Não há relação com Trump, e governo dos EUA não quer conversar, diz Lula

Em entrevista à BBC, Lula disse que relação do presidente americano "é com Bolsonaro, e não com o Brasil"

Da CNN Brasil*, em São Paulo
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e autoridades durante abertura da plenária Meio ambiente, COP 30 e saúde global, no BRICS, no Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ)
Lula: "Eu não tentei fazer chamada porque ele nunca quis conversar"  • Joédson Alves/Agência Brasil
Compartilhar matéria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a dizer que o governo de Donald Trump não quer estabelecer um diálogo com o Brasil em relação às tarifas comerciais aplicadas sobre exportações brasileiras aos Estados Unidos.

"Não tem relação", disse Lula ao ser questionado sobre como ele descreveria seu relacionamento de momento com o presidente americano, em entrevista à rede pública britânica BBC News e à BBC News Brasil, que foi ao ar nesta quarta-feira (17).

Na entrevista, Lula repetiu a afirmação de que "eles (governo Trump) não querem conversar". "A relação dele (Trump) é com o Bolsonaro, e não com o Brasil", destacou Lula, citando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Desde 6 de agosto, está em vigor um tarifaço de 50% dos americanos contra uma série de produtos brasileiros, como café, carne bovina, maquinário de engenharia civil, entre outros produtos que, somados, representam pouco mais da metade do que o Brasil exporta aos Estados Unidos.

O governo Trump justifica a medida por motivos diversos, como decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra redes sociais e alegações de que serviços como o Pix desfavorecem empresas americanas.

Outra motivação alegada pelo governo americano é a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi condenado na semana passada pelo que seria um plano de golpe. Para Trump, há uma "caça às bruxas" contra o aliado brasileiro.

A aplicação das tarifas também ocorre enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair, está nos EUA alegando buscar sensibilizar o governo Trump para adotar medidas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo que levou à condenação de seu pai na Corte.

Neste contexto, os Estados Unidos já aplicaram restrições de visto a Moraes e incluíram o nome do magistrado no rol de sancionados pela Lei Magnitsky, que estabelece restrições financeiras a pessoas consideradas como violadoras dos Direitos Humanos pelo mundo.

Na entrevista à BBC, Lula frisou que está aberto a "sentar em torno de uma mesa negociar" questões comerciais e de tributação. "O que não tem negociação é a questão da soberania nacional", acrescentou, se referindo ao processo judicial contra Bolsonaro.

Segundo Lula, seu governo está "há quatro meses" mostrando disposição a conversar com o governo Trump, principalmente por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).

Na entrevista, Lula citou o fato de a primeira carta de Trump falando das tarifas de 50% ter sido publicizada pela primeira vez pelas redes do presidente americano, e não por meios diplomáticos oficiais.

"Nós tentamos entrar em contato muitas vezes. Tivemos várias reuniões. Aliás, tivemos muitas reuniões com os Estados Unidos e no dia 16 de maio mandamos uma carta cobrando uma resposta das negociações que a gente tinha feito", disse.

"Eu não tentei fazer chamada porque ele nunca quis conversar", frisou Lula ao ser questionado se já teria tentado telefonar ao líder americano.

No início de agosto, Trump disse que Lula poderia ligar para ele "a qualquer momento". Lula, em resposta na época, afirmou que "sempre estivemos abertos ao diálogo".

* Publicado por Henrique Sales Barros