamento do Pronasci na quarta-feira (15)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de críticas de opositores na quarta-feira (15) após citar obesidade do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), e classificar a condição como “uma doença que causa tanto mal quanto a fome”.
Lula afirmou que a obesidade deve ser assistida pelo Estado e que Dino estaria andando de bicicleta por estar acima do peso. “[A obesidade] também é uma doença que nós precisamos cuidar”, disse o presidente na cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sobrepeso e a obesidade são definidos como acúmulo anormal ou excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde.
“A nossa médica que é ministra da Saúde sabe perfeitamente bem que a obesidade causa tanto mal quanto à fome. E por isso que o Flávio Dino está andando de bicicleta, porque ele sabe que isso vai precisar que o Estado cuide com muito carinho desse mal”, disse Lula.
Especialistas apontam que a simples associação entre obesidade e doença não é uma equação simples e não contribui efetivamente para se combater um problema que é de saúde pública.
O aumento de peso está relacionado a causas multifatoriais que vão além das opções alimentares, incluindo o contexto social, preços dos alimentos e questões genéticas.
A declaração gerou críticas nas redes sociais de opositores.
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) questionou: “Vão chamá-lo de gordofóbico também?”
Alô galerinha chata que acha obesidade lindo: o Lula falou o óbvio aqui. Vão chamá-lo de gordofóbico também? Ou vão parar de glamourizar uma doença? https://t.co/hrLgGiYYZ0
— Kim Kataguiri (@KimKataguiri) March 15, 2023
O também deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) criticou fala do presidente sobre banheiros para transexuais e que “não importa o que diz, mas quem diz”.
Lula diz que banheiro trans é invenção de satanás e que obesidade é doença e faz piada sobre. Não importa o que diz, mas quem diz. Só pra registrar mesmo. Vlw flw
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) March 15, 2023
O Movimento Brasil Livre (MBL) também criticou a postura de Lula e questionou se “vai rolar cancelamento ou ele pode [falar dessa maneira]”.
E agora? Vai rolar cancelamento ou ele pode? pic.twitter.com/EzbqCRULLc
— MBL – Movimento Brasil Livre (@MBLivre) March 15, 2023
Ao falar sobre o Pronasci no evento, Flávio Dino também havia comentado com humor sobre a sua condição.
“Um trabalhador da construção civil que tem uma bicicleta furtada não é a mesma coisa que uma pessoa que usa a bicicleta uma vez por ano para fazer atividade física. Falo de mim mesmo, como dá para notar”, disse Dino, gerando risos na plateia.
Associação entre obesidade e doença não é simples
O sobrepeso e a obesidade são definidos como acúmulo anormal ou excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a OMS, o sobrepeso e a obesidade são os principais fatores de risco para uma série de condições crônicas, incluindo problemas cardiovasculares, como doenças cardíacas e derrames, que são as principais causas de morte em todo o mundo.
Estar acima do peso também pode levar ao diabetes e suas condições associadas, incluindo cegueira, amputações de membros e necessidade de diálise. O excesso de peso pode levar a distúrbios musculoesqueléticos, incluindo osteoartrite.
A obesidade também está associada a alguns tipos de câncer, incluindo endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula biliar, rim e cólon. O risco dessas doenças aumenta mesmo quando a pessoa está apenas ligeiramente acima do peso e fica mais grave à medida que o IMC sobe.
“Não é em 100% dos casos que o aumento de peso vai significar doença. A obesidade é definida quando doença quando o aumento de peso traz algum prejuízo à saúde da pessoa”, afirma a médica endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
“Por outro lado, o aumento de peso progressivamente aumenta a mortalidade da pessoa, que é a chance dela morrer precocemente”, completa.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, afirmam que a obesidade é uma doença complexa que ocorre quando o peso de um indivíduo é superior ao considerado saudável para sua altura.
O CDC alerta que diversos fatores podem contribuir para o ganho excessivo de peso, incluindo padrões alimentares, níveis de atividade física e rotinas de sono. Determinantes sociais da saúde, genética e uso de certos medicamentos também desempenham papel relevante neste contexto.
A American Medical Association (AMA) reconheceu oficialmente a obesidade como uma doença crônica em 2013.
Preconceito e discriminação
Ao longo da história, a obesidade tem sido alvo de preconceito, discriminação e discursos que tem como base a desinformação.
Especialistas apontam que a simples associação entre obesidade e doença não é uma equação simples e não contribui efetivamente para se combater um problema que é de saúde pública.
Erroneamente, a obesidade é por vezes tratada como falta de vontade ou preguiça. No entanto, a ciência explica que o aumento de peso está relacionado a causas multifatoriais que vão além da opção alimentar.
O contexto social em que as pessoas estão inseridas, a disponibilidade e preço de alimentos in natura, o aumento da exposição aos ultraprocessados e fatores genéticos também contribuem para o excesso de peso.
De acordo com a OMS, a causa fundamental da obesidade e do sobrepeso é um desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas.
Somado a esse fator, em todo o mundo há uma maior ingestão de alimentos ricos em energia que são ricos em gordura e açúcares, aumentos na inatividade física, mudanças nos modos de transporte e aumento da urbanização que também contribuíram para o problema, destaca a OMS.
Além disso, as mudanças nos padrões alimentares e de atividade física são, muitas vezes, o resultado de mudanças ambientais e sociais associadas ao desenvolvimento e à falta de políticas de apoio em setores como saúde, agricultura, transporte, planejamento urbano, meio ambiente, processamento de alimentos, distribuição, marketing e educação.