O desgaste do teflon de Bolsonaro e o risco de o presidente virar Dilma
A capacidade do presidente de escapar ileso de denúncias parece estar se perdendo
Pesquisas divulgadas na semana passada indicam alguns riscos para a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Além da estagnação das intenções de voto – ainda que estacionadas num patamar bem significativo -, respostas de entrevistados revelam que as sucessivas denúncias de casos de corrupção e de mau uso do dinheiro público abriram brechas na camada que impedia que esse tipo de acusação colasse na imagem do presidente.
Há muitos anos que o universo político chama de “efeito teflon” a capacidade de alguns políticos de escapar ilesos a denúncias, por mais graves que sejam – uma característica semelhante ao produto químico que impede que ovos e carnes grudem em frigideiras e panelas. O sinal de que suspeitas relacionadas a filhos de Bolsonaro, ao poder do Centrão, ao orçamento secreto e a setores de seu governo começam a ser associadas ao presidente vêm da última pesquisa Ipespe.
Eleitores ouvidos pelo instituto afirmaram que a honestidade deveria ser a principal qualidade do futuro presidente. Para esses mesmos eleitores, esta característica está mais presente no ex-presidente Lula (PT) do que em Bolsonaro – o placar, de 35% a 30%, foi favorável ao petista, que chegou a ser condenado e preso por suposto recebimento irregular de vantagens de empreiteira. Esta percepção tende a complicar o uso do mote de luta contra a corrução, um dos principais temas da campanha bolsonarista em 2018.
Pesquisas mostram também que, a exemplo de Dilma Rousseff em seus últimos meses no governo, o presidente começa a ter dificuldades para transformar em votos inciativas que buscam beneficiar parcelas relevantes da população. Nos primeiros meses de 2016 – ano em que seria afastada do Palacio do Planalto -, DIlma prorrogou a presença no pais de médicos estrangeiros, contratou mais 25 mil habitações do Minha Casa, Minha Vida, anunciou reajuste do Bolsa Família, correção da tabela do imposto de renda e ampliação da licença paternidade para funcionários públicos.
O pacote de bondades não teve qualquer consequência, não foi suficiente para manter Dilma no poder. As acusações de corrupção ao PT e a crise econômica haviam corroído a popularidade do presidente e a chamada classe política estava, em sua maioria, comprometida em levar Michel Temer e suas propostas econômicas ao poder.
Ainda é cedo para dizer que Bolsonaro “dilmou”, mas os sinais de desgaste são preocupantes para ele. Segundo o Datafolha, Lula está à frente de Bolsonaro até mesmo entre os que recebem o Auxilio Brasil, sucessor do Bolsa Família – 59% contra 20%. A reprovação ao governo por parte dessas pessoas chega a 45%, contra 19% que o aprovam.
A mesma pesquisa mostra a rejeição a temas que são caros ao presidente, como a posse de armas, 72% discordaram da ideia de que a sociedade estaria mais segura se a população andasse armada. Praticamente o mesmo percentual, 69%, não concordam com a frase “Povo armado jamais será escravizado”, um mantra de Bolsonaro.
Diferentemente do que ocorreu com Dilma, Bolsonaro tem o apoio de parte significativa e entusiasmada da população e sua base no Congresso, azeitada pelos bilhões de emendas de senadores e deputados, permanece firme. Dispõe, em tese, de maioria para aprovar medidas como as que tentem diminuir o preço dos combustíveis. A questão é saber se essas eventuais e custosas medidas terão efeito pratico e não servirão mais para corroer o cenário econômico, pressionar a inflação e irritar defensores da responsabilidade fiscal, políticos e empresários.
Capitaneados pelas lideranças do Centrão, parlamentares não querem, neste momento, saber de romper com um presidente que tem chances de ser reeleito e que lhes garante tantas verbas. Mas políticos são movidos, principalmente, pelo instinto de sobrevivência. Ainda há oxigênio disponível no Planalto, mas as próximas pesquisas indicarão a possibilidade de lideranças hoje alinhadas a Bolsonaro decidirem procurar outros ares, principalmente se for mantida a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno ou se Simone Tebet (MDB) colocar a cabeça acima da linha d’água.
Fotos – Momentos marcantes das eleições brasileiras
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Apuração de votos nas eleições de 1960 • Arquivo Nacional
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Mesários auxiliam na votação para a eleição em São Paulo • Arquivo Nacional - 27.mar.1957
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Presidente Café Filho vota nas eleições de 1955 • Arquivo Nacional - 3.out.1955
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Pessoas aguardam na fila para votar em 1954 • Arquivo Nacional - 3.out.1954
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Mulher deposita seu voto na urna nas eleições de 1954 • Arquivo Nacional - -3.out.1954
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Presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) vota nas eleições para vereadores do Distrito Federal - o Rio de Janeiro, na época - em 1947 • Arquivo Nacional - -19.jan.1947
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José Linhares, que presidiu o Brasil interinamente entre outubro de 1945 e janeiro de 1946, saindo da cabine de votação após depositar seu voto na urna em 1945 • Arquivo Nacional - 2.dez.1945
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Pioneira Almerinda Farias Gama deposita seu voto na urna na eleição de representantes classistas para a Assembleia Nacional Constituinte de 1934. Ela foi a única mulher a votar como delegada na eleição para a Constituinte • CPDOC/FGV
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Jovem eleitora deposita o voto em urna, nas eleições municipais de 1988 • Museu do Voto (TSE) - 15.nov.1988
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Presidente Juscelino Kubitschek vota nas eleições de 1958 • Museu do Voto (TSE) - 3.out.1958
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Eleitores do interior de Pernambuco aprendem a votar na urna eletrônica, para as eleições de 1998 • Museu do Voto (TSE)
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Eleitores do interior de Pernambuco aprendem a votar na urna eletrônica, para as eleições de 1998 • Museu do Voto (TSE)
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Aliados comemoram eleição de Tancredo Neves, em janeiro de 1985 • Célio Azevedo/Agência Senado - 1.jan.1985
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Eleitor insere voto em urna de metal na eleição de 1945 • Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP - 2.dez.1945
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Homem repara urnas de madeira para provável utilização na eleição de 1945 • Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP
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Abertura de urna de madeira, em uma junta apuradora do TRE/SP, na eleição de 1945 • Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP
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Eleitores aguardando o momento de adentrar a seção eleitoral, em São Paulo, na eleição de 1945 • Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP - 2.dez.1945
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Apuração de votos realizada por uma junta apuradora do TRE/RJ, na eleição de 1945 • Museu do Voto (TSE)
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Panorama de uma seção eleitoral no estado de São Paulo na eleição de 1945 • Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP - 2.dez.1945